Memory Remains

Memory Remains: Sepultura – 14 anos de “Kairos” e a estreia pela Nuclear Blast

24 de junho de 2025


Há 14 anos, em 24 de junho de 2011, o Sepultura lançava “Kairos‘, o 12° álbum desta que é a maior banda brasileira de Heavy Metal de todos os tempos, e claro, tema do nosso Memory Remains desta terça-feira. Vamos contar um pouco das histórias deste play, venha conosco.

Precisamos deixar claro que este álbum possui três datas de lançamento distintas: no dia 17 de junho, o álbum saiu no Brasil; a data de hoje refere-se ao lançamento na Europa. E nos Estados Unidos, o play foi lançado um pouco mais tarde, no dia 12 de julho. Sem eurocentrismo, nós escolhemos o dia 24 de junho por ser a data em que a maioria dos veículos pesquisados antes de escrevermos esse texto consideram como a data “oficial”.

Em julho de 2010, foi anunciado que o Sepultura havia assinado um contrato com a Nuclear Blast, gravadora com a qual a banda lançou todos os seus álbuns desde então. Se era a estreia dos brasileiros no novo selo, seria a despedida do baterista Jean Dolabella, que saiu da banda cinco meses após o lançamento, pois não queria ficar muito tempo longe do Brasil, o que é inviável, principalmente em se tratando de uma banda como o Sepultura. Há inclusive o documentário “Sepultura Endurance” onde uma discussão entre Jean Dolabella e Andreas Kisser aconteceu e foi registrada. Aparentemente, as rusgas entre o baterista e o restante da banda foi superado.

Em dezembro de 2010, o quarteto já dispunha de material composto e todos foram para o Trama Studios, localizado em São Paulo, o mesmo estúdio onde o álbum anterior, “A-Lex” havia sido gravado. Eles ficaram por lá entre dezembro de 2010 e março de 2011, tendo como produtor, o renomado Roy Z. Poucos dias após o término das gravações, a banda anunciou o título do álbum, e Andreas Kisser explicou em uma entrevista o contexto por trás do nome do álbum. Aspas para ele;

“Todo o tema do álbum é o conceito de tempo, e o título reflete isso — é como um conceito de tempo que não é cronológico, de um a dois; é como um instante no tempo, é um momento especial de mudança… A vida de cada um é escrita por [suas] escolhas — você tem muitos momentos ‘kairos’, como se você fosse [do] ponto A [ao ponto] B [ao ponto] C, você é guiado por suas escolhas ou sua orientação; você tem que ir para um lado ou para o outro. E esse é o tipo de tempo sobre o qual falamos — não sobre envelhecer ou ficar velho ou voltar [no tempo]; é apenas [sobre aqueles] momentos importantes que podem mudar tudo.”

Essa ideia de tempo a qual o guitarrista se referia, tinha muito a ver com o fato de, na época, o Sepultura estar comemorando os 26 anos de existência, ainda que nenhum dos músicos que estiveram no primeiro show realizado, não estivesse mais na banda. O baixista Paulo Xisto fazia parte da formação, mas segundo Max Cavalera conta em sua autobiografia “My Bloody Roots“, os pais de Paulo não o deixaram ele sair para se apresentar em um show, o que é perfeitamente plausível, pois lá nos primórdios, todos eram adolescentes. Mas Andreas dizia que a ideia do álbum era centrada na biografia da banda.

O álbum conta com a participação do grupo percussionista francês Les Tambours du Bronx, que tocou na faixa “Structure Violence (Azzes)”. A parceria deu tão certo que em 2011, o Sepultura convidou a banda para tocarem juntos no palco Sunset do Rock in Rio daquele ano. O show foi um verdadeiro sucesso e acabou virando um álbum ao vivo, além de ter sido gravado em vídeo e também ter sido lançado como DVD. O caro leitor poderá assistir ao vídeo do Sepultura tocando “Spectrum“, com o Les Tambours du Bronx, logo abaixo

Uma curiosidade: a faixa “Seethe” foi escrita e a banda pretendia incluí-la no álbum “A-Lex“, o que acabou não acontecendo. Então eles gravaram a música novamente e ela acabou entrando no play. Existe uma edição deluxe de “Kairos“, onde eles colocaram um DVD como bônus e lá o fã pode assistir aos ensaios, os músicos gravando suas partes, além de entrevistas com os músicos e também com o produtor Roy Z.

Bolacha rolando, o álbum tem duração de 53 minutos e é composto por quinze faixas, sendo quatro delas instrumentais e pequenos interlúdios, além de dois covers, que são as músicas “Just One Fix” e “Firestarter“, do Ministry e Prodigy, respectivamente. São grupos que não têm muito a ver com o Sepultura em questão de sonoridade, mas isso não é novidade, principalmente para eles, que no passado já fizeram versões para músicas de New Model Army, Bob Marley, Jane’s Addiction, Public Enemy, Massive Attack e até mesmo U2.

Em nosso aniversariante, podemos dizer que este é o primeiro trabalho realmente acima da média que o Sepultura entregou desde que Derrick Green assumiu os vocais, ou seja, 15 anos antes. A primeira parte do play é impecável, onde podemos destacar músicas como “Spectrum“, “Relentless“, a faixa-título, que é a única que ainda resiste nas apresentações da banda até hoje, e a já citada “Just One Fix“. Os riffs são bastante retos e bem pesados e a produção, mesmo que não seja um primor, não comprometeu.

O álbum foi bem recebido pela crítica especializada, e também pelo público, que considera o melhor álbum até o lançamento de “Quadra“, que ao que tudo indica, foi o último álbum de estúdio da banda. Em tempos que as vendas de discos começavam a entrar em decadência, o álbum até que fez um relativo sucesso, figurando em alguns charts pelo mundo: foi 28° na categoria “Álbuns de Rock e Heavy Metal” do Reino Unido, 45° na Suiça, 48° na categoria “Álbuns Independentes” da “Billboard“, 49° na Alemanha, 75° na Austrália e 87° na França.

O Sepultura caiu na estrada, onde tocou nos Estados Unidos, Canadá e Brasil, na denominada “Kairos World Tour“. O baterista Eloy Casagrande, que havia acabado de se apresentar com sua ex-banda, o Glória, no Rock in Rio de 2011, na mesma edição em que o Sepultura tocou com Les Tambours du Bronx, só que em palcos distintos, foi convidado por Andreas Kisser e ficou no Sepultura até o ano passado, quando acabou trocando a banda pelo Slipknot depois que ficou sabendo que a banda da qual fazia parte iria começar a sua turnê despedida. Turnê essa que parece inacabável e eles estão até hoje dando uma última chance de os fãs vê-los ao vivo.

Hoje é dia de celebrar esse belo álbum, colocando para tocar no volume máximo. Vamos aproveitar para acompanhar também os últimos dias do Sepultura em ação e depois aguardar para saber quais caminhos os integrantes irão seguir. Há quem acredite que a formação clássica do Sepultura deverá se reunir novamente depois deste encerramento. Enquanto isso, iremos explorar o legado que estes gigantes deixaram para nós.

Kairos – Sepultura 

Data de lançamento – 24/06/2011

Gravadora – Nuclear Blast 

 

Faixas:

01 – Spectrum

02 – Kairos

03 – Relentless

04 – 2011

05 – Just One Fix

06 – Dialog

07 – Mask

08 – 1433

09 – Seethe

10 – Born Strong

11 – Embrace the Storm

12 – 5772

13 – No One Will Stand

14 – Structure Violence (Azzes)

15 – 4648 / Firestarter / Point of No Return

 

Formação:

Derrick Green – vocal

Andreas Kisser – guitarra

Paulo Xisto – baixo

Jean Dolabella – bateria

 

Participação especial:

Les Tambours du Bronx – percussão