Resenhas

A Carnival of Reveries

Until They Burn Me

Avaliação

8.5

Until They Burn Me chega com seu segundo álbum, ‘A Carnival of Reveries’, trazendo o que sabe fazer de melhor: uma mistura visceral de classic rock e folk, country com toques de misticismo que refletem sua trajetória underground e independente. O disco de 9 faixas mergulha em temas que oferecem uma reflexão crua e implacável da vida em um mundo cada vez mais desarticulado, com baladas de assassinato à moda antiga, aproveitando experiências pessoais para criar uma coleção profundamente ressonante de músicas, e este álbum é mais um passo firme em sua jornada sonora. Gravado com emoção sincera, aoquímica musical e o foco de sua parceria musical de 30 anos transparecem em abundância nesta pequena coleção assustadora, adicionam um toque pessoal a cada faixa, tornando este álbum imperdível para os entusiastas da música.

A abertura com “Dark & Deep” já mostra suas origens enigmáticas. Um folk americano sombrio, pesado com sentimento profundo, muito místico. Logo na primeira faixa o artista transmite sua lamúria e dor emocional, de forma assustadora. O álbum conta a dupla Cody Carlyle e Travis Jordan, que infundem o disco com um som único e cativante que o diferencia, representando todos os tipos de esperança, desesperança, desespero e energia espiritual que você possa imaginar, tendo como pano de fundo baladas de assassinato.

Em “To The Bone” temos uma batida suave de violão, muito folclórico e uma pegada cheia de atitude com um instrumental mais emocionado. Os vocais sussurrados trazem uma autenticidade difícil de ignorar. O disco tem variações de sentimento, nessa faixa temos uma melodia hipnotizante que parece flutuar em um mar de reverberação, trazendo mais o lado sombrio, inspirados em filmes do Quentin Tarantino. O ”voz e violão” são o ponto central, e a autenticidade da faixa é admirável.

“Licorice & Lollipops” resgata a pegada post punk robusta e densa com riffs de guitarra pesados que faz qualquer um ”dançar’ ao ritmo da batida, um hit roqueiro de primeira linha que lembra tons de Talking Heads e “Cars” do Gary Numan – mas muda de ambiente para um som mais pop dos anos 80. Já a seguinte, “Dig Them Graves”, explora um som mais soturno, denso e misterioso, onde os riffs rápidos se destaca com uma linha minimalista e poderosa. A banda dá um passo criativo e experimental aqui, criando um equilíbrio fascinante. Impossível não se lembrar dos ícones do southern rock e country dos anos 70.

“Night Passage of Painted Dog”, a faix amais curta, somos mantidos nas profundezas do sombrio, com uma atmosfera angustiante e reflexiva, com linhas de guitarra características e batidas de arrepiar. É uma faixa que quase podemos sentir a escuridão enquanto a melodia se estende no horizonte, com uma introdução de trilha sonora de filme de terror.

“Revealed to Him in the Wild” chega entregando mais suavidade, mantendo o lado do post punk, dessa vez com o som mais rock’n’roll e menos arrastado. Criando um ambiente cinzento e introspectivo. É um rock mais melódico e cativante, para dar contraste à faixa anterior, sendo a faixa mais comercial do disco. Sem deixar de lado o tom obscuro inspirados em Bauhaus, Killing Joke, e mais.

“White Devil” surge como uma faixa ritualística, cheia de percussões tribais e uma atmosfera tensa, com riffs mais trabalhados e rock’n’roll, que parecem sintetizadores, inspirados em The Cure mas mantendo os vocais gaves e charmosos, que parece invocar algo ancestral, para ser cantada como um hino nos shows, além de ter um balanço gostoso. A seguinte, “The Golden Motel Room”, além do nome já trazer essa vibe, a sonoridade é uma imersão sensual, sombria, totalmente com o estilo do rock americano, com vocais fortes sussurrados, capazes de conduzir o ouvinte aonde o vocalista quer, como magia. A canção lembra Me and That Men, em uma mistura de Tarantino.

Encerrando essa viagem sonora perfeita, temos “Josef K”,  a faixa mais longa, uma combinação inesperada, mas que funciona surpreendentemente bem, com mais balanço, dançante, seguidos pelos vocais profundos mas aqui mais alegres – vocais maravilhosos que carregam este disco de um jeito sombrio, misterioso mas satisfatório. Aqui sentimos a energia do final feliz, o post punk escuro dos anos 80, emocionante mas cm o balanço do country rock animado. Somos surpreendidos com licks de guitarra inusitados, onde a banda ousou em criar algo único e deixar sua assinatura. Acho que é a faixa que mais gostei.

Until They Burn Me entrega uma obra que mistura peso, melancolia e experimentação, tudo com um toque sombrio e místico que só eles sabem fazer. Definitivamente, você precisa ouvir esse álbum – mais de uma vez.