Há 30 anos, em 27 de junho de 1995, Neil Young, tendo o Pearl Jam como banda de apoio, lançava “Mirror Ball“, o álbum de número 23 na extensa discografia do canadense que se importa com causas sociais e que é tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira.
Vamos contextualizar a reunião do Pearl Jam com a lenda canadense: em 1994, a banda de Eddie Vedder e companhia estava muito estourada, vendendo milhões de cópias de seus três álbuns lançados até então, mas a banda vivia um inferno astral: eles pararam de fazer videoclipes, passaram anos sem conversar com a imprensa e a cereja do bolo foi o boicote que a banda organizou contra a Ticketmaster, que na época, detinha praticamente a exclusividade nas vendas dos ingressos de leste ao oeste dos Estados Unidos.
Já em 1992, o Pearl Jam tocava (e segue tocando até hoje) em suas apresentações, a música “Rockin’ in The Free World”. Em outubro do mesmo ano, Pearl Jam e Neil Young se apresentaram, separadamente, durante um show em homenagem a Bob Dylan. E duas semanas depois, Neil Young convidou a banda e todos fizeram um set acústico, em um show beneficente. Em 1993, o Pearl Jam saiu como banda de abertura de Neil Young e no mesmo ano, os artistas tocaram juntos a música “Rockin’ in The Free World“, durante o MTV Video Music Awards. E aí nasceu uma amizade que segue firme até hoje. Neil Young certa vez explicou as semelhanças entre ambos os artistas. Aspas para ele:
“Somos simpáticos. Eles são definitivamente almas antigas – eles estão por aí. Musicalmente, há energia juvenil, mas sem o som da inexperiência. E nossos estilos musicais são compatíveis; é como uma grande parede de som com muitas nuances lá.”
Em janeiro de 1995, Eddie Vedder introduziu Neil Young no Rock and Roll Hall of Fame. No mesmo mês, Neil Young atendeu a um convite do Pearl Jam e compareceu a um evento beneficente do Voters for Choice – uma instituição que apoia o aborto legal e seguro – (para desespero do fã conservador, que não entende que em algumas situações, a mulher tem sim o direito de escolher não seguir com a gestação). E neste evento, Neil Young, acompanhado de sua banda de apoio, a Crazy Horse, apresentou duas canções novas: “Song X” e “Act of Love“, esta última, o Pearl Jam havia aprendido a tocar e subiu para acompanhar Neil Young e a Crazy Horse. O canadense ficou impressionado com o que viu e sugeriu que gravassem a música. Menos de duas semanas depois, estavam todos no estúdio, gravando o que viria a ser o histórico álbum.
Todos foram para o Bad Animals, estúdio de propriedade das irmãs Ann e Nancy Wilson, que fica em Seattle. A produção ficou por conta de Brendan O’Brien. À exceção das já citadas “Song X” e “Act of Love“, Neil Young escreveu todas as outras canções quando já no estúdio com o Pearl Jam. Eles passaram 4 dias gravando o álbum: 26 e 27 de janeiro, e dias 7 e 10 de fevereiro. Young falou como foi ter estado no palco com uma banda diferente.
“Gravar Mirror Ball foi como áudio verdade, apenas um instantâneo do que está acontecendo. Às vezes eu não sabia quem estava tocando. Eu estava apenas consciente dessa grande massa de som latente”.
Eddie Vedder pouco apareceu no estúdio, pois ele estava enfrentando um problema com uma pessoa que estava perseguindo-o e que sair de casa, era a coisa mais difícil que ele poderia fazer naquele momento. Sobre este caso, Vedder criou a música “Lukin“, que entrou no álbum “No Code” (1996). O frontman gravou alguns vocais adicionais e gravou as duas músicas que foram lançadas com o Nome de Pearl Jam, no EP “Merkin Ball“, ainda que os guitarristas Stone Gossard e Mike McCreaddy não tenham gravado este EP, que foi lançado em novembro de 1995. Eddie também é co-autor da letra de “Peace and Love“, a única que não é 100% escrita por Neil Young, que explicou como Eddie deu seu toque final na composição:
“No fim das contas, o que aconteceu foi que eu nunca terminei. Eddie terminou. Porque eu tinha essa melodia neste lugar. Foi uma ótima maneira de salvá-la.”
Apesar da participação efetiva da banda de Seattle, a o nome Pearl Jam não pôde aparecer na capa do álbum, devido a questões contratuais. Eles tinham contrato com a Epic, enquanto que nosso aniversariante saiu pela Reprise, que era a gravadora com a qual Neil Young tinha contrato na época. Apesar disso, todos os músicos são devidamente creditados na parte de dentro do encarte.
Bolacha rolando, temos um belo álbum onde Neil Young nos brindam com um Rock cru, quase que de garagem. São onze canções, em 55 minutos de duração. Os grandes destaques são as faixas “Song X“, “Act of Love” (essas duas tratam sobre o aborto, tema que Young considera bastante difícil de lidar), “I’m the Ocean“, “Big Green Company“, “Downtown” e “Peace and Love“. É um disco bem agradável de se escutar e mostra o quão versáteis os músicos do Pearl Jam podem ser. As músicas são tão simples, que até mesmo o mediano baterista Jack Irons não comprometeu.
A crítica especializada teceu alguns elogios ao álbum, ainda que um ou tudo veículo tenha criticado, principalmente, a participação do Pearl Jam no projeto. “Mirror Ball” esteve presente em alguns charts pelo mundo: foi 2° na Noruega, 3° na Suécia, 4° na Austrália, Canadá e Reino Unido, 5° na “Billboard 200“, 8° na Alemanha, 10° na Nova Zelândia, 11° na Finlândia, 15° na Áustria, 18° nos Países Baixos e 24° na Suiça. Foi certificado com Disco de Prata no Reino Unido e Disco de Ouro nos Estados Unidos. Apesar de ter vendido mais de 150 mil cópias na Alemanha, acabou não recebendo certificação por lá.
Em agosto de 1995, Neil Young e o Pearl Jam, sem Eddie Vedder, saíram para uma turnê de onze shows. Brendan O’Brien também participou tocando teclado. Eles tocaram em cidades como Berlim, Jerusalém e Dublin, esta última apresentação foi gravada, mas que nunca foi lançada. O empresário de Neil Young, Elliot Roberts, disse que considerou a turnê um sucesso e disse ter sido uma das maiores excursões que eles já haviam realizado. Em 1996, o álbum recebeu três indicações ao Grammy Awards: “Downtown” foi indicada como “Melhor Canção de Rock“; “Peace and Love“, foi indicada como “Melhor Performance Masculina de Rock“. Ambas as músicas ganharam videoclipes. E o autor da capa do álbum, Gary Burden, foi indicado por sua arte.
Hoje é dia de celebrar esse belo álbum, que envelhece muito bem. Vamos também agradecer por ter um artista tão talentoso e preocupado com as causas sociais, coisa que falta em muitos que se metem com o Rock, que nasceu contestador, contra a classe dominante. O canadense segue em plena atividade e de vez em quando, se encontram para tirar um som.
Mirror Ball – Neil Young & Pearl Jam
Data de lançamento – 27/06/1995
Gravadora – Reprise
Faixas:
01 – Song X
02 – Act of Love
03 – I’m the Ocean
04 – Big Green Country
05 – Truth be Known
06 – Downtown
07 – What Happened Yesterday
08 – Peace and Love
09 – Throw Your Hatred Down
10 – Scenery
11 – Fallen Angel
Formação:
Neil Young – vocal/ guitarra/ violão/ órgão
Stone Gossard – guitarra
Mike Mccreaddy – guitarra
Jeff Ament – baixo
Jack Irons – bateria
Participações especiais:
Eddie Vedder – vocal em “Peace and Love”/ vocais adicionais
Brendan O’Brien – guitarra/ piano/ backing vocal