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Memory Remains: Overkill – 30 anos de “Horroscope”, uma verdadeira aula de thrash metal old school

Memory Remains: Overkill – 30 anos de “Horroscope”, uma verdadeira aula de thrash metal old school

3 de setembro de 2021


Há exatamente três décadas, o Overkill lançava “Horroscope“, o quinto e mais bem sucedido álbum dos veteranos oriundos de New Jersey e que é tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira.

A banda vinha de dois excelentes álbuns: “Under the Influence” (1988) e “The Years of Decay” (1989), este último marcou presença na “Billboard“. O aniversariante do dia veio para cravar novas marcas na carreira da banda, se firmando como um verdadeiro clássico do Thrash Metal.

Porém, nem tudo foram flores durante o processo de composição de “Horroscope“: o guitarrista Bobby Gustafson, que estava na banda há algum tempo e era responsável pelas composições, desentendeu-se com o baixista D.D. Verni e por isso, deixou a banda. A saída foi passar a usar uma dupla de guitarristas, sendo o outrora roadie de Gustafson, Rob Cannavino efetivado e do Fight or Fear, veio Merritt Gant.

Assim sendo, o novo quinteto enclausurou-se entre os meses de março e abril de 1991, no “Carriage House Studios“, em Stamford, Connecticut, sob a batuta do produtor Terry Date, tendo a própria banda atuando na co-produção. O resultado é o que iremos dissertar a partir das linhas abaixo:

Coma” é a faixa que abre o play, com sua intro bem longa, que varia entre o de suspense e o épico, para depois entrarem os riffs matadores da nova dupla de guitarra, que não só mantém o nível, como supera o que a banda havia feito nos discos anteriores. Um Thrash Metal potente e genuíno. Belo início. “Infectious” começa com os arrebatadores bumbos duplos de Sid Falck e a música vai se desenvolvendo no clima do Thrash Metal oitentista. As palhetadas são o carro-chefe por aqui e é impossível o ouvinte permanecer inerte com tanto poderio sonoro.

A sequência matadora prossegue com a poderosa “Blood Money“, que é capitaneada pelos riffs insanos da dupla Rob Cannavino e Merritt Gant, mostrando que a banda estava afiada e que só havia coisas a se comemorar. E não há como negar que eles beberam na fonte de um certo “Kill’em All“. Influência melhor não há. Eles souberam escolher bem em quem iriam se espelhar,

A seguir, o hino da banda, “Thanx for Nothin“, a primeira música do Overkill que eu particularmente conheci. Ela já traz estrofes com predominância do Groove Metal, aumentando a velocidade no refrão, velocidade essa que motiva aquele moshpit. Aquele moshpit que eu, você e toda a torcida do Flamengo sentimos falta durante essa pandemia interminável, que nos impede de irmos aos shows e entrar na roda como se não houvesse amanhã.

Divulgação/Nuclear Blast Records

Bare Bones” tem uma intro bem medonha, com um piano, o que nos faz pensar que colocaram uma música de King Diamond por engano. Logo logo a quebradeira chega com tudo e a música se desenvolve com muita fúria, alternada com certa dose de velocidade, com um solo à lá Kreator são os destaques.

A faixa título anuncia que chegamos à metade final do play e traz um clima bem sombrio na sua intro em uma música onde os caras tiraram o pé do acelerador de maneira bem brusca, priorizando o peso, dando espaço para que os caras demonstrem muito feeling, sobretudo no solo de guitarra fenomenal.

New Machine” mantém o mesmo clima arrastadão da faixa anterior, só que essa faixa é mais densa e mostra um Sid Falck insano com viradas sensacionais em seu kit de bateria. Chega “Frankenstein“, o cover improvável de Edgard Winter, sim, o irmão de Johnny Winter. A faixa, totalmente instrumental mostra a versatilidade dos músicos, fazendo uma excelente versão Rock and Roll e mostrando que eles não ficam presos apenas à palhetadas rápidas do Thrash Metal.

Após uma trégua, o vigoroso Thrash Metal retorna com gás total em “Live Young, Die Free“, que é veloz, pesada e muito oitentista, com um belo solo. “Nice Day… for a Funeral“, a faixa mais longa do play, com mais de seis minutos, traz os melhores riffs de todo o registro, em uma canção que se não é rápida como a maioria, é muito pesada, sobretudo nas partes mais arrastadas. É um baita son para ninguém botar defeito.

Os riffs iniciais de “Soultitude“, a faixa derradeira, estão interligados ao final da faixa anterior e o que temos aqui é uma canção com bastante melodia, mais puxada para o Heavy Metal tradicional. Ótimo clima e assim o disco se encerra com toda a pompa possível.

Depois de 53 minutos temos um disco espetacular, que além de ter feito o Overkill ficar conhecido fora dos Estados Unidos, pode ser utilizado como um belo exemplo de como se fazer um disco de Thrash Metal: pesado, bem executado e que define bem o estilo. A produção, claro, ajudou muito, mas de nada adiantaria se a qualidade das músicas não fosse ímpar. É um disco que você chega ao final querendo escutar de novo, de novo e de novo.

Durante a turnê do disco, no ano de 1992, após sofrer um acidente automobilístico, o baterista Sid Falck deixou a banda, sendo substituído por Tim Mallare, vindo do MOD, fazendo com que desta maneira, ficassem apenas o vocalista Bobby Elisworth e o baixista D.D. Verni como os únicos membros originais e que permanecem juntos até os dias atuais.

A banda produziu dois videoclipes para a divulgação do álbum: “Thanx for Nothin” e também para a faixa título, que veiculadas na “Headbangers Ball“, a versão Fúria Metal da MTV estadunidense, o que com certeza ajudou a alavancar a popularidade do quinteto, que já fazia por merecer há alguns anos e acabou conseguindo com esse verdadeiro petardo

Horroscope” alcançou a posição de número 29 na categoria “Heatseekers“, da badalada “Billboard“. Até 2010, era o disco mais vendido de toda a carreira da banda, somando 120 mil cópias somente nos Estados Unidos. No ano de 2013, o site Whatculture compilou uma lista chamada “Os 10 melhores álbuns de Thrash Metal de todos os tempos” e o aniversariante ficou na honrosa 4ª posição, o que não é nenhum absurdo.

É meio cruel quando se cria um termo Big 4 para designar 4 bandas apenas do Thrash Metal, ainda que elas sejam as mais influentes ou as que mais sobressaíram, porque soa como uma injustiça para com bandas como o Overkill, que certamente é um dos expoentes desse estilo que tanto amamos.

Enfim, o novo trintão da cena, com corpinho de 20 está aí, envelhecendo bem e ficando como legado para as novas gerações terem acesso à nata do Thrash Metal. Há excelentes bandas do estilo na cena e o Overkill certamente é uma das maiores. Os caras já estão se movimentando para o retorno aos palcos no exterior, pois lá, aí contrário daqui do Brasil, não há tantos governantes genocidas, negacionistas e lá, alguns deles tratam a imunização de forma séria. Infelizmente, aqui ainda vai demorar um pouco para que as bandas possam voltar a desembarcar aqui e nos fazer ter momentos de alegria ao vê-los em cima dos palcos. Para a nossa sorte, o Overkill segue na ativa. Então desejamos longa vida aos caras e assim que essa bagunça acabar, certamente iremos testemunhar o caos sonoro que eles provocam. Enquanto isso, nada melhor do que botar esse discaço para tocar. No talo.

Horroscope – Overkill
Data de lançamento – 03/09/1991
Gravadora – Megaforce/Atlantic

Faixas:
01 – Coma
02 – Infectious
03 – Blood Money
04 – Thanx for Nothin
05 – Bare Bones
06 – Horroscope
07 – New Machine
08 – Frankenstein
09 – Live Young, Die Free
10 – Nice Day… for a Funeral
11 – Soulitude

Formação:
Bobby “Blitz” Elisworth – vocal
D.D. Verni – baixo
Rob Cannavino – guitarra
Merritt Gant – guitarra
Sid Falck – bateria