Boston já deu ao mundo nomes que carregam o rock e o folk na veia, e agora entra em cena Derek Astles, um projeto que retoma as raízes do country folk característico americano. É o álbum de estreia de Derek, mas soa como se fosse o terceiro ou quarto da carreira. Repleto de nostalgia.
Com produção afiada de Barry Marshall e o time certo ao redor – Tony Savarino esculpindo solos na guitarra, Josh Kerin segurando o baixo com elegância e Tom West trazendo calor no teclado –, Derek entrega um disco que mistura Church Rock, folk urbano e ecos do Soul com um pé na costa e outro na highway.
Logo na abertura, “Nor’easter” sopra como uma tempestade de areia: guitarras ondulantes, uma linha de bateria simples e um vocal que entra te contando uma história, a faixa tem tudo de elementos do folk americano, mas o que brilha e traz nostalgia é o violino e as vocalizações do refrão. Em “I Prayed for Peace on Earth”, o clima continua — com a diferença dos arranjos mais etéreos e a levada suave do órgão de fundo criam uma atmosfera de contemplação como as músicas gospel caipiras americanas de Louisiana.
“Way Out There” vem em seguida, é quase um convite para pegar a estrada, um gospel blues que lembra as canções Lonnie Johnson. Em “Do it All”, a bateria ganha destaque — seca, direta, e dançante — e o baixo dá aquele toque levemente funky, quebrando expectativas e mostrando versatilidade essa faixa é o verdadeiro baile, de Georgia Satellites, The Delaware Destroyers até Doc Watson tudo aqui está escancarado, a faixa tem nostalgia, atmosfera e transportar facilmente a gente ao ambiente vermelho do oeste de 1800.
“Kills my Buzz Thinkin’ ‘bout Death” é a pérola mais ousada do disco. Começa com o banjo caipira e logo as guitarras em slide entram em cena, flertando com uma vibe psicodélica e caipira, num som pantanoso e cheio de sotaque. “Reflections” retorna com a banda completa novamente, a bateria volta em uma faixa mais dramática, mas não menos agitada — Quentin Tarantino deveria ouvir essa! — aqui, Derek mostra domínio em usar o silêncio e o espaço como instrumentos.
O encerramento fica com “The Waves”, e é um golpe de mestre. É como se toda a jornada culminou nessa faixa: um instrumental que vai crescendo, o teclado, o orgão, o violino, o Banjo e tudo vai se montando em camadas se acumulando até explodirem numa catarse emocional. Um final digno de um disco que nasceu na estrada, mas que desemboca no coração.
Para quem curte a honestidade instrumental de Jeff Buckley, o clima de estrada do Folk Americano, Derek Astles é um prato cheio. Um disco de estreia que já chega com alma de veterano. E a sensação ao terminar? Vontade de voltar à faixa um e reviver tudo.