Zach Adams, direto dos Estados Unidos, não é daqueles que se contenta em seguir a cartilha do rock padrão. Seu disco de estreia ‘Dead Man Walking’ está lapidado um som que mistura diversas referências e traz um som moderno e cheio de peso. Não à toa, é a prova de que a banda encara o rock como laboratório: energia crua, sujeira bem-vinda e uma boa dose de cinismo embalada em riffs e dinâmicas que soam contemporâneas, mas também reverenciam o passado. ‘Dead Man Walking’ foi produzido pelo próprio Zach Adams e lançado em 1º de agosto de 2025 pelo selo Splitting Adams Entertainment
A jornada começa com a faixa-título, uma abertura explosiva oferecendo uma fusão envolvente de rock alternativo e progressivo que serve como um acompanhamento sonoro assombroso para seu romance de terror/fantasia, ‘Dead Man Walking: Narrator’s Cut’, e a faixa não poderia ser melhor, uma cacofonia muito bem organizada.
A faixa seguinte “When Wishing Still Helped One”, traz riffs secos mas com efeitos, bateria marcada e uma produção que já escancara o tom do disco — direto, sem massagem, mas cheio de detalhes escondidos nas camadas de guitarra. Logo depois, “Drown” mantém o peso, agora com grooves e muitos momentos de pré-tensão: baixo pulsante, vocais que exploram nuances entre o desespero e calmaria, lembrando como a escola do nu metal rock e do post-rock alternativo podem se cruzar.
A sonoridade em geral mescla peso do rock alternativo dos anos 90, técnicas do progressivo com um apelo melódico acessível, resultando em músicas que equilibram agressividade contida com passagens introspectivas. É um som que não se perde em virtuosismo: a força está na simplicidade dos acordes e na intensidade da entrega, sempre mirando impacto imediato e emocional. A voz é talvez o elemento mais reconhecível: dramática, carregada e sempre colocada em primeiro plano, com um tom de urgência e tirada do amargo.
Na sequência, “They Want You to be Afraid!” chega com uma pegada mais prog na entrada, e logo culminará em uma bateria urgente e uma fase desesperadora, literalmente transmitindo o que o nome da faixa diz. “Gelatin Skeleton” dá um passo a mais no sensorial do disco, traz um ambiente perturbador mas cômico e depois nos joga em um nu metal mais alternativo com riffs intencionalmente para cima, que sugerem momentos de êxtase, e tudo isso sem perder a veia progressiva leve que a banda não esconde.
“Petricorus” nos é apresentada com aquela vibe de jam de garagem levada ao limite, com mais dedicação a percussão e energia dos anos 90, enquanto “Becoming Hollow (Am I)?” explode em um sludge/stoner com uma base rítmica sólida e riffs fortes, sem esquecer os vocais potentes que é a identidade do artista. Chegando a “The House Always Win”, o clima fica robusto e cheio de peso, riffs densos e melodias abertas se misturam, quase sempre ancoradas em afinações mais graves, aqui temos muito mais do progressivo e toom melancolico. A bateria segue um caminho sólido e direto, priorizando batidas retas e poderosas, criando uma base quase marcial.
Em “The Last Light in the Universe” somos novamente jogados ao peso e densidade, riffs graves e arrastados, remetendo muito a TOOL em seus momentos mais abrasivos, mas sem perder a pegada própria. O melhor riff de todo disco está nessa faixa, seus 4min47. É obra de arte reflexiva!
“Apocalypsis, Pt. 1” aparece dando início à reta final do disco, com introdução sci-fi que dá espaço para riffs e vocais de energia única e uma construção que quase beira o progressivo mas mantem o espírito sujo do grunge. Sem cair na pompa excessiva, a faixa conquista aqueles que queriam uma faixa lenta depois de tanta “pedrada”. Seguida do epílogo “Apocalypsis, Pt. 2”, uma faixa instrumental de menos de 2 minutos que encerra – ou dar um ar de continuidade – para a faixa anterior, criando uma imersão poderosa.
Com sua abordagem inovadora e visão profundamente pessoal, ‘Dead Man Walking’ se destaca como uma declaração ousada de um artista emergente pronto para causar um impacto significativo na cena do rock moderno.
Fechando essa viagem sonora, “Phantom Love”, a considerada balada do disco, que conta com vocais assombrosos de Samantha Palisoc. Além das guitarras crescendo e crescendo, carregadas de distorção, bateria suave e vocais que parecem cuspir lirismo enquanto o instrumental cresce junto, num final que soa como uma explosão de sentimentos — mas deixando o caos ecoar, como em todo o disco. A faixa traz muito de bandas como The Portishead, My Bloody Valentine e afins.
Uma catarse pura! ‘Dead Man Walking’ é sujo, pesado, irônico e incrivelmente humano. Se você gosta de se perder entre os riffs viajantes, a intensidade do TOOL ou ouvir clássicos dos anos 2000 como Dope, Radiohead, esse álbum merece seu play. O conselho é simples: ouça alto, sem pressa e deixe a máquina de dopamina girar até o fim.