Resenhas

Bleed Hope

The Transits

Avaliação

9.0

The Transits, um trio neozelandês-sul-africano de pop punk, emerge com seu aguardado segundo álbum ‘Bleed Hope”, trazendo uma sonoridade direta, que vai agradar especialmente os fãs do estilo mais tradicional até os mais moderno do gênero. The Transits combina suas diversas influências em um som dinâmico e explosivo e entrega uma performance densa e agressiva em todas as 15 faixas do disco. Com uma combinação engenhosa de passagens grunge, punk e alternativo, cada faixa deste álbum mergulha o ouvinte em um mundo exuberante e sombrio, repleto de inquietação. O álbum prova a capacidade do The Transits de equilibrar emoção e energia, criando um registro coeso e dinâmico, segundo comunicado à imprensa, “é o som da colisão. Luz contra escuridão. A calmaria antes da tempestade. Um lampejo de nostalgia aguçado pela intensidade do presente”.

O novo álbum combina letras introspectivas com um instrumental que alterna entre impulsos pop-punk, texturas alternativas e construções cinematográficas, criando um disco de faixas curtas, onde cada música funciona tanto como afirmação emocional quanto como explosão sonora.

E a banda já prova isso na abertura com Outsiders”, um convite para o mundo pesado e emotivo, com riffs pesados e melódicos e vocais intensos, já mostrando logo de cara para que a banda veio. A canção mantém o ritmo cadenciado e grave, emulando o som melancólico mas agitado do pop punk. Uma faixa muito sentimental e com uma melodia que nos vicia, com letras que exploram sentimentos de exclusão e identidade marginal.

Em “Live Today” o tom agressivo característico do pop punk continua. Um ponto interessante é o detalhe de sentirmos como se fosse um CD de uma banda dos anos 2000, que pegamos para ouvir. Os vocais trazem mais sentimentalismo, sendo possível sentir a emoção na voz de Ryan Lunn. Sem dúvidas, é a faixa mais comercial do disco, perfeito para rádios, podendo se tornar um hino.

“Dancing With Shadows” traz riffs mais densos e melódicos, onde é possível perceber a influência oldschool da banda no peso emocional de Blink 182 e Sum 41, mas há um toque mais moderno, sendo perfeitamente uma banda nova que soube abraçar a modernidade e criar um ambiente moderno influenciado pelos pioneiros do estilo.

Há muita técnica no som da banda, sendo notável em “Bleed Hope”, a faixa que carrega o nome da obra – uma canção que incorpora tanto a fragilidade quanto a resiliência presentes no coração do disco. Os clássicos riffs do rock alternativo dos anos 2000, que vem ganhando notoriedade em um revivel incrivel, é perfeitamente mostrado aqui. Os vocais aqui ganham mais intensidade, trazendo aquele hino perfeito que faz o público cantar junto.

“Middle Of The Night” nos é apresentada com aquela vibe de jam de garagem levada ao limite, com instrumental simples mas ardentes, em vocais penetrantes de uma faixa imersiva, comovente e a mais emotiva do álbum, mergulhando no terreno da introspecção noturna, refletindo sobre pensamentos que surgem longe da luz do dia. “Ghosts Of Summer” explode com uma base rítmica sólida e riffs fortes, peso e agressividade, tornando-se a faixa perfeita para um show cheio de mosh, mas ainda assim mantendo o clima melódico, com letra que evoca lembranças de tempos passados.

“Find My Way Back To You” continua a brutalidade mas com melancolia e riffs sinuosos que vem e voltam e convidam a todos para bater cabeça. Chegando “Never Back Down Feat. Lacey Lunn”, o clima muda para uma vibe mais synth e moderna, mudando todo o conceito. Aqui sentimos muita influência do synth pop com riffs e vocais de Lacey Lunn, que dão uma nova textura, em uma tempestade sonora, mas mantendo a energia underground do pop punk – talvez uma faixa que caberia em um EP separado, mas ainda assim eu adorei.

Em “Living Dead For A Paycheck”, retorna com o pop punk de primeira linha e entrega riffs de guitarra memoráveis e vocais agressivos que desabafam a crítica às rotinas sufocantes da vida moderna. “Empty Room” oferece uma pausa reflexiva no disco, onde somos surpreendidos com vocais muito técnicos, a bateria segue o ritmo denso e potente, fervendo, junto com o baixo que marca forte presença em um groove e sintetizadores que mantém o clima denso, para criar um som mais acessível e memorável.

“Come Melt My Heart” é mais uma faixa que explode melancolia e riffs sinuosos e densos, que arrastam o ouvinte em uma viagem depressiva mas com toda beleza que só o pop punk consegue fazer, além de uma imensidão de jovens que souberam utilizar a técnica clássica mas incorporar tons modernos. A seguinte “Simple Love” traz o mesmo visual melancólico mas tem uma energia synth, em mais uma faixa fora da curva, mas maravilhosa – com influências de Nothing but Thieves.

Preparando os ritos finais, “Guiding Lights” surpreende pela versatilidade, efeitos vocais e instrumental denso que carrega forte energia nsotálgica, seguido de “Back To Yesterday”, outra faixa nostálgica que facilmente entraria em trilha sonora de filmes estrelados por Lindsay Lohan ou Hilary Duff.

Para encerrar, “Youth Puppets” entrega a brutalidade mas com riffs ritmicos e bem melódicos. mantendo o som denso e sombrio, e a energia moderna que já é assinatura do The Transits. As letras comentam a manipulação e a juventude moderna, enquanto o instrumental é impactante e cheio de energia, sendo a faixa mais forte. Esse álbum vem com um ritmo que nenhum fã do estilo poderá colocar defeito.

No entanto, é importante notar que The Transits não se aventura muito além dos limites do estilo tradicional de pop punk, porem, quando o assunto é inovar, com o uso de sintetizadores, o grupo não pisa no freio para criar melodias mais inovadoras e não convencionais. Isso resulta em um som bem executado, fiel às raízes do gênero, mas com inovação. Para aqueles que são fãs do estilo,  The Transits oferece exatamente o que se espera: riffs pesados, vocais melancólicos e fortes e uma atmosfera rebelde. Para os apreciadores de grunge e anos 90, ‘Bleed Hope’ é um prato cheio, mantendo-se fiel aos fundamentos do gênero sem explorar novos territórios sonoros.

 

Bleed Hope de The Transits