Há 37 anos, em 23 de novembro de 1987, o Titãs lançava “Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas”, o quarto álbum da rica discografia desta que talvez seja a mais relevante das bandas nacionais dos anos 1980, e que é tema do nosso Memory Remains deste sábado.
A banda vinha do excelente “Cabeça Dinossauro“, que rompeu fronteiras e deu à banda uma sonoridade mais pesada, se comparada aos primeiros dois álbuns e também à fase atual onde os caras já nem são sombra do que fizeram entre 1986 e 1993. O título do álbum seria uma frase da esposa do baixista Nando Reis, que teria dito que o Brasil era o país dos banguelas.
“Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” tem duas partes, podemos assim dizer. A primeira engloba as cinco primeiras músicas e elas são meio que uma espécie de continuação da faixa “O Quê?“, que fecha o álbum anterior. Muito uso de sintetizadores, deixando as músicas bastante eletrônicas, mas nada que deixe o álbum demasiadamente artificial. Para a produção, novamente veio Liminha e todos se reuniram no Rio de Janeiro, no estúdio Nas Nuvens.
Neste álbum, o baterista Charles Gavin já começava a se destacar por sua performance em seu kit e ele tentou incluir algumas partes mais complexas. Isso pode ser percebido na música “Lugar Nenhum” e em “Violência“, porém, ele meio que foi forçado a tentar ser mais simples na execução de suas partes, pois isso estava gerando um atraso na gravação, já que a todo tempo ele tinha que refazer seus takes. Ele contou recentemente em uma entrevista que isso aconteceu porque como o disco teve atraso por conta do produtor Liminha, que se dividia entre Londres e o Brasil, ele (Gavin) meio que perdeu a mão que estava afiada durante a gravação das demos para esse play. Ele foi obrigado a reduzir seu set, mas ainda assim, apresentou um belo trabalho.
A arte da capa traz oito colinas, que representam cada um dos integrantes da banda e também traz uma foto deles em um cemitério de São Paulo. Tal fato causou a demissão do responsável pelo cemitério, a mandado do então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, em uma atitude arbitrária, que a banda sempre fazia questão de ressaltar quando se apresentava em programas de TV. Para Nando Reis, esse é o melhor trabalho da banda, juntamente com “Tudo ao Mesmo Tempo Agora“. Ele fez tal afirmação em seu canal no YouTube.
Eles ficaram em estúdio entre os meses de agosto e outubro de 1987. Antes mesmo de o álbum ser lançado, a música “Lugar Nenhum” foi lançada como single e tornava se sucesso nas rádios especializadas, dando uma amostra dos efeitos que o álbum poderia provocar. E a música agradou por ter o mesmo clima de algumas das mais pesadas do aclamado álbum anterior.
Dando play na bolacha, são breves 37 minutos e 12 canções na versão em LP. A versão em CD traz como bônus a faixa “Violência“. A primeira parte do play é bastante influenciada pelos teclados e sintetizadores, enquanto que a segunda parte é bem pesada. Grandes clássicos foram forjados aqui, como “Comida“, “Corações e Mentes“, “Diversão“, a faixa-título, “Desordem“, “Mentiras“, “Armas pra Lutar“, “Nome aos Bois“, além das já citadas “Lugar Nenhum” e “Violência“. Ou seja, o play quase todo é de destaque.
Em relação a faixa “Nome aos Bois”, ela traz uma citação a alguns dos personagens mais perversos da história: Borba Gato, Hitler, Stálin, o presidente do período da ditadura militar, Emílio Garrastazu Médici, simplesmente o mais tirano deste período deplorável para a história do nosso país. Durante os shows da turnê “Encontro”, que contou com os ex-membros, Nando Reis fez uma adaptação da letra, citando outro nome que certamente teria feito parte da composição original se seu desgoverno tivesse acontecido antes de 1987: sim, estamos falando dele, do inelegível e agora indiciado ex-presidente Jair Bolsonaro, aquele que nós, progressistas, esperamos vê-lo cumprir sua pena pelos vários crimes que está sendo acusado.
O álbum é um dos clássicos do Rock nacional dos anos 1980, quando o estilo estava na crista da onda. Bons tempos quando não tínhamos essas músicas de gosto bastante duvidoso como o funk, pagode, sertanejo, sofrências e agora o tal do Trap sendo dominantes. A banda saiu em turnê para divulgar o play e o resultado foi o disco ao vivo “Go Back“, gravado no festival de Montreaux, na França.
Hoje é dia de celebrarmos esse álbum e de botar para tocar no talo. É um disco que envelhece bem e que ajudou a formar o caráter de muita gente: a desse redator que vos escreve e provavelmente a sua, leitor. Vamos exaltar essa obra prima enquanto relembramos os tempos que o Titãs fazia Rock de verdade. Ao que parece, em 2027, os membros da formação clássica irão se reunir, mas não para comemorar os 40 anos deste play e sim para celebrar os 30 anos do álbum acústico.
Jesus Não tem Dentes no País dos Banguelas – Titãs
Data de lançamento – 23/11/1987
Gravadora – Warner
Faixas:
01 – Todo Mundo Quer Amor
02 – Comida
03 – O Inimigo
04 – Corações e Mentes
05 – Diversão
06 – Infelizmente
07 – Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas
08 – Mentiras
09 – Desordem
10 – Lugar Nenhum
11 – Armas Pra Lutar
12 – Nome aos Bois
13 – Violência
Formação:
Branco Mello – vocal
Arnaldo Antunes – vocal
Paulo Miklos – vocal
Marcello Fromer – guitarra
Tony Bellotto – guitarra
Nando Reis – baixo/ vocal
Sérgio Britto – teclado/ vocal
Charles Gavin – bateria
Participação especial:
Liminha – percussão em Diversão, baixo/sintetizadores e guitarra em Comida violão em Desordem