Memory Remains

Memory Remains: Nevermore – 22 anos de “Enemies of Reality” e a equivocada escolha do produtor

29 de julho de 2025


No último sábado, nós falamos sobre os 20 anos de This Godless Endeavor. Três dias depois, tem Nevermore mais uma vez aqui no nosso Memory Remains: vamos falar sobre “Enemies of Reality“, o quinto álbum da banda de Seattle, que foi lançado há exatos 22 anos, em 29 de julho de 2003.

Enemies of Reality” tinha a difícil missão de se manter no mesmo nível do melhor trabalho da banda, que foi o seu antecessor , “Dead Heart in a Dead World”. Mas as coisas quase deram errado. Tudo porque a banda resolveu mexer no time que estava vencendo.

Tudo conspirava a favor da banda de Warrel Dane e Jeff Loomis: ótimo disco lançado e excelente recepção, tanto da crítica quanto do público; turnê extensa passando por lugares jamais visitados pela banda, Brasil inclusive, em 2001, que teve o Krisiun como banda de abertura. Era a hora de escrever novas músicas e continuar subindo, mas aí a banda errou a mão: escolheu um produtor nada familiarizado com o Heavy Metal, Kelly Gray.

Kelly Gray é natural de Seattle, assim como os membros do NM e havia sido guitarrista do Queensryche. No entanto, sua experiência era muito, mas muito pequena. E pegar uma banda com a sonoridade bastante complexa, foi um erro brutal. De ambas as partes. Porque aquela altura do campeonato, o mais correto seria manter Andy Sneap cuidando das gravações ou procurar um produtor ainda melhor. O resultado foi tenebroso e embora as músicas sejam ótimas e Ainda mais pesadas e raivosas, o ouvinte não consegue identificar os instrumentos, está tudo muito embolado e a experiência de ouvir a versão original do álbum não é nada boa. Kelly Gray era apenas o cara errado na hora errada.

Pois então a banda, na época um quarteto (Jeff Loomis se encarregou de fazer todas as guitarras em estúdio), adentrou ao “House of Rock and Metalworks”, estúdio localizado em Seattle. O clima na banda não era dos melhores, devido a pressão da Century Media pela renovação do contrato antes de encerrar o vínculo que estava em vigor, e como os caras não aceitaram, o selo reduziu drasticamente o investimento. Warrel Dane reconheceu em uma entrevista que esta animosidade certamente deixou o disco mais raivoso.

A arte de capa é digna de aplausos, e é assinada pelo excelente Travis Smith. Ele estava fazendo o terceiro trabalho seguido com o Nevermore, já que as capas de “Dreaming Neon Black” e “Dead Heart in a Dead World” foram feitas por ele, que retornaria a fazer a capa de “The Obsidian Conspiracy“, que até o presente momento é o último álbum do Nevermore.

Nosso aniversariante foi dedicado à memória de Chuck Schuldiner, que havia falecido em 2001. Ambas as bandas excursionaram juntas em 1996, quando uma amizade entre os integrantes nasceu. Warrel Dane chegou a ser convidado para cantar no projeto de Chuck, o Control Denied, mas Warrel não teve tempo em sua agenda. Ambos morreram na mesma data, 13 de dezembro, separados por 16 anos. Eis a dedicatória no encarte do álbum:

“This record is dedicated to Chuck [Schuldiner]. Let the metal flow into eternity (este álbum é dedicado à Chuck [Schuldiner]. Deixe o Metal fluir para a eternidade)”.

Enemies of Reality” traz uma banda muito nervosa, é o disco mais pesado e brutal do Nevermore. As partes melódicas e Progressivas ainda estão bem presentes, mas aqui as guitarras falam ainda mais alto. O álbum tem 9 faixas e 40 minutos, com destaques para a faixa-título, “Ambivalent“, “Never Purify“, “Tomorrow Turned Into Yesterday“, “I, Voyager“, “Create the Infinite” e “Seed Awakening“. Os quatro integrantes tiveram performances bastante acima da média em nosso aniversariante.

Em 2005, Andy Sneap foi chamado para tentar consertar o estrago feito por Kelly Gray. Ele levou as gravações para o seu estúdio, o Backstage Studios, e conseguiu deixar o álbum com uma qualidade melhor do que o originalmente concebido. Essa versão conta com três videoclipes como bônus: “Enemies of Reality“, “I, Voyager” e uma versão ao vivo para “Enemies of Reality“, tocada em Wacken no ano de 2004. A versão remixada também ganhou uma capa diferente, com fundo preto. Abaixo, o caro leitor pode ver a capa da nova versão.

Sobre a faixa “I, Voyager“, o saudoso Warrel Dane lembrava que esta seria uma das músicas mais difíceis de ser tocada ao vivo, e contou que a banda chegou a colar as cifras da música nas paredes do estúdio e que Van Williams chegou a questionar como eles tocariam ao vivo. Mas o tempo mostrou que eles conseguiriam tocar, digamos, até com certa facilidade.

Enemies of Reality” chegou ao 87º lugar nas paradas de sucesso dos Países Baixos, e em 130º na França. Apesar da produção sofrível, os críticos valorizaram a qualidade das composições. Entre os fãs, o álbum é um tanto quanto subestimado, apesar de ter um dos maiores hits da história da banda, que é a música “I, Voyager“. A banda caiu na estrada e Steve Smyth foi chamado para fazer a segunda guitarra.

O título do álbum foi retirado do filme “eXistenZ“, de David Croenberg. E Dane explicou que um dos personagens do filme, em determinado momento fala “Maybe we’re just the enemies of reality“, e que isso ficou grudado em sua mente. Da mesma forma que anos mais tarde, ele ficaria fixado com o nome da casa paulistana “Madame Satã” e escreveria uma letra com este título, em seu álbum solo, lançado postumamente, “Shadow Work” (2018).

Hoje é dia de celebrar esse belo álbum, que vai envelhecendo bem, obrigado. Para surpresa de todos, Jeff Loomis deixou o Arch Enemy e se juntou com Van Williams para reativar o Nevermore. O site oficial da banda já está em funcionamento e eles realizaram audições para escolher o novo vocalista, um baixista e mais um guitarrista. Eles prometeram novidades para este ano ainda, vamos aguardar.

Enemies of Reality – Nevermore

Data de lançamento – 29/07/2003

Gravadora – Century Media

 

Faixas:

01 – Enemies of Reality

02 – Ambivalent

03 – Never Purify

04 – Tomorrow Turned into Yesterday

05 – I, Voyager

06 – Create the Infinte

07 – Who Decides

08 – Noumenon

09 – Seed Awakening

 

Formação:

Warrel Dane – vocal

Jeff Loomis – guitarra

Jim Sheppard – baixo

Van Williams – bateria