No último sábado, nós falamos sobre os 20 anos de This Godless Endeavor. Três dias depois, tem Nevermore mais uma vez aqui no nosso Memory Remains: vamos falar sobre “Enemies of Reality“, o quinto álbum da banda de Seattle, que foi lançado há exatos 22 anos, em 29 de julho de 2003.
“Enemies of Reality” tinha a difícil missão de se manter no mesmo nível do melhor trabalho da banda, que foi o seu antecessor , “Dead Heart in a Dead World”. Mas as coisas quase deram errado. Tudo porque a banda resolveu mexer no time que estava vencendo.
Tudo conspirava a favor da banda de Warrel Dane e Jeff Loomis: ótimo disco lançado e excelente recepção, tanto da crítica quanto do público; turnê extensa passando por lugares jamais visitados pela banda, Brasil inclusive, em 2001, que teve o Krisiun como banda de abertura. Era a hora de escrever novas músicas e continuar subindo, mas aí a banda errou a mão: escolheu um produtor nada familiarizado com o Heavy Metal, Kelly Gray.
Kelly Gray é natural de Seattle, assim como os membros do NM e havia sido guitarrista do Queensryche. No entanto, sua experiência era muito, mas muito pequena. E pegar uma banda com a sonoridade bastante complexa, foi um erro brutal. De ambas as partes. Porque aquela altura do campeonato, o mais correto seria manter Andy Sneap cuidando das gravações ou procurar um produtor ainda melhor. O resultado foi tenebroso e embora as músicas sejam ótimas e Ainda mais pesadas e raivosas, o ouvinte não consegue identificar os instrumentos, está tudo muito embolado e a experiência de ouvir a versão original do álbum não é nada boa. Kelly Gray era apenas o cara errado na hora errada.
Pois então a banda, na época um quarteto (Jeff Loomis se encarregou de fazer todas as guitarras em estúdio), adentrou ao “House of Rock and Metalworks”, estúdio localizado em Seattle. O clima na banda não era dos melhores, devido a pressão da Century Media pela renovação do contrato antes de encerrar o vínculo que estava em vigor, e como os caras não aceitaram, o selo reduziu drasticamente o investimento. Warrel Dane reconheceu em uma entrevista que esta animosidade certamente deixou o disco mais raivoso.
A arte de capa é digna de aplausos, e é assinada pelo excelente Travis Smith. Ele estava fazendo o terceiro trabalho seguido com o Nevermore, já que as capas de “Dreaming Neon Black” e “Dead Heart in a Dead World” foram feitas por ele, que retornaria a fazer a capa de “The Obsidian Conspiracy“, que até o presente momento é o último álbum do Nevermore.
Nosso aniversariante foi dedicado à memória de Chuck Schuldiner, que havia falecido em 2001. Ambas as bandas excursionaram juntas em 1996, quando uma amizade entre os integrantes nasceu. Warrel Dane chegou a ser convidado para cantar no projeto de Chuck, o Control Denied, mas Warrel não teve tempo em sua agenda. Ambos morreram na mesma data, 13 de dezembro, separados por 16 anos. Eis a dedicatória no encarte do álbum:
“This record is dedicated to Chuck [Schuldiner]. Let the metal flow into eternity (este álbum é dedicado à Chuck [Schuldiner]. Deixe o Metal fluir para a eternidade)”.
“Enemies of Reality” traz uma banda muito nervosa, é o disco mais pesado e brutal do Nevermore. As partes melódicas e Progressivas ainda estão bem presentes, mas aqui as guitarras falam ainda mais alto. O álbum tem 9 faixas e 40 minutos, com destaques para a faixa-título, “Ambivalent“, “Never Purify“, “Tomorrow Turned Into Yesterday“, “I, Voyager“, “Create the Infinite” e “Seed Awakening“. Os quatro integrantes tiveram performances bastante acima da média em nosso aniversariante.
Em 2005, Andy Sneap foi chamado para tentar consertar o estrago feito por Kelly Gray. Ele levou as gravações para o seu estúdio, o Backstage Studios, e conseguiu deixar o álbum com uma qualidade melhor do que o originalmente concebido. Essa versão conta com três videoclipes como bônus: “Enemies of Reality“, “I, Voyager” e uma versão ao vivo para “Enemies of Reality“, tocada em Wacken no ano de 2004. A versão remixada também ganhou uma capa diferente, com fundo preto. Abaixo, o caro leitor pode ver a capa da nova versão.
Sobre a faixa “I, Voyager“, o saudoso Warrel Dane lembrava que esta seria uma das músicas mais difíceis de ser tocada ao vivo, e contou que a banda chegou a colar as cifras da música nas paredes do estúdio e que Van Williams chegou a questionar como eles tocariam ao vivo. Mas o tempo mostrou que eles conseguiriam tocar, digamos, até com certa facilidade.
“Enemies of Reality” chegou ao 87º lugar nas paradas de sucesso dos Países Baixos, e em 130º na França. Apesar da produção sofrível, os críticos valorizaram a qualidade das composições. Entre os fãs, o álbum é um tanto quanto subestimado, apesar de ter um dos maiores hits da história da banda, que é a música “I, Voyager“. A banda caiu na estrada e Steve Smyth foi chamado para fazer a segunda guitarra.
O título do álbum foi retirado do filme “eXistenZ“, de David Croenberg. E Dane explicou que um dos personagens do filme, em determinado momento fala “Maybe we’re just the enemies of reality“, e que isso ficou grudado em sua mente. Da mesma forma que anos mais tarde, ele ficaria fixado com o nome da casa paulistana “Madame Satã” e escreveria uma letra com este título, em seu álbum solo, lançado postumamente, “Shadow Work” (2018).
Hoje é dia de celebrar esse belo álbum, que vai envelhecendo bem, obrigado. Para surpresa de todos, Jeff Loomis deixou o Arch Enemy e se juntou com Van Williams para reativar o Nevermore. O site oficial da banda já está em funcionamento e eles realizaram audições para escolher o novo vocalista, um baixista e mais um guitarrista. Eles prometeram novidades para este ano ainda, vamos aguardar.
Enemies of Reality – Nevermore
Data de lançamento – 29/07/2003
Gravadora – Century Media
Faixas:
01 – Enemies of Reality
02 – Ambivalent
03 – Never Purify
04 – Tomorrow Turned into Yesterday
05 – I, Voyager
06 – Create the Infinte
07 – Who Decides
08 – Noumenon
09 – Seed Awakening
Formação:
Warrel Dane – vocal
Jeff Loomis – guitarra
Jim Sheppard – baixo
Van Williams – bateria