Memory Remains

Memory Remains: Rush – 48 anos de “A Farewell to Kings” e as novas experiências no estúdio

1 de setembro de 2025


Há 48 anos, no primeiro dia de setembro de 1977, o Rush lançava “A Farewell to Kings“, o quinto disco deste que é o maior Power-trio da história da música e tema do nosso Memory Remains desta segunda-feira.

Após o sucesso comercial e da crítica para o álbum antecessor, o clássico “2112“, o trio havia caído na estrada e o resultado foi a gravação do primeiro disco ao vivo, “All the World is a Stage“. Ao concluir a tour, que durou 16 meses, eles decidiram não parar para férias e logo se reuniram para escrever novo material e tomaram duas decisões até então inéditas: a primeira foi a de sair de Toronto para gravar um novo disco e a segunda foi o fato de os membros utilizarem novos instrumentos, como por exemplo Geddy Lee tocou uma viola de doze cordas, Alex Lifeson usou sintetizadores e Neil Peart tocou até mesmo triângulo.

Assim sendo, banda e o produtor Terry Brown rumaram para o País de Gales, onde se reuniram no Rockfield, por onde ficaram durante o mês de junho de 1977. Neil Peart escreveu tempos depois que a atmosfera suave no estúdio criou um ambiente produtivo para que eles trabalhassem, fato que proporcionou a gravação ao ar livre. Após três semanas de gravação, a banda rumou para Londres, onde ficaram por mais duas semanas fazendo a mixagem no Advision Studios. Geddy Lee falou certa vez sobre a experiência de gravar no renomado estúdio:

“Ficamos muito felizes com o som que conseguimos para ‘Kings’, também tem muito a oferecer… Rockfield é tão bom se você quiser experimentar – você sabe, você pode sair para gravar, usar sua estranha sala de eco … esse é o tipo de ambiente que gostamos…”

Neil Peart afirmou que para o aniversariante do dia, a banda resolveu escrever novas músicas onde eles pudessem apresentar novos instrumentos. Assim sendo, para executar as músicas de “A Farewell to Kings“, Geddy Lee passou a usar no palco um baixo de dois braços, um Rickenbacker 4080, além dos já citados sintetizadores utilizados por Lifeson e os instrumentos de percussão utilizados por Neil Peart. Pouco antes de atravessar o Atlântico para gravar, a banda fez uma pequena turnê, onde eles apresentaram a música “Xanadu“.

Em uma entrevista no ano de 2017, Geddy Lee lembrou como “A Farewell to Kings” o ajudou em seu desenvolvimento musical. Aspas para o multiinstrumentista.

“Aprendi muito, estava aprendendo muito. Sempre fui desafiado e muito estimulado e o resultado final foi A Farewell to Kings , então acho que foi um disco fundamental nesse sentido.”

A arte do álbum é assinada pelo artista Hugh Syme, colaborador de longa data do Rush e traz uma fotografia de um local de demolição na cidade de Buffalo, com o Harbour Castle Hotel, de Toronto, ao fundo, tendo ainda uma espécie de “marionete grotesca”, que tem correlação com algumas faixas contidas no álbum.

Nosso homenageado é composto por seis faixas e duração de 37 minutos que passam como um raio e aquele gostinho de quero mais. As músicas são muito agradáveis e nem mesmo as duas músicas que têm mais de dez minutos soam maçantes ou cansativas. Se a banda não superou o que foi apresentado em “2112“, eles seguiram apresentando um belo trabalho, com o selo de qualidade do Rush. Eles não lançaram um disco ruim sequer em mais de seus 40 anos de carreira. Os grandes destaques ficam com as faixas “Xanadu” e “Closer to the Heart“, que virou um clássico aqui no Brasil.

A Farewell to Kings” recebeu boas críticas da imprensa especializada e a gravadora trabalhou bastante no marketing do disco no Reino Unido para que a banda se tornasse mais popular por lá.

Em uma época onde o Punk Rock era uma tendência em alta. A cena londrina brilhava através de bandas como Sex Pistols e The Clash e do outro lado do Atlântico, emergia a cena punk novaiorquina, tendo no Ramones o seu maior expoente. O Rock Progressivo era considerado cafona, mas o trio canadense não se importou com as tendências, a aposta foi alta e o resultado não poderia ter sido melhor. Neil Peart certa vez relembrou o período de criação do álbum:

“Nós tivemos um ano e meio entre discos de estúdio, um hiato criativo muito bem vindo, e uma chance para nós três nos concentrarmos em nossos instrumentos individuais assim como aprender novos para manter o crescimento musical. Alex adotou uma guitarra dupla, e um pedal sintetizador de baixo; Geddy também um instrumento duplo combinando guitarra e baixo, assim como o pedal sintetizador de baixo e um mini Moog; enquanto eu comecei a me arriscar em teclados de percussão como sinos tubulares, glockenspiel e vários dispositivos de percussão aqui e ali.”

Ao final de agosto daquele 1977, o trio saiu em turnê para divulgar o álbum que estava para ser lançado. A agenda se estendeu até junho de 1978 e teve uma apresentação com ingressos sold-out no Exhibition Stadium, em Toronto, onde mais de 22 mil pessoas testemunharam tal apresentação. No final de 1977, a banda anunciou apresentações para o ano seguinte, no Reino Unido, cujos ingressos se esgotaram rapidamente também.

A Farewell to Kings” teve bom desempenho nos charts: 11° no Canadá, 22° no Reino Unido, 33° na “Billboard 200“, 41° na Suécia e 150° na Holanda. Foi certificado com Disco de Ouro no Reino Unido e Platina no Canadá e nos Estados Unidos. Foi um dos três álbuns do Rush certificados pela RIAA (Recording Industry Association of America – a entidade que premia as bandas de acordo com as vendas de cada álbum). Os outros dois foram exatamente os antecessores “2112” e “All the World is a Stage“.

O álbum foi relançado em 4 oportunidades: em 1986, quando saiu em CD (uma novidade na época) e em cassete; depois em 1997 em CD; em 2015 foi lançado em vinil e em Blu-ray e por fim em 2017 foi lançada uma versão comemorativa dos 40 anos em CD.

Hoje é dia de celebrarmos essa dádiva que é “A Farewell to Kings“. Não temos mais o Rush na atividade, que se aposentou quando Neil Peart teve sua saúde debilitada. Muitos fãs não entenderam, pois os músicos respeitaram a privacidade de Peart, que era um sujeito muito reservado e a história só veio a tona depois do falecimento deste monstro sagrado, o maior baterista da história da música. Então nossa missão é colaborar para preservar esse lindo legado deixado por estes três rapazes de Toronto. Quem os viu ao vivo colo este que vos escreve, pode se considerar um afortunado.

A Farewell to Kings – Rush

Data de lançamento – 01/09/1977

Gravadora – Anthem

 

Faixas:

01 – A Farewell to Kings

02 – Xanadu

03 – Closer to the Heart

04 – Cinderella Man 

05 – Madrigal

06 – Cygnus X-1

 

Formação:

Geddy Lee – baixo/ vocal/ viola de doze cordas/ sintetizadores

Alex Lifeson – guitarra/ violão/ sintetizadores

Neil Peart – bateria/ percussão/ sinos/ triângulo

 

Participação especial:

Terry Brown – voz na faixa “Cygnus X-1