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Memory Remains: Pantera – 27 anos de “Far Beyond Driven” e a violência  forma de música

Memory Remains: Pantera – 27 anos de “Far Beyond Driven” e a violência forma de música

22 de março de 2021


Em 22 de março de 1994, o Pantera lançava um de seus discos mais brutais, o maravilhoso “Far Beyond Driven“. E é sobre ele que iremos dissertar no nosso Memory Remains, já que este é um dos melhores discos da década de 90 e marcou toda uma geração, inclusive este redator que vos escreve.

A banda vinha de um grande sucesso do álbum anterior, “Vulgar Display of Power” e a fase dos caras era excelente. Porém, eles resolveram transformar o que já era bom em algo bom e brutal. Então todos se juntaram ao parceiro de longa data, Terry Date, para a produção e foram para Nashville, no Tennenssee, de onde saíram com uma pedrada.

Oficialmente, este era o sétimo registro de estúdio da banda, o quarto com Phil Anselmo e em minha modesta opinião, se trata do terceiro disco de carreira da banda, uma vez que considero os lançamentos anteriores ao “Cowboys From Hell” como sendo de um Pantera completamente diferente. Tanto que já nos anos 90, a banda simplesmente ignorava as músicas de outrora em seus shows.

E aqui em “Far Beyond Driven”, o massacre sonoro se dá do início até o (quase) fim, uma vez que eles resolveram ter um pouco de piedade dos nossos ouvidos ao incluírem a calma “Planet Caravan“, do Black Sabbath para fechar o álbum e sobre ela falarei ao final, pois iremos destrinchar faixa por faixa, como o leitor já está acostumado.

As quatro primeiras faixas são um terrorismo sonoro, uma superando a outra: primeiro com “Strenght Beyond Strenght” que começa com Anselmo berrando horrores e o restante da banda o acompanhando na velocidade da luz, com aquela pausa no meio da música cheio de peso e groove e o que é melhor, a banda não tinha uma guitarra base enquanto Dimebag solava, então, o “abacaxi” sobrava para Rex Brown, que cobria o “espaço” com muita maestria. Um ótimo começo.

“Becoming” não é tão rápida quanto a música de abertura, mas é outro petardo, com muito peso, groove e feeling. Os efeitos que Dimebag utiliza na sua guitarra são sensacionais e isso deixou a música ainda mais brutal. Uma música que já nasceu clássica.

“5 Minutes Alone” é peso, destruição e mais groove, uma das minhas músicas preferidas de toda a carreira do Pantera. Se é que é possível eleger uma lista com as melhores músicas da banda. Aqui não dá para escolher a performance de nenhum deles como sendo a melhor, todos estão no mesmo patamar, embora, assistindo ao videoclipe oficial, a impressão é de que Dimebag está acima dos outros no quesito performance.

“I’m Broken” mantém o peso das faixas anteriores, mas a cadência dela, mais grooveada e um andamento mais devagar me faz elegê-la a número um deste disco. Uma música maravilhosa, onde os quatro integrantes mostram um entrosamento mais que perfeito.

“Good Friends and a Bottle of Pills” é quase que uma introdução para a faixa seguinte, é um tanto quanto medonha. Mas aqui, o termo “medonha” não é para diminuir a música, e sim para dizer que o clima dela causa medo mesmo. A bateria de Vinnie Paul e o baixo de Rex Brown brilham, enquanto Anselmo berra horrores para no final balbuciar uma frase marcante: “I told you/I told you, motherfucker“. Sensacional.

“Hard Lines and Sunken Cheeks” vem com um clima bem denso, mas o peso se faz presente. É a faixa mais longa do disco e isso explica as mudanças de andamento e aqui Dimebag Darrell brilha, tendo um de seus momentos mais altos na carreira enquanto tocava este solo.

“Slaughtered” é outra das minhas favoritas deste disco, uma música brutal, raivosa, onde brilha aqui a pegada grooveada de Vinnie Paul, embora todos os outros não fiquem muito atrás, muito menos o irmão de Vinnie, Dimebag, que protagoniza uma bela disputa entre bateria e guitarra, quem é mais poderoso aqui? Não sei responder, tudo que posso dizer que quem ganha com isso é o ouvinte.

 

“25 Years” chega e é um tremendo sonzão, com direito a especialidade da casa: groove, sobretudo de Vinnie Paul. Posso afirmar categoricamente que esta foi sua melhor performance em um disco do Pantera. Mas no final, esta música cresce ainda mais, aumentando a sensação de prazer ao ouvinte.

 

“Shedding Skin” não chega a ser uma música ruim, mas destoa um pouco das demais. Não costumo pular a música, afinal, é um crime em se tratando de um disco do Pantera. E ela é bem elaborada, bem executada, sem erro nenhum, é só questão de preferência mesmo, ela não é das minhas favoritas, mas deixo a bolacha rolando.

 

“Use My Third Arm” traz as coisas de volta aos seus lugares, com a brutalidade de volta. Que música violenta, os riffs são hipnotizantes, Dimebag estava realmente inspirado quando compôs as linhas desta música. A parte triste é que o disco está chegando ao final…

 

“Throes of Rejection” começa com o excelente entrosamento da cozinha, o baixo pesadíssimo de Rex e as batidas, podemos dizer, tribais, de Vinnie Paul. Com as guitarras de Dimebag para apagar o fogo jogando gasolina. E para completar tudo, os berros insanos de Phil Anselmo.

 

E ai para não dizer que Anselmo não cantou com sua voz limpa, eis o cover para “Planet Caravan“, do Black Sabbath que nada mais é do que um “descanso” aos nossos ouvidos, depois de quase uma hora de pancadaria sonora e das boas…Então é um momento de relaxar e curtir a versão que eles fizeram para a mãe das mães de todas as bandas de Metal. E terminar a audição com aquele gostinho de quero mais.

 

A versão japonesa deste lançamento conta com o cover da banda Poison Idea, “The Badge“, que acabou entrando pouco tempo depois na trilha sonora do filme “O Corvo“.

 

A minha relação com este álbum é pra lá de especial, como o caro leitor pôde ter percebido ao ler a crônica de faixa por faixa. Conheci o disco através de um grande amigo, lá pelo ano de 1997, se não me engano. Nesta época eu ainda estava flertando com o Metal, mas já curtia muito o “Vulgar Display” e lembro que pirei ao escutar este disco, de tão brutal que ele é. Anos depois eu adquiri uma cópia e este disco, como os outros que eu costumo chamar de “A Santíssima Trindade” (que são o “Vulgar” e o “Trendkill” – N do R: o “Cowboys” também, mas este, no meu gosto, em menor escala) são itens obrigatórios no cartão micro SD do meu smartphone. A qualquer momento, me dá aquele estalo de escutar Pantera e eu vou em um destes três álbuns.

 

“Far Beyond Driven” alcançou o primeiro lugar na lista da Billboard, sendo a primeira banda de Metal a alcançar tal feito. O álbum também teve a sua capa original censurada, pois a imagem continha uma broca encaixada no ânus de uma mulher, sendo esta trocada pela capa que conhecemos, com a broca enterrada em um crânio humano.

 

Com este álbum, a banda se tornou gigante, mas foi uma coisa que a banda não conseguiu gerir, talvez Phil Anselmo, que foi o grande pivô da separação da banda, anos mais tarde. E o Pantera teve a faca e o queijo na mão para se tornar um “mainstream” do estilo, já que o Metal andou um pouco em baixa nesta década, com campanha fortíssima da MTV insistindo que o Metal estava morto, porém, os quatro texanos, juntamente com o Sepultura mostraram justamente o contrário do que bandas como Metallica ou o Iron Maiden que não estiveram assim tão em evidência.

 

Foi na turnê deste álbum que a banda fez, em minha opinião, a melhor performance ao vivo de sua história, no lendário festival Monsters of Rock, em Donnington Park, Inglaterra. E foi também nesta turnê que a banda esteve no Brasil, inclusive fazendo um show na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1995, que eu não fui e hoje me arrependo amargamente, mesmo com relatos de amigos meus que foram de que o show não foi legal, de que terminou antes do previsto, que Anselmo havia se cortado com uma garrafa de vidro, enfim, foi a primeira e única oportunidade que eu tive de ver uma das minhas três bandas favoritas em ação e eu não fui. E meu sonho acabou sendo sepultado junto com o corpo de Vinnie Paul (sim, senhores, eu era um dos que estavam iludidos em poder presenciar uma turnê do Pantera com Zakk Wylde na guitarra, fazendo uma justa homenagem ao amigo Dimebag Darrell).

 

Toda essa frustração me faz amar ainda mais e mais não só a banda, mas este disco, que envelhece bem, obrigado! Que estará sempre entre os meus favoritos, e eu me vejo velhinho, escutando com o volume no talo. Vamos celebrar, pois se trata de um clássico comemorando seus 27 anos e independente de qualquer coisa, esse disco envelhece e o faz muito bem.

Far Beyond Driven – Pantera

Data de lançamento – 22/03/1994

Gravadora – EastWest

 

Faixas:

01 – Strenght Beyond Strenght

02 – Becoming

03 – 5 Minutes Alone

04 – I’m Broken

05 – Good Friends and a Bottle of Pills

06 – Hard Lines and Sunken Cheeks

07 – Slaughtered

08 – 25 years

09 – Shedding Skin

10 – Use My Third Arm

11 – Throes of Rejection

12 – Planet Caravan

 

Formação:

Phil Anselmo – Vocal

Dimebag Darrell – Guitarra

Rex Brown – Baixo

Vinnie Paul – Bateria