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Memory Remains: Warrel Dane – 3 anos de “Shadow Work”, a obra póstuma da lenda que não morre

Memory Remains: Warrel Dane – 3 anos de “Shadow Work”, a obra póstuma da lenda que não morre

26 de outubro de 2021


Em 26 de outubro de 2018, “Shadow Work“, o segundo álbum solo de Warrel Dane era lançado de maneira póstuma, pois o vocalista veio a falecer enquanto gravava o play.

Voltando um pouco no tempo, o ano é 2011 e Warrel Dane é pego de surpresa quando Jeff Loomis e Van Williams anunciam quase que ao mesmo tempo, a saída do Nevermore. O frontman ficou sem chão e tentou tocar sua vida. Em 2014, rolou a possibilidade dele fazer uns shows com uma banda formada apenas por brasileiros aqui em nossas terras e a coisa foi tão além que turnês pela Europa foram bem sucedidas.

O time reunido era dos melhores: os guitarristas Johnny Moraes (Hevilan) e Thiago Oliveira (Seventh Seal), o baixista Fabio Carito (ex-Shadowside) e o excelente baterista Marcus Dotta (atualmente no Vikram). As coisas deram tanta liga que  veio a ideia de gravar um disco. “Shadow Work” seria em um primeiro momento, um disco apenas de covers. No meio do processo de produção, ideias foram surgindo e bastou receber o aval da Century Media e o projeto passou a ser de músicas autorais. Apenas a versão para “The Hanging Garden“, do The Cure, sobreviveu ao projeto.

Em 2017 a banda se reuniu no estúdio Orra Meu, na capital paulistana. Porém, a saúde da nossa lenda estava bastante debilitada e Warrel só teve tempo de gravar o vocal da pré-produção. Muito material deixou de entrar, pois ele gostava de escrever letras no último momento antes de gravar. Infelizmente, o destino foi implacável e o derrubou antes de ele registrar suas ideias. Em 13 de dezembro daquele ano, Warrel nos deixava. Na mesma data de sei velho amigo, Chuck Schuldiner.

Após o baque pela morte da lenda, todos concordaram em continuar a gravação até para que a despedida pudesse ser justa ao grande Warrel e assim foi feito. Sete músicas autorais entraram no play, mais o cover para a música do The Cure, conforme foi dito alguns parágrafos acima. Teve material que ficou de fora e a expectativa de todos é para que a Century Media possa liberá-lo de alguma maneira. Talvez a pandemia tenha atrasado esse processo.

Como os próprios músicos definem, foi um trabalho com sangue, suor e lágrimas. O guitarrista Johnny Moraes praticamente presenciou o falecimento de Warrel e me confidenciou que estava no apartamento com ele, que comeu um sanduíche e foi deitar, quando o guitarrista foi se despedir, Warrel não respondia aos chamados. A equipe da SAMU chegou rápido ao local, mas o vocalista não resistiu. Menos de um ano depois, o disco estava produzido e chegando às mãos dos fãs. Vamos falar sobre as faixas que estão neste disco:

Ethereal Dreams” é uma faixa bem curta e traz um clima bem calmo onde a voz de Warrel Dane é a estrela. A coisa fica séria em “Madame Satan“, pesada, furiosa e épica. Warrel se inspirou na famosa casa paulistana do mesmo nome, pela qual ele ficou impressionado depois que conheceu. ele era apaixonado por São Paulo e pelos encantos de sua noite.

Disconnection System” é pesada e densa, traz riffs intrincados e poderosos da dupla Johnny Moraes e Thiago Oliveira. Os solos merecem destaque. Essa música fatalmente é a que mais soa como Nevermore. “As Fast as the Others“, bem prog, já soa mais comercial, o que, nesse caso não é uma coisa ruim, pelo contrário. Uma ótima música.

A faixa título é a minha favorita de sempre na carteira solo de Warrel Dane. Pesada, sombria, atmosférica, linda. Gosto tanto dessa música que eu a programei para ser o toque do meu despertador. E chega a grande surpresa do play, “The Hanging Garden“, onde o baterista Marcus Dotta é o protagonista. O cara dá um espetáculo no seu kit e o restante da banda acompanha sua performance impecável. Eu não sou fã de The Cure, mas o Warrel é meu grande ídolo musical e ele conseguiu me fazer escutar The Cure, só que na sua voz, claro. Guardadas as proporções, eles fizeram o mesmo que o Nevermore fez com a versão para “The Sound of Silence“, de Simon & Garfunkel. Eles transformaram uma música tranquila em um petardo,

Rain” é uma balada bem estruturada e que em um certo momento ganha peso. A espetacular “Mother is the Word for God“, do alto de seus nove minutos, encerra o play de maneira épica, relembrando o mesmo clima de “This Godless Endeavor“, a música. A técnica de todos os membros são colocados à prova aqui e eles mostraram porque fizeram jus a se tornarem os últimos companheiros da carreira de Warrel. Tanto o álbum quanto o nosso saudoso vocalista mereciam esse desfecho, por todos os seus anos dedicados com afinco à música.

O álbum é bem curto, mas intenso. Completamente diferente da proposta intimista do primeiro álbum solo de seu primeiro disco solo, o não menos excelente “Praises to the War Machine“, o aniversariante do dia lembra muito o Nevermore, sobretudo seus dois últimos álbuns, “This Godless Endeavor” e “The Obsidian Conspiracy“. Os resultados obtidos certamente deixariam a nossa lenda feliz.

É duro escutar esse álbum e saber que você não terá mais a oportunidade de ver Warrel ao vivo, que não haverá mais discos com músicas inéditas e o mais agravante, que o Nevermore morreu com ele, já que Jeff Loomis deu uma declaração acertadíssima de que não existe Nevermore sem Warrel. Infelizmente a vida é feita de ciclos e temos esse belo trabalho que encerrou da melhor forma a passagem dele por essa mundo. Um talento ímpar. Chef de cozinha, vocalista dos bons, um letrista crítico, pensativo e inteligente, filósofo e um sujeito que certamente seria cancelado por essa quantidade de headbangers que insistem em misturar Rock com fascismo, coisa que ele abominava.

Mas nosso trabalho é prestar homenagens e manter vivo o legado desse cara fantástico, do qual eu tive a honra de conhecer pessoalmente e trocar algumas ideias, ainda que o nervosismo tenha falado mais alto e meu inglês tivesse falhado ao trocar algumas palavras com ele. É doído escrever sobre alguém que você ama e não está mais entre nós, mas ao mesmo tempo é gratificante ter um espaço para prestar essa justa e honesta resenha.

Shadow Work – Warrel Dane
Data de lançamento – 26/10/2018
Gravadora – Century Media

Faixas:
01 – Ethereal Dreams
02 – Madame Satan
03 – Disconnection System
04 – As Fast as the Others
05 – Shadow Work
06 – The Hanging Garden
07 – Rain
08 – Mother is the Word for God

Formação:
Warrel Dane – vocal
Johnny Moraes – guitarra
Thiago Oliveira – guitarra
Fabio Carito – baixo
Marcus Dotta – bateria