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Memory Remains: Ratos de Porão – Há seis anos banda lançava “Século Sinistro” que apontava o nascimento de um Brasil conservador, preconceituoso e reacionário

Memory Remains: Ratos de Porão – Há seis anos banda lançava “Século Sinistro” que apontava o nascimento de um Brasil conservador, preconceituoso e reacionário

2 de setembro de 2020


https://www.youtube.com/watch?v=kBuhIBLy-bs

Em 2 de setembro de 2014, o RATOS DE PORÃO, a banda mais ativista do Brasil e uma das mais raivosas também de nossa cena, lançava o seu décimo álbum: E “Século Sinistro” não decepciona o fã que já sabe o que esperar da banda de João Gordo e cia. Peso, violência, brutalidade e intolerância com políticos que afundam o Brasil, além de pessoas que se recusam a pensar, optando pela futilidade.

A banda estava há oito anos sem um lançamento oficial. “Homem Inimigo do Homem” é certamente o disco mais raivoso da carreira das ratazanas e o objetivo era superar o trampo anterior. E os caras chegaram perto. Antes disso, a banda lançou um split com o LOOK FOR ANNSWER, em que algumas músicas inéditas foram apresentadas e serviu de aperitivo para um full-lenght.

A banda entrou no estúdio “Family Mob”, em São Paulo e com João Gordo como produtor, durante o mês de novembro de 2013. E depois a masterização foi feita no “Fantasy Studios”, em San Francisco, Califórnia. A gravadora “Alternative Tentacles”, do eterno vocalista do DEAD KENNEDYS, Jello Biafra, lançou a bolacha.

Em pouco mais de 34 minutos, o disco é pura brutalidade do início ao fim. E colocando o disco para rodar, temos a abertura com “Conflito Violento” em que a letra narra o povo indo às ruas protestar e recebendo o “carinho” da polícia. Impressionante como Jão tem a capacidade de criar excelentes riffs. Ele está longe de ser escolhido entre os dez melhores guitarristas do Brasil, mas o cara não precisa de virtuosismo, nem pode ser subestimado. Ele compensa tudo isso com peso, pegada e feeling que não tem igual. Excelente início.

“Neocanibalismo” dá sequência ao petardo, uma música que flerta de maneira bem intensa com o Grindcore, com uma quebrada no andamento no meio da música, mas logo volta ao padrão. Que sonzaço! Aqui temos a participação do guitarrista do KRISIUN, Moyses Kolesne, abrilhantando ainda mais a música.

“Grande Bosta” é um som mais grooveado e com muita influência de quem sempre inspirou a banda: DEAD KENNEDYS, só que aqui o RDP soa muito mais pesado. E a letra é uma crítica para a galera que se deixa enganar com a política do pão-e-circo, principalmente por um certo ser que brinca de ser presidente e usa exatamente o futebol para praticar seu populismo.

Clayton Clemente

“Sangue & Bunda” traz a quebradeira de volta e a participação especial do porco de estimação de João Gordo: os gritos que se escuta no início são do Atum, o bichinho do frontman. A letra é uma crítica ao que dá audiência nas TVs brasileiras: violência e bunda de fora. E o som, agressivo demais. Outra das minhas favoritas. A faixa título é ríspida, violenta, rápida e com uma letra praticamente incompreensível. Conta com excelentes riffs de Jão e a cozinha trabalha muitíssimo bem.

“Jornada Para o Inferno” é comandada pelos riffs pesados de Jão e conta a história dos detentos nas cadeias do Brasil afora. A música em si é maravilhosa e o trampo do baixista Juninho aqui é excepcional. “Prenúncio de Treta” é aquele crossover clássicão que a banda já faz, pelo menos desde o “Just Another Crime…” pra cá. Uma música boa, mas não tanto quanto as anteriores. Mas não é preciso pular, podemos escutá-la até o final. Já “Stress Pós-Traumático” é outra que flerta com o Grindcore, uma outra paulada que num mosh não sobra nada nem ninguém. Novamente destaco os riffs de Jão, o cara estava inspirado neste play.

“Viciado Digital” traz uma crítica às redes sociais, ou ao menos para aqueles que usam as redes de maneira equivocada… Ai o leitor se pergunta se leu fake news para eleger um fascista travestido de presidente? Bingo! E não só isso, eis figuras desprezíveis como Sara Giromini, Alan dos Santos, Carla Zambelli, entre outros. E analisando a música música, e musicalmente o quarteto bota para quebrar aqui no Hardcore,

“Boiada Pra Bandido” é outra que desafia o pescoço do ouvinte com a continuação da quebradeira sonora que a banda nos proporciona. E a letra explica muito bem como as leis do Brasil são injustas. Ou beneficiam quem tem mais dinheiro. “Progreria Power” é um cover da banda punk ANTI-CIMEX e eu confesso que não curto essa música, embora o RDP consiga colocar a sua marca. Eu curto alguma coisa de Punk, mas essa não me agradou. Deixemos tocar, ela tem duração de 1 minuto e 10 segundos… Esta faixa é outra que conta com a participação de Moyses Kolesne, solando. “Puta, Viagra e Corrupção” é uma mescla, tem um refrão Hardcore e as estrofes são mais grooveadas. Um som sensacional. E sobre o título da música, João Gordo certa vez explicou que essa fora uma resposta que o deputado federal Fernando Gabeira lhe deu sobre o que os parlamentares fazem nas horas vagas (que são muitas). Música poderosa essa!

E o disco curto se encerra com riffs bem trabalhados e arrastados de Jão e as viradas do exímio baterista Boka, na introdução de “Pra Fazer Pobre Chorar”. Mas logo isso vira Hardcore capaz de levantar defunto e deixá-lo no meio do mosh. Perfeito final.

E assim chegamos ao final deste disco com letras que eram bem atuais com o momento político e social vivido pela população brasileira lá nos idos de 2014 e na verdade há alguns temas que seguem atuais neste 2019. Talvez não tão atuais quanto as letras do disco “Brasil”, que a banda faz uma merecida turnê de comemoração aos seus 30 anos de lançamento. Ou pelo menos fazia, já que João Gordo se recupera de uma recente pneumonia.

Sobre o “Brasil” nós falaremos em uma outra oportunidade. Hoje é dia de comemorar esse excelente disco, que se não é o meu favorito (esse posto é do lançamento anterior, “Homem Inimigo do Homem”, do qual também falaremos em quando do aniversário de seu lançamento). Viva o “Século Sinistro”. Viva o RATOS DE PORÃO. A banda que se coloca contra governantes autoritários e é a voz de bangers antifascistas. Longa vida às ratazanas.

Século Sinistro – Ratos de Porão
Data de lançamento – 02/09/2014
Gravadora – Alternative Tentacles

Faixas:
01 – Conflito Violento
02 – Neocanibalismo
03 – Grande Bosta
04 – Sangue & Bunda
05 – Século Sinistro
06 – Jornada Para o Inferno
07 – Prenúncio de Treta
08 – Stress Pós-Traumático
09 – Viciado Digital
10 – Boiada Pra Bandido
11 – Progreria Power
12 – Puta, Viagra e Corrupção
13 – Pra Fazer Pobre Chorar

Formação:
João Gordo – Vocal
Jão – Guitarra
Juninho – Baixo
Boka – Bateria