hbNews

Memory Remains – Type O Negative: 31 anos de “Slow, Deep and Hard” e Peter Steele verbalizando suas decepções amorosas em humor negro

Memory Remains – Type O Negative: 31 anos de “Slow, Deep and Hard” e Peter Steele verbalizando suas decepções amorosas em humor negro

11 de junho de 2022


 

Há 31 anos, em 11 de junho de 1991, o Type O Negative lançava “Slow, Deep and Hard“, o álbum de estreia desta que é sem sombra de dúvidas a maior banda de Gothic/ Doom Metal dos últimos 30 anos. Esta pérola é assunto do nosso Memory Remains deste sábado, véspera do dia dos namorados.

O Type foi formado no ano de 1989, nós precisamos voltar um pouco no tempo para compreender melhor o disco que apaga as velinhas hoje. O ano é 1984 e Peter Steele tinha uma banda chamada Carnivore, com a qual ele lançou dois álbuns. Muito da sonoridade de “Slow, Deep and Hard” é herança de sua banda angeroor. Ao formar a nova banda, ele se juntou ao amigo Josh Silver, que já havia trabalhado na produção do primeiro álbum do Carnivore e o embrião do Type O Negative já estava ali. Depois foi só achar o guitarrista Kenny Hickey e o baterista Sal Abruscato e no ano seguinte, a banda já estava com contrato assinado com a Roadracer, subsidiária da Roadrunner, que na época era uma das gigantes e que se dedicava às vertentes mais pesadas do Rock e do Metal.

Ainda antes de se chamar Type O Negative, a banda se chamou Repulsion e o álbum iria ser batizado de “None More Negative“. É tido como um disco autobiográfico, inspirado em um romance mal sucedido do vocalista/ baixista e idealizador do grupo, Peter Steele, só que recheado de humor negro. As faixas 1, 3, 4 e 7 tratam diretamente do assunto com esse viés. A capa do álbum também tem essa pitada de humor, pois é a imagem borrada do ato sexual. Até o próprio título é algo engraçado: “Lento, Fundo e Forte”, em livre tradução. Ou seja, era uma forma bem humorada que o líder da banda usou para lidar com a situação e tirar sarrro se si próprio.

Assim sendo, todos foram para o Systems Two, estúdio localizado no Brooklyn, Nova Iorque, onde aconteceram as gravações. A própria banda atuou na produção do álbum. A mixagem aconteceu no mesmo estúdio, enquanto que a masterizacão se deu no estúdio Frankford/ Wayne, também em Nova Iorque. Como de praxe, vamos passear pelas (extensas) faixas presentes neste disco.

Unsuccessfully Coping with the Natural Beauty of Infidelity“, cuja duração é tão enorme quanto seu título, tem uma gama de elementos espalhados nos seus mais de doze minutos de extensão: temos Punk, Gothic, Doom Metal, tudo meticulosamente colocado em diferentes partes e que se conectam meio que por acaso. A mistura é bem interessante. Sal Abruscato é quem se destaca com seu bumbo duplo. A música termina com aplausos, que são merecidíssmos.

A faixa número dois, “Der Untermensch“, embora tenha o título em alemão, é cantada em inglês. Ela é bem longa também, quase nove minutos e em sua intro tem ótimos riffs Doom Metal, depois descamba para o Hardcore e assim a música vai alternando riffs sombrios com a simplicidade dos três acordes. Uma sacada genial e que nenhuma banda havia praticado até então. “Xero Tolerance” repete a fórmula da faixa anterior, uma intro bem Doom Metal e partes mais Punk, porém, com direito a uma bateria grooveada em certos momentos, além da inclusão daquele órgão fúnebre. Um belo dedilhado de violão encerra a faixa.

Quase meia hora de audição se foi somente nas três primeiras músicas e chega “Prelude to Agony“, que assim como a faixa de abertura, ultrapassa os 12 minutos de duração e tem os melhores riffs de sempre. Por quê? O guitarrista Kenny Ricken se inspirou simplesmente no pai do Heavy Metal, mr. Tony Iommi. Os riffs cavalgados nos remetem imediatamente ao Black Sabbath, mas a música não é só isso, afinal, em doze minutos, cabem andamentos bem arrastados do Doom Metal, passagens Punk Rock e um final puxado para o que se tornaria o Sludge Metal. Fantástico.

A seguir, temos duas faixas sem vocais: “Glass Walls of Limbo (Dance Mix)” e “The Misinterpretation of Silence and Its Disastrous Consequences“, as duas mais curtas do play. A primeira tem seis minutos e é a parte bem chata por aqui, tendo seis minutos de barulhos desconexos, que não têm muito a ver com o que fora apresentado até então e a segunda, é nada mais que um minuto de silêncio literalmente. É muito experimentalismo e com essas duas faixas, a última é até mesmo engraçada pelo contexo (A Má Interpretação do Silêncio e Suas Consequências Desastrosas, é a tradução literal do título). O ouvinte tem a opção de pular essas duas e partir para a faixa derradeira…

… “Gravitational Constant: G = 6.67 x 10⁻⁸ cm⁻³ gm⁻¹ sec⁻²“, sim, os caras utilizaram como título de música a fórmula da constante gravitacional de Isaac Newton, com humor negro na letra, em Peter Steele canta sobre não desejar mais viver. O som, insano, misturando Doom Metal com Rock setentista, em nove minutos de pura excelência. De acordo com o guitarrista Kenny Hicken, Steele se inspirou na música tema do seriado estadunidense ‘The Munsters“, de 1964, para escrever os riffs desta canção.

Em 58 minutos temos uma banda que se revelava na vanguarda, um disco cuja complexidade foi bem compreendido pela crítica e público, fazendo a banda se tornar bem popular na cena. Ajudou também o fato deles terem saído em turnê no mesmo ano de lançamento do álbum, com o The Exploited e o Biohazard. No ano de 2009, a Roadrunner lançou uma nova versão do álbum, desta feita com uma versão muito bem humorada para “Hey Joe“, de Jimi Hendrix, que virou “Hey Pete“. No ano passado, a Roadrunner, juntamente com o selo Run Out Groove, relançou o álbum, em vinil, para comemorar o 30° aniversário. Ainda em 2021, o álbum fucugou na 31ª posição nos charts germânicos.

Um belo disco, uma estreia magnífica, e era apenas o início, pois depois viriam outras pérolas como “Blood Kisses“, “October Rust‘”, que deram a banda esse status de cult que ela carrega consigo, doze anos depois da morte de Peter Steele e, consequentemente, do seu final. Não temos mais a banda na ativa e nem faria sentido sem seu idealizador, que faz muita falta, diga-se de passagem. Vamos celebrar este discaço, porque recordar é viver e a banda merece toda e qualquer homenagem.

Slow, Deep and Hard – Type O Negative

Data de lançamento – 11/06/1991

Gravadora – Roadracer

 

Faixas:

01 – Unsuccessfully Coping with the Natural Beauty of Infidelity

02 – Der Untermensch

03 – Xero Tolerance

04 – Prelude to Agony

05 – Glass Walls of Limbo (Dance Mix)

06 – The Misinterpretation of Silence and Its Disastrous Consequences

07 – Gravitational Constant: G = 6.67 x 10⁻⁸ cm⁻³ gm⁻¹ sec⁻²

 

Formação:

Peter Steele – vocal/ baixo

Kenny Hickey – guitarra

Josh Silver – teclados

Sal Abruscato – bateria

 

Participação especial;

Bensonhoist Lesbian Choir – vocais adicionais