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Memory Remains: Viper – 34 anos de “Soldiers of Sunrise”, o marco zero da banda que reproduziu a NWOBHM em terras brasileiras

Memory Remains: Viper – 34 anos de “Soldiers of Sunrise”, o marco zero da banda que reproduziu a NWOBHM em terras brasileiras

27 de maio de 2021


27 de maio pode ser considerado um feriado para o Metal nacional: nesta data, há 34 anos, o Viper dava o seu pontapé inicial em sua longeva carreira, com o lançamento de “Soldiers of Sunrise”, que é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira.

Formado em 1985, dois anos antes do lançamento do play, os irmãos Passarell se juntaram a Felipe Machado, e a um jovem prodígio, o ainda desconhecido Andre Matos. Em 5 de abril do mesmo ano, a primeira apresentação da banda, na Lira Paulistana e logo depois duas demos são lançadas, a primeira os caras foram abusados e fizeram logo versões para “Countess Bathory” (Venom), “Run to The Hills” (Iron Maiden), “Breaking the Law” (Judas Priest) e “Power and the Glory” (Saxon). Os moleques chegaram chegando.

Com a boa repercussão, os meninos foram convidados pelo selo Rock Brigade Records e em abril de 1987 eles adentraram ao estúdio Guidon, na capital paulistana, com a produção assinada por Andre Cagni. Em 2013, Andre Matos lembrou de como foram as sessões de gravação do aniversariante do dia. Aspas para a lenda imortal:

Todo o álbum foi feito basicamente em uma semana. Foi tipo, ‘Um, dois, três, vai,’ e todo o fundo foi gravado quase ao vivo. Em seguida, houve alguns overdubs para os solos e outras coisas, e então era minha parte fazer a voz em dois ou três dias. E eu me lembro dos últimos dias, minha voz estava completamente arruinada. Eu não tinha nenhuma técnica naquela época e arruinei completamente minha voz. Tive que gravar essa última música chamada ‘HR’, que traduzida como ‘Heavy Rock’, e estávamos até pensando em chamar outra pessoa para cantá-la porque eu não conseguia cantar uma única nota. Mas então dissemos: ‘Ah, podemos fazer um pouco mais como o punk rock’, para que eu pudesse cantar com minha voz áspera, que fui capaz de deixar ir naquele momento.”

Vamos apertar o play e degustar desta riqueza que é esse disco: “Knights of Destruction” abre o trabalho e podemos afirmar categoricamente que se trata do primeiro clássico do Heavy Metal melódico brasileiro. Ainda que a produção seja tosca e o som bastante cru, há muito talento ali. Bons riffs, linhas de baixo interessante e um Andre Matos adolescente e muito talentoso. Nightmares, a faixa seguinte, mostra influências claras de Iron Maiden, sobretudo nas guitarras.”

The Whipper” é muito influenciada pela NWOBHM na parte inicial, mas logo a música descamba para um Power Metal empolgante, mostrando que os garotos já demonstravam ter futuro. “Wings of the Evil” pode enganar o ouvinte desavisado e fazê-lo acreditar que a intro é alguma versão de música do Iron Maiden dos anos 1980 que nunca foi divulgada, mas a medida que ela se desenvolve, a música ganha influências do Helloween, sobretudo o vocal de Andre Matos que aqui lembra Michael Kiske.

H.R.” é bem rápida e flerta intensamente com o Speed Metal, uma faixa bem empolgante onde Pit Passarell traz boas linhas de baixo enquanto as coisas acontecem entre os demais integrantes. Essa música gera um moshpit pra lá de divertido. Hora de virar o lado do vinil e temos a faixa título que nos remete mais uma vez ao Helloween, com direito a uma mudança no andamento onde a música ganha contornos épicos e mais da NWOBHM é destilado para nós.

Signs of the Night” é a música mais bem trabalhada do play e é bastante melódica, contando com excelentes riffs de guitarra e o baixo de Pit Passarell ajudando a manter o peso. “Killera (Princess of Hell)” é um baita instrumental que não fica a dever nada para o Iron Maiden daqueles anos 1980. E “Law of the Sword” fecha o play com chave de ouro, mostrando que o Brasil também poderia ter a sua versão da NWOBHM.

34 minutos depois, a sensação é de êxtase, os jovens se superaram e entregaram um trabalho bem acima da média, ainda que a produção no Brasil naquele momento fosse bastante pobre, sobretudo para as bandas de Heavy Metal que emergiam. Mas prevaleceram a garra, determinação e a vontade da banda de fazer história, como realmente fizeram e continuam a fazer até os dias atuais.

Curiosidades: Felipe Machado fez o primeiro show da banda após o lançamento do álbum, que aconteceu no Teatro Rio Branco e depois se ausentou. Foi para os Estados Unidos terminar o ensino médio, ficou um ano ausente, retornando já ao final da tour. Neste período foi substituído pelo guitarrista do War Kings, Rodrigo. O baterista Cassio Audi saiu logo depois do lançamento e quem ocupou a vaga durante boa parte da turnê foi Val Santos.

O resto é história: abertura para show do Motörhead em terras brasileiras, outras pérolas do Heavy Metal lançadas, apresentação na versão brasileira do lendário Monsters of Rock no ano de 1994, ao lado de Black Sabbath, Kiss e Slayer, a fama imensa no Japão, sendo, inclusive, maiores do que nomes como Nirvana e Van Halen lá na terra do sol nascente, a prova disso é o local escolhido para gravar o álbum ao vivo “Maniac’s in Japan” além do orgulho por ter sido a banda que revelou uma das maiores lendas do Heavy Metal brasileiro: Andre Matos que ficaria conhecido na cena mundial por seus trabalhos com o Angra e o Shaman. Em 2013, a cereja do bolo foi o show épico da banda no palco Sunset do Rock in Rio acompanhado de seu primeiro vocalista e amigo de sempre.

Enfim, poucos dias de lembrarmos os dois anos da perda de Andre Matos, temos a oportunidade de celebrar o marco zero dos cinco cavaleiros paulistanos. Uma das bandas mais importantes do nosso Metal e que deve sempre ser lembrada e exaltada. Esses garotos sempre estiveram na vanguarda. É bom saber que a banda segue na ativa e foi maravilhoso ver a live deles no final de 2019, que contou com a participação do talentoso guitarrista Thiago Oliveira (ex-Warrel Dane). Fica a expectativa para que tudo isso termine logo, queremos ver essa lenda do Heavy Metal brazuca em ação, tocando e lançando novos discos. Vocês merecem todos os confetes.

Soldiers of Sunrise – Viper
Data de lançamento – 27/05/1987
Gravadora – Rock Brigade Records

Faixas:
01 – Knights of Destruction
02 – Nightmares
03 – The Whipper
04 – Wings of the Evil
05 – H.R.
06 – Soldiers of Sunrise
07 – Signs of the Night
08 – Killera (Princess of Hell)
09 – Law of the Sword

Formação:
Andre Matos – vocal
Pit Passarell – baixo
Yves Passarell – guitarra
Felipe Machado – guitarra
Cassio Audi – bateria