Memory Remains

Memory Remains: Pearl Jam – 25 anos de “Binaural” e a nova experiência de gravação

16 de maio de 2025


Há 25 anos, em 16 de maio de 2000, o Pearl Jam lançava “Binaural“, o sexto álbum de sua discografia e que é tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira.

O álbum marca a estreia do baterista Matt Cameron no estúdio com a banda. Ele, que havia entrado em 1999 no lugar de Jack Irons, já havia tocado no álbum ao vivo “Live on Two Legs“, que registrou shows da turnê do álbum antecessor, “Yield“. E a formação tem se mantido estável desde então.

Para batizar o álbum, a banda se inspirou em uma técnica musical, chamada Binaural, que consiste em reproduzir frequências com um padrão repetitivo, que levam ao relaxamento, melhoram o poder de concentração e aumentam a qualidade do sono. O engenheiro francês Clément Ader, ainda lá no século XIX, foi um dos pioneiros nos estudos dos sons binaurais.

Alguns artistas, como Lou Reed, fizeram uso das gravações binaurais, nos anos 1970, mas essa tecnologia havia caído em desuso nos anos posteriores, devido ao elevado custo. E o Pearl Jam havia apostado na troca de produtores: saía Brendan O’Brien, com quem a banda estava desde o álbum de estréia e entrava Tchad Blake, que havia trabalhado com U2, Peter Gabriel e tinha acabado de ganhar um Grammy Awards com Sheryl Crow. O cara era conhecido por utilizar essa técnica de gravação binaural, que consiste em empregar dois microfones para criar um som estereofônico 3D.

Eles se juntaram no Studio Litho, de propriedade de Stone Gossard, em Seattle, por onde eles ficaram entre os meses de setembro de 1999 e janeiro de 2000. Haviam alguns problemas, como o bloqueio criativo enfrentado por Eddie Vedder e a internação do guitarrista Mike Mccreaddy, que estava viciado em remédios. Stone Gossard falou sobre a mudança de produtores, aspas para ele:

“Ele (Tchad Blake) estava lá para nós o tempo todo, querendo que criássemos diferentes estados de espírito”.

Apesar de a técnica binaural ter sido bem sucedida em muitas das músicas gravadas, o trabalho de mixagem de Tchad Blake não agradou por completo e isso fez com que a banda chamasse de volta Brendan O’Brien, que mixou as músicas mais rápidas e ajudou a configurar a ordem das faixas que estão no álbum.

Eddie Vedder estava falando bloqueado, que inspirou a faixa escondida “Writer’s Block“, que aparece depois de “Parting Ways” e nada mais é do que uma sonoridade de teclado de máquina de escrever. Eddie queria se concentrar só nas letras, e sequer pegava no violão. E quando ele viu um ukulele, se inspirou para escrever “Soon Forget“. Stone Gossard afirmou que “nem todos estavam na mesma página”, ao se referir às ausências de Mike Mccreaddy e ao processo de adaptação de Matt Cameron.

Há uma história bastante interessante sobre a capa do álbum, que refere-se a uma imagem feita pela NASA da nebulosa conhecida por MyCn18 localizada a 8 mil anos-luz de distância da Terra, popularmente conhecida como Nebulosa da Ampulheta. Fotos do Telescópio Espacial Hubble da Nebulosa da Hélice e da Nebulosa da Águia também aparecem na contracapa e nas notas do encarte deste álbum, respectivamente. As fotos foram usadas com a permissão da NASA.

Binaural” é um álbum bem diferente de quase tudo que o Pearl Jam havia feito nos cinco álbuns anteriores. Músicas mais experimentais, com letras carregadas de críticas sociais (coisa que quem é fã da banda já está acostumado). Temos treze faixas em 52 minutos e temos alguns bons momentos como nas faixas “Breakerfall” “God’s Dice“, “Light Years“, “Nothing as It Seems“, “Thin Air“, “Greivance“, “Rival” e as já citadas “Soon Forget” e “Parting Ways“. É uma audição bem agradável, embora distanciasse ainda mais a banda do Rock visceral doa primórdios.

As críticas foram favoráveis em sua maioria e mostrou que o Pearl Jam era uma das únicas bandas do movimento grunge que ainda mostrava uma sobrevida na virada do milênio. Houve boa aceitação também por parte dos fãs. “Binaural” figurou em algumas paradas de sucesso: alcançou o topo na Austrália e Nova Zelândia, ficou em 2° na “Billboard 200” (ficando atrás somente de Britney Spears), Canadá, Itália e Noruega; foi 4° na Alemanha, 5° na Bélgica, Países Baixos, Escócia e no Reino Unido; 6° na Irlanda e na Suécia; 8° na Áustria e na Suiça, 10° na Finlândia, 11° na Espanha, 12° na França, 18° no Japão, 20° na Dinamarca e 21° na Hungria. As vendas não foram tão boas quanto os álbuns anteriores, o que fez de “Binaural” o primeiro álbum do Pearl Jam a não ser certificado com Disco de Platina nos Estados Unidos, lá a banda recebeu Disco de Ouro, a mesma certificação recebida na Nova Zelândia. Foi Prata no Reino Unido e Platina na Austrália e no Canadá.

O Pearl Jam caiu na estrada, fazendo shows pela Europa e na América do Norte, mas um incidente ocorrido no Roskilde Festival, na Dinamarca, em 30 de junho de 2000, terminou com 9 fãs sendo pisoteados e vieram a óbito, o que suspendeu algumas datas posteriores e fez com que a banda recusasse tocar em festivais por algum tempo. Eles registraram 72 destas apresentações em CD que foram lançados como álbuns ao vivo, dando à banda o recorde de ter o maior número de álbuns simultaneamente no “Top 200” da Billboard. Em 2016, a banda tocou o álbum na íntegra, em um show em Toronto, Canadá.

Felizmente o Pearl Jam segue em plena atividade, tendo lançado no ano passado o álbum “Dark Matter“, que prometia trazer um pouco do clima dos primeiros anos da banda. O fã deve ficar atento, pois já existem sites maliciosos divulgando a falsa informação de que a banda estará no Brasil no mês de setembro, mas trata-se de golpe. Eles inclusive farão uma apresentação no dia de hoje, em Pittsburgh, Filadélfia. Enquanto aguardamos um anúncio real do retorno da banda ao nosso país, vamos celebrar esse álbum que envelhece bem. Como é bom ter bandas que se preocupam com causas humanitárias como o Pearl Jam.

Binaural – Pearl Jam
Data de lançamento – 16/05/2000
Gravadora – Epic

Faixas:
01 – Breakerfall
02 – Gods’ Dice
03 – Evacuation
04 – Light Years
05 – Nothing as It Seems
06 – Thin Air
07 – Insignificance
08 – Of the Girl
09 – Grievance
10 – Rival
11 – Sleight of Hand
12 – Soon Forget
13 – Parting Ways

Formação:
Eddie Vedder – vocal/ guitarra/ ukulele
Stone Gossard – guitarra base/ violão
Jeff Ament – baixo
Mike Mccreaddy – guitarra solo
Matt Cameron – bateria