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Rock in Rio: por que o dia do Metal é o único a ainda ter ingressos disponíveis?

Rock in Rio: por que o dia do Metal é o único a ainda ter ingressos disponíveis?

17 de agosto de 2022


O Wacken Open Air mal terminou no último dia 6 e os ingressos para a edição do ano que vem se esgotaram em apenas seis horas. O detalhe é que nem todo o lineup está definido ainda. Já no Rock in Rio, que volta a ser realizado após três anos, o dia do Metal é o único a ainda ter ingressos disponíveis. Por quê?

A resposta para essa pergunta não é tão simples assim e envolve diversas questões. A financeira é uma delas, mas não é a mais determinante. Isso porque apesar de a entrada para o Rock in Rio custar R$625, ela é até mais barata do que alguns ingressos dos shows que o Iron Maiden vai fazer em outras cidades do Brasil. Para as apresentações de Curitiba e Ribeirão Preto, o ingresso mais barato custa R$1018,00. Já para o show do Morumbi, os ingressos variam entre R$446,00 e R$1331,00. O ticket mais barato para o show na capital paulistana é mais barato do que a inteira do Rock in Rio, com a vantagem de que no festival, você tem a possibilidade de assistir pelo menos mais três bandas além do próprio Maiden. Se dividirmos o valor por cada uma das bandas que tocarão no palco mundo, você estará pagando R$156,25 por banda, o que convenhamos é um excelente valor. Pois se você fosse pagar para ver cada apresentação separada, esse valor provavelmente seria equivalente ao da meia entrada.

Para o fã que pensa em economizar, afinal de contas, apesar de o dublê de presidente da República e de seu sinistro da economia bradarem que a economia anda de vento e popa, o que é uma mentira deslavada, uma vez que os preços andam inflacionados como não víamos desde o governo Sarney, o Rock in Rio ainda assim seria a melhor opção para quem quer ver além do Maiden, o Dream Theater, Gojira, Sepultura e mais uma ou duas bandas no palco Sunset, pois é humanamente impossível assistir a todos os shows dos dois palcos, pois não dá para revezar entre os dois lugares de maneira razoável. Então repetimos a pergunta: por quê o dia do Metal no Rock in Rio é o único a ainda não ter sua carga de ingressos completamente vendida?

Ainda restam ingressos para o dia do Metal.

Reprodução

Ainda restam ingressos para o dia do Metal.

O Brasil está longe de ser o país do Metal, apesar do nosso país ser berço de algumas das principais bandas da cena: daqui saíram para o mundo o Sepultura, Angra, Viper, Krisiun, entre outras. Mas essas bandas possuem maior reconhecimento fora do que dentro do próprio Brasil. Além disso, por majoritariamente ser cantado em inglês, isso acaba por dificultar a percepção das grandes massas, que preferem músicas dançantes, mais fáceis de serem cantadas e com conteúdo lírico tão raso quanto uma piscina infantil, há também o problema da cidade do Rio de Janeiro em si, onde o estilo está bem longe de atrair multidões. O cidadão fluminense em geral gosta de funk, pagode, samba e outros estilos de gosto bastante duvidoso. Até há demanda para se esgotar ingressos, mas esbarra também na má vontade do fã, que muitas vezes prefere ficar em casa, reclamando nas redes sociais que o Rock in Rio toca mais outros estilos do que o Rock em si, o que é uma meia-verdade, mas não o ponto principal deste artigo. Até podemos debater esse tema em outro momento.

Salvo raras exceções, os shows no Rio de Janeiro são esvaziados. Por isso, muitos produtores evitam trazer alguns artistas para cá, pois o prejuízo é certo. Em compensação, shows de outros estilos são muito mais baratos em comparação com os shows de Rock e Metal. Apesar dos cálculos feitos lá no início do texto, R$625 reais não é uma realidade para grande parte do brasileiro, tendo em vista que o valor corresponde a mais do que meio salário mínimo e pelo tempo que a pessoa vai permanecer dentro da Cidade do Rock, comer e beber algo será algo obrigatório, o que não é muito barato lá dentro. E em um país onde 30 milhões passam fome, nem todos têm condições de gastar com ingresso e alimentação dentro do local do festival. Se o fã for de fora do Rio, outros custos precisam ser levados em conta, como transporte e estadia, o que eleva ainda mais os custos. Nem todo brasileiro dispõe de R$625 para gastar.

Sem contar que na Europa, o Rock e o Metal fazem parte da cultura. Lá a concorrência é enorme: tem Wacken, Hellfest, Vagos, Sweden Rock Fest, Rock Am Ring, Summer Breeze, Graspop, Copenhell, Bloodstock. Todos com ingressos esgotados, uma variedade imensa de bandas, com o poder aquisitivo do europeu bem maior do que o do brasileiro, ainda que a guerra entre Ucrânia e Rússia esteja afetando a economia global de uma maneira geral. A mobilidade também é um fator que conta a favor do europeu, afinal, é muito mais fácil o sujeito se locomover do sul de Portugal para o norte da Alemanha, por exemplo do que um cidadão sair do Acre ou de Rondônia para o Rio de Janeiro. O dólar também conta, pois fica muito mais barato para as bandas excursionarem pela Europa. Trazer os shows para a América do Sul é algo que encarece, por toda a logística necessária e quem paga a conta no final é o consumidor.

Outra explicação talvez seja o próprio lineup. O staff de Roberto Medina aposta na bola de segurança. Essa já é a quinta edição do festival que o Iron Maiden participa. Em 2019 os ingressos foram sold out, mas o cast era pra lá de convidativo: Slayer com sua turnê de despedida e Anthrax no palco sunset, enquanto que no palco mundo Scorpions e o Helloween, esta última com sua formação que junta o presente e o passado, deixaram aquela edição interessante como poucas vezes se viu. Essas atrações foram muito mais chamativas do que as que estarão neste ano e fizeram com que o dia fosse o primeiro a esgotar os ingressos. É claro que o Megadeth cancelou a participação, optando por tocar com o Finger Finger Death Punch.

Como se trata de business, não vamos nos surpreender caso o Heavy Metal seja preterido na próxima edição do festival, tal qual ocorreu em 2017. Seria bom a organização do festival repensar as bandas, evitar a repetição, pois tende a esvaziar, como parece ser uma das causas este ano. Torcer também para que com um novo presidente, este possa vir a atrair os investidores estrangeiros, fazendo com que o câmbio fique justo com a nossa moeda. Com ingressos ainda disponíveis para o dia 2 de setembro, os interessados podem ir no site do Rock in Rio comprar os tickets, que esse ano serão 100% digitais.