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Memory Remains: Metallica – 39 anos de “Kill’em All”, a demissão de Dave Mustaine e a estreia com o pé na porta

Memory Remains: Metallica – 39 anos de “Kill’em All”, a demissão de Dave Mustaine e a estreia com o pé na porta

25 de julho de 2022


O ano de 1983 foi mágico para o mundo da música pesada como um todo: Iron Maiden e Judas Priest nos melhores momentos de suas respectivas carreiras; o Quiet Riot colocava o estilo pela primeira vez no topo da “Billboard 200“, com seu álbum “Metal Health“. O ano marca também as estreias de duas das principais bandas de Thrash Metal da história e que formariam anos depois o The Big 4: Metallica e Slayer. O Memory Remains desta segunda-feira vai tratar de “Kill’em All“, o álbum de estreia do quarteto liderado pela dupla James Hetfield e Lars Ulrich, que hoje completa 39 anos.

A data de hoje se não é a mais importante para Heavy Metal de maneira geral, ao menos é para a maior banda de Thrash Metal que o mundo já viu. E esta data é o marco zero da banda que foi pioneira no então emergente Thrash Metal, ainda que musicalmente, o Metallica não seja nem sombra do que foi nos primórdios, os caras são importantes no Metal em toda sua plenitude e gostemos ou não, eles se tornaram a banda mais bem-sucedida da história.

Mas nada disso teria acontecido se quatro jovens não tivessem dado esse pontapé inicial. E “Kill’em All” é um álbum à frente de seu tempo, pois ali, o Metallica mostrava a sua posição vanguardista, com uma sonoridade rápida, agressiva, uma combinação da NWOBHM com o Punk, ditadas pelas palhetadas de James Hetfield em companhia do recém chegado Kirk Hammet, que vinha do Exodus para substituir o problemático Dave Mustaine. A banda mostrou como diferencial também letras que eram opostas as do Hard Rock, então em evidência na época.

Sabemos dos problemas enfrentados pela banda nos meses anteriores à gravação deste disco: a relação da banda com seu guitarrista solo, Dave Mustaine, ia de mal a pior no trato entre o futuro fundador do Megadeth e os demais membros, e assim mesmo, eles viajaram da costa oeste para o leste dos Estados Unidos na busca de alguém que bancasse a gravação.

Mas durante a viagem, Dave Mustaine acabou criando mais um problema, o que foi a gota d’água e selou seu destino junto ao Metallica. Ao embarcar junto com os demais integrantes rumo a costa leste dos Estados Unidos, o cara estava tão bêbado e drogado, que simplesmente apagou. E quando acordou, ele estava… No mesmo lugar que ele havia embarcado, San Francisco. Lars e Hetfield, fartos que estavam pelos problemas causados pelo cara, embarcaram-no de volta. Óbvio que ao acordar e perceber que estava no último lugar que se lembra quando estava consciente e que não estava mais com seus agora ex-companheiros, ficou enfurecido e prometeu montar uma banda que fosse tão ou mais rápida e pesada quanto o Metallica. Ele formou o Megadeth e pode até não ter alcançado seu objetivo, mas a banda que ele formou deu ótimos frutos. Pelo menos neste momento, ainda soa Thrash Metal, ao contrário dos homenageados do dia.

Resolvido o problema do guitarrista solo, era hora de resolver outro problema: arrumar um selo que investisse na banda. Os executivos das gravadoras que recusaram-se a lançar o disco que sairia com o nome de “Metal Up In Your Ass“, hoje devem se arrepender de não ter apostado seus milhares de dólares naquela que seria a sua galinha dos ovos de ouro. Porém, um certo Johnny Zazula, impressionado com o poder de fogo do quarteto, investiu e criou um selo para lançar o álbum, que acabou sendo rebatizado, após o baixista Cliff Burton, indignado por não aceitarem o nome original do play, bradou a quem quisesse escutar: “Matem a todos” (Kill’em All).

Com o álbum rebatizado, os caras entraram no “Music America Studios“, em Nova Iorque e iniciaram as gravações das músicas que já eram conhecidas do público que conhecia e acompanhava a banda. Com produção de Paul Curcio, que havia trabalhado com Carlos Santana, eis que o primeiro disco da banda veio a ser concebido, em 17 dias de sessões e a um custo estimado de “apenas” 18 mil dólares, custo que eles hoje em dia recuperam com um Meet and Greet para vinte pessoas.

Vamos colocar a bolacha para rolar e conferir as dez músicas presentes aqui. A abertura apoteótica se dá com “Hit The Lights“, um verdadeiro petardo do Metal na época e foi a primeira composição da banda. Uma música em que você pode perceber a capacidade de tocar de maneira rápida e instintiva da banda, mesmo que a produção não tenha ajudado. “The Fourhorseman“é a música número dois e tem uma levada não tão rápida quanto a faixa anterior, mas muito interessante. A banda acabou trocando a letra e o título após a saída de Dave Mustaine, mas não tem problema: Musta lançou a versão original com um andamento mais rápido. As duas versões são ótimas, cada uma a sua maneira, mas como o redator aqui prefere andamentos mais rápidos, eu fico com “Mechanix”. Sem desmerecer essa canção aqui, que é maravilhosa.

Motorbreath“ é uma das minhas faixas preferidas deste álbum, com seus riffs cavalgados e tocados a toda velocidade. Aqui cabe outra polêmica com o Megadeth. Anos após o lançamento deste álbum, Dave Mustaine teria copiado os riffs desta música em uma composição chamada “FFF“, lançada no disco “Cryptic Writtings” (1997). De qualquer forma, eu amo as duas músicas. Intercalando uma música mais rápida e outra com andamento não tão rápido assim, temos “Jump In The Fire“, uma música que parece inofensiva, mas é bem interessante. Mais uma boa canção deste disco.

Uma “pausa” para um solo de baixo de Cliff Burton em “Anesthesia (Pulling Teeth)” e aqui temos um lado mais experimental, com acompanhamento da bateria de Lars ao final. Reza a lenda que era esta a música que Cliff tocava quando James e Lars observavam-no tocar em sua antiga banda e eles ficaram alucinados quando caíram em sí que não se tratava de um guitarrista e sim de um baixista usando o pedal “wha-wah” para distorcer o som. A banda retorna com seu som rápido e matador numa das músicas mais letais e insanas de sua carreira: “Whiplash”. Aqueles riffs de guitarras, embora ainda um tanto quanto primitivas levam o ouvinte ao delírio e a quebrada na velocidade do refrão dá o encaixe perfeito à música.

Phantom Lord” é a faixa número sete e traz uma mistura de andamentos, o início bem rápido, depois um andamento mais devagar, uns riffs mais pesados, para a volta com muita velocidade nas guitarras e Cliff Burton segurando bem a base enquanto as guitarras solam. Boa faixa.

Ross Halfin/Divulgação

A faixa a seguir, é “No Remorse“, outra das minhas prediletas deste álbum, com diversas mudanças de andamento. Para quem ainda não ouviu, recomendo que dê uma conferida na versão que o Cannibal Corpse fez, e colocou como faixa bônus escondida do álbum “Gore Obsessed“ (2002). Os caras conseguiram melhorar o que já era ótimo.

Seek & Destroy” é até hoje o hino da banda e música obrigatória no set list de suas apresentações, uma música que não tem a velocidade como característica, mas que já mostrou de cara que os caras tinham talento para compor e isso seria demonstrado nos álbuns posteriores. Uma ótima canção e com refrão que gruda mesmo, não tem jeito.

Metal Militia” fecha o álbum com chave de ouro, em uma música que privilegia os riffs e a velocidade. Muito boa. Eu conheci essa música lá nos anos 90, quando assistia ao programa “Fúria“, na antiga MTV Brasil, que um dia teve o nome “Fúria Metal“, mas este que vos escreve não chegou a pegar essa época de ouro, acompanhei só o final, na segunda metade dos anos 1990, quando o mundo tentava dizer que o Metal estava morto e retiraram o “Metal” do nome do programa. E esta música era tema de abertura do programa. Pouco tempo eu estava com o CD nas mãos, influenciado por um grande amigo meu e assim eu poderia bater cabeça ao som deste hino do Thrash Metal, com seus riffs rápidos, crus e violentos. Um ótimo final.

Depois de 51 minutos de audição, podemos concluir que tínhamos uma banda que embora crua, fazia um som honesto, inovador e que certamente influenciaria as gerações que viriam a seguir. “Kill’em All” normalmente é considerado como um dos três melhores álbuns do Metallica, isso quando não é considerado o melhor por alguns fãs mais Old-School. Um álbum irrepreensível, ótimo do início ao fim. Não há uma música ruim por aqui. É até esquisito ver os caras tocando as músicas deste play hoje em dia. Não tem o mesmo feeling que eles tinham na época.

O aniversariante de hoje demorou um bocado para figurar nas listas dos charts ao redor do mundo: a primeira aparição foi na “Billboard 200” em 1988, quando relançado pela Elektra e depois do sucesso de “Master of Puppets” (1986), alcançou a posição de número 120. Na Finlândia, o álbum alcançou a 12ª posição; na Suécia ficou em 28º; 58º na Alemanha e o relançamento de 2016 chegou a posição de número 66 na “Billboard”. Foi certificado com disco de Ouro na Alemanha e no Reino Unido, Platina no Canadá e triplo Platina nos Estados Unidos.

Em 1988, “Kill’em All” foi relançado com duas faixas bônus: as já conhecidas versões que a banda fazia para “Am i Evil?”, do Diamond Head e “Blitzkreig”, da banda homônima inglesa e que podem ser encontrados nos discos “Garage Days…Re-Revisited” (1988) ou no “Garage Inc.” (1998).

Enfim, um álbum que, apesar de a produção não ter sido tão boa e da inexperiência dos jovens em estúdio, é um grande disco que, se não é o melhor da história do Thrash Metal, foi o divisor de águas. E era somente o pontapé inicial do que seria a máquina de fazer dinheiro que se transformaria o Metallica. O resto é história.

39 anos depois, os caras seguem na ativa, fazendo shows. Recentemente eles passaram pelo Brasil e os shows foram marcados por alguns acontecimentos, como a fã que foi grávida ao show em Cuririba e deu a luz enquanto a banda tocava “Enter Sandman” ou as confissões de James Hetfield sobre seu momento pessoal, durante o show de Belo Horizonte. A banda vai se superando e nossa expectativa é de que eles voltem a fazer um disco à altura do que eles realmente são capazes de mostrar. Enquanto isso não acontece, vamos colocar esse “Kill’em All” para tocar no talo.

Kill’em All – Metallica

Data de lançamento – 25/07/1983

Gravadora – Megaforce 

 

Faixas:

01 – Hit the Lights

02 – The Four Horseman

03 – Motorbreath

04 – Jump in the Fire

05 – Pulling Teeth (Anesthesia)

06 – Whiplash

07 – Phantom Lord

08 – No Remorse

09 – Seek & Destroy

10 – Metal Militia

 

Formação:

James Hetfield – vocal/ guitarra

Kirk Hammett – guitarra

Cliff Burton – baixo

Lars Ulrich – bateria