Resenhas

Dreaming from Elsewhere

Shockpowder

Avaliação

9.5

Com influências que vão do post-rock ao shoegaze e metal, Shockpowder já nos mostrou sua habilidade de misturar gêneros e criar paisagens sonoras que reverberam profundamente na alma. Formado em 2015 e pilotado pelo multifacetado Joshua Scurfield, este projeto é uma ode à capacidade infinita da música de nos transportar para outras dimensões. Agora, com o lançamento do seu segundo álbum, “Dreaming from Elsewhere”, o grupo está pronto para nos levar a uma nova exploração sonora.

O álbum, composto por 13 faixas, é um compilado das canções que o detentor do projeto,Joshua, lançou nos últimos anos. Cada uma delas é uma peça de um quebra-cabeça sonoro que revela o universo profundo que Shockpowder deseja apresentar.  A primeira faixa é “Evergreen Solace”, um trabalho que se aproxima com o do grupo Alcest, que se põe no mercado como shoegaze/blackgaze. A maneira como as camadas de som se entrelaçam cria uma sensação de paz perene, um verdadeiro bálsamo para os ouvidos.

“Human” segue a mesma linha da anterior. Guitarras distorcidas ao máximo, palhetadas alternadas e rápidas porém transmitindo um som calmo e lisérgico, enquanto os riffs de guitarra carregam uma intensidade emocional que nos faz transcender. É uma montanha-russa de sentimentos, um testemunho divergente da música. Em “Nonsensical Dream”, somos agraciados com um dedilhado iniciando a canção, que varia mas volta e permeia durante quase toda canção. As melodias se desenrolam de maneira quase improvável, mas ainda assim, cada nota encontra seu perfeito encaixe motivador. Essa faixa, diferente das demais tem um trecho pesado e bucólico, um verdadeiro instrumental Black Metal, antes dos vocais angelicais e sussurrantes entrarem.

“Swimming in the Clover” volta a aura contemplativa, mas por pouco tempo. A melodia flui como um riacho tranquilo, com uma simplicidade encantadora que nos faz sentir como se estivéssemos flutuando em um campo de trevos, porém é aos seus 3 min que as coisas mudam de forma brusca. A transição do calmo para o death metal soa estranho de começo, mas conforme você se acostuma com essas surpresas, as coisas ficam claras e mais interessantes. Um ponto positivo.

Em “Flux” a surpresa inicial de mudança de tom é clara. Aqui, as guitarras ganham uma nova vida, em um jogo de dinâmica pop e intensidade que fogem do já carimbado pelo grupo. Tudo isso se subverte logo em seguida, quando a aura sombria e profunda volta ao ar – tudo isso para nos momentos finais culminar novamente ao som pesado e brutal.

“Numb but Fragile”  carrega um peso emocional palpável,uma canção ainda lúgubre mas que resolve abrir com leveza. É uma faixa que convida à introspecção, a olhar para dentro e abraçar nossas fraquezas e que assim como a anterior, no fim mostra o peso e brutalidade característicos do estilo “Älcest” de compor. “Talking to Plants” nos leva a um diálogo mais direto e revoltado – uma faixa que não buscou brincar com as emoções – foi direto ao ponto.

A oitava faixa “The Drowning and the Sunset” busca o mesmo que algumas faixas anteriores. Com uma introdução melancólica que gradualmente se transforma em uma explosão de som e cor e brutalidade, esta faixa encapsula perfeitamente a dualidade entre luz e escuridão, esperança e desespero, calma e raiva, e faz tudo isso sem medo. “Rainfall Chant” continua com essa temática lisérgica, usando a percussão blast beat picotada aliada a guitarra e vozes calmas criam uma atmosfera introspectiva e meditativa. Enquanto “Oxygen”. puxa pro progressivo “punk”, com riffs calmos e cativos e uma voz suave que soa idêntico a voz de sua consciência. Em seguida, “The Ghost in Spring” te puxa para realidade melancólica e depressiva black metal, com uma melodia que evoca o sentimento do inverno e todas as suas nuances.

Chegamos na reta final com “Horizon” que é o ritmo perfeito para despedida. A faixa se estende como uma vastidão sem fim, com uma progressão lenta e constante que nos leva a contemplar o infinito. Finalmente, temos “Europa” que fecha a jornada em definitivo. A música é uma sinfonia de emoções,começando pequena e crescendo até virar um black metal de letras humanas e sentimentais. Incrível

“Dreaming from Elsewhere” captura a essência dos sonhos e os ilustra em música. Cada faixa é um pedaço desse quebra-cabeça emocional que Joshua Scurfield tão habilmente construiu, deixando-nos ansiosos pela próxima viagem sonora que ele nos proporcionará.
Se você gosta de Shoegaze – Esse cara vai te surpreender! ouça-o!