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Memory Remains: Metallica – 26 anos de “Load”, mudanças no visual e no som e a ira dos radicais

Memory Remains: Metallica – 26 anos de “Load”, mudanças no visual e no som e a ira dos radicais

4 de junho de 2022


Em 4 de junho de 1996, o Metallica iria lançar o disco mais controverso de sua carreira até então, porque depois eles iriam lançar discos horríveis como “Reload” e “St. Anger” que só não arruinaram a carreira porque se tratava do Metallica. O Memory Remains deste sábado vai tratar de um disco que é uma dádiva, se comparado a esses outros dois citados: “Load” completa hoje 26 anos.

Na segunda metade dos anos 1990 o mundo aguardava com imensa ansiedade por um novo disco do Metallica. O sucessor do álbum preto, que fez um sucesso estrondoso e colocou a banda definitivamente entre as maiores bandas de Heavy Metal de todos os tempos, era cercado de expectativa e todos se perguntavam como seria o Metallica mainstream. Rápido como em “Master of Puppets” ou seria mantida a sonoridade limpa e mais radiofônica como no antecessor? A banda surpreendeu a todos. Para o bem e para o mal.

O radicalismo se deu tanto na som quanto no visual. Todos cortaram seus cabelos e mudaram suas vestimentas. Talvez influenciadas pelas bandas de Grunge e Post-Grunge que faziam sucesso na época. E gerou diversas acusações dos fãs, que a banda havia se vendido, que eles não eram mais como antigamente. Mas para se escutar “Load“, temos que tirar da cabeça que se trata do Metallica Thrash Metal, porque sim, é um belo álbum de Hard Rock. Mas a crise que afetou a criatividade de quase todas as bandas de Heavy Metal nos anos 1990, também atingiu o quarteto.

Após a longa turnê, os caras se reuniram em Sausalito, Califórnia, mais precisamente no The Plant. Bob Rock foi novamente contratado para a produção, mas desta vez ele não está a sozinho: James Hetfield e Lars Ulrich atuaram na co-produção. Eles ficaram trancafiados entre maio de 1995 e fevereiro de 1996, em regime de sigilo, com direito a alguns poucos shows, incluindo uma como headliner no famoso Monsters of Rock. A pequena agenda de shows recebeu o nome de “Escape From the Studio Tour” (turnê de fuga do estúdio, em livre tradução).

O álbum é bastante longo e quase tomou a capacidade suportada pelos CDs, então vamos sem mais delongas discorrer sobre as 14 faixas presentes aqui. “Ain’t my Bitch” é a faixa que abre o play e temos de cara o Metallica soando como o Motörhead, em um baita Rock and Roll. Causa estranheza sim, mas com mente aberta, a gente consegue ver coisas boas aqui. “2×4” é uma das minhas favoritas de sempre, com seus riffs Southern, com muita influência do country. Até mesmo a virada preguiçosa que Lars Ulrich dá em seu kit de bateria ficou legal na música.

The House Jack Built” é mais outra que pertence ao rol das favoritas desde redator que vos escreve. Ela também é diferente de tudo que o Metallica já fez no passado, desde o timbre das guitarras, bem rústico, até mesmo a levada. O refrão marcante e James Hetfield tem aqui talvez a sua melhor performance enquanto vocalista. “Until It Sleeps” foi o primeiro single apresentado ao público e apesar de pesada, nada tem de Heavy Metal. Mas ela é bem correta, isso não podemos negar. O clipe veiculou à exaustão na MTV na época.

Se o ouvinte tá reclamando da falta de músicas rápidas e palhetadas certeiras, não vai poder reclamar do peso, pois “King Nothing” mantém o peso e aqui quem dá o espetáculo é o baixista Jason Newsted, que foi constantemente ridicularizado pelos ex-colegas de banda e era o cara que parecia ser mais contrário a toda essa mudança, ainda que tenha sido o primeiro de todos a cortar o cabelo. A música tem seus bons momentos.

Hero of the Day” provavelmente foi a música que fez com que os fãs mais xiitas rasgassem suas camisas da banda e queimassem os discos antigos, porque a música nada tem a ver nem mesmo com as baladas que eles fizeram no passado. Isso significa que ela é uma música ruim? De forma alguma, pelo contrário até, pois é um dos grandes momentos do álbum. E o que dizer do clipe, muito bem humorado e bem sacado? Uma coisa absurdamente maravilhosa. Confira abaixo.

Bleeding me” é uma música bem deprê e a impressão que temos é a de que o Metallica tentou soar como Soundgarden ou Alice in Chains. Aqui, Lars Ulrich tem um lapso e até faz umas viradas interessantes. São mais de oito minutos de música, que meio que quebram o clima bom que o álbum vinha tendo até então. A segunda metade do play abre com “Cure” é um Hard Rock para ninguém botar defeito. Óbvio que o xiita que conheceu o Metallica Thrash Metal vai falar que é ruim. É diferente, sim, mas é uma bela música. Repetindo o que foi escrito lá acima, para escutar esse álbum precisamos desapegar de ideia de ouvir um disco rápido, sujo e pesado. Eles estão indo bem na nova empreitada.

Em “Poor Twisted me”, a banda adotou influências do Rock setentista, mas quem se destaca por aqui é James Hetfield com sua performance vocal. O fã radical pode até reclamar que o Metallica deixou de ser aquela banda genuinamente Thrash Metal, e eu concordo, mas que aqui James mostra que domina as técnicas vocais, é uma verdade. E isso ele já fazia desde o álbum preto. A faixa dez é “Wasting my Hate” e apesar de um início bem medonho, ela melhora e vira um Hard Rock bem agradável, com bons riffs de guitarra e até mesmo um certo peso. Interessante.

Mama Said” é uma linda canção, com as influências country que o Metallica sempre trouxe consigo e me arrisco a dizer que ela não deve nada a outras canções como “The Unforgiven” ou ‘Nothing Else Matters“, embora ela tenha a desvantagem de ser quase que totalmente acústica. Mas é legal ver o Metallica em voz e violão, com uma bateria suave ao fundo. “Thorn Within” tem um clima que lembra bastante o que a banda fez no “Black Album*, com guitarras bem pesadas e um timbre bem interessante.

Ronnie” tem guitarras com um clima bem Southern, cujas determinadas partes lembra algo que o Led Zeppelin fez lá nos anos 1970. Uma música legal, radiofônica até, mas eles optaram por não trabalhar nela. “The Outlaw Torn” tem mais de nove minutos e encerra de uma forma um tanto quanto melancólica um álbum que foi bem na maior parte do tempo. Lars Ulrich parece querer se auto-afirmar, enchendo a música de viradas, que ficaram estranhas.

Um álbum bastante longo, são 78 minutos que mostra uma nova faceta do Metallica. Na verdade, foi a continuação do divisor de águas iniciado cinco anos antes com o já citado “Black Album”. Era um caminho sem volta. O quarteto havia se tornado mainstream e abandonado os cabelos longos e o Heavy Metal. Ao contrário do que dizem os haters, “Load” é sim um baita disco de Rock e se fosse lançado por qualquer outra banda, seria mais elogiado. Sim, dá saudade de escutar um novo disco de Thrash Metal do Metallica, mas eles optaram em seguir outro caminho. Em minha opinião, o aniversariante é o último disco na ordem cronológica da banda que eu me permito escutar.

À época, o pessoal pegou pesado nas críticas. Desde a mudança no visual e no som, passando pela capa que retrata uma mistura bem estranha entre sangue e esperma, até mesmo acusações fortes que hoje não têm o menor sentido, sobre a orientação sexual de Lars Ulrich e Kirk Hammet. Coisas absurdas, que parecem não ter afetado a banda, que segue na ativa arrebatando multidões por onde quer que estejam e recentemente até passou pelo Brasil, com direito a um parto durante a apresentação de Curitiba.

Load vendeu bastante, é bem verdade que muitos revoltados devem ter quebrado os discos quando perceberam que não havia mais Thrash Metal ali. Foi certificado com Disco de Prata no Reino Unido, Platina na Alemanha, triplo Platina na Finlândia e cinco vezes platina nos Estados Unidos. Nos charts, poucas aparições: alcançou o topo da “Billboard 200” e nas paradas britânicas. Na Finlândia, alcançou a 43ª posição. Os singles “Ain’t my Bitch” e “Until It Sleeps” alcançaram o topo na “Billboard“.

Enfim, um álbum histórico, que foi feito para dois tipos de público: os que amam e os que odeiam. Não é o Metallica Thrash Metal genuíno, é bem verdade, mas é um baita disco de Rock. Se você ainda tem preconceito com este disco, sugiro que você separe um pouco do seu tempo para escutá-lo com a mente aberta e certamente irá se surpreender com o que eles fizeram aqui. Então vamos celebrar esse play e desejar uma longa vida ao Metallica. Que James Hetfield consiga resolver suas questões e quem sabe, um dia, a banda possa fazer um álbum à altura de sua grandiosa história.

Load – Metallica

Data de lançamento – 04/06/1996

Gravadora – Elektra

Faixas:

01 – Ain’t my Bitch

02 – 2×4

03 – The House Jack Built

04 – Until It Sleeps

05 – King Nothing

06 – Hero of the Day

07 – Bleeding me

08 – Cure

09 – Poor Twisted me

10 – Wasting my Hate

11 – Mama Said

12 – Thorn Within

13 – Ronnie

14 – The Outlaw Torn

 

Formação:

James Hetfield – vocal/ guitarra/ violão

Lars Ultich – bateria

Kirk Hammet – guitarra

Jason Newsted – baixo