Resenhas

Fortitude

Gojira

Avaliação

9,0.

Comemorando seu 20° aniversário sob o nome Gojira, já que entre 1995 e 2001, a banda se chamava Godzilla, quando foram obrigados a trocar de nome por questões de direitos autorais, o quarteto francês acaba de soltar o 7° álbum, ‘Fortitude’.

Lançado pela Roadrunner Records na sexta-feira, 30 de abril, o novo play dá fim a um jejum de quase 5 anos, desde que seu antecessor, “Magma” viu a luz do dia. A bolacha certamente vai desagradar aos headbangers reacionários brasileiros, aqueles que insistem em tentar combinar duas coisas simplesmente impossíveis de serem conciliadas: Rock and Roll e tendências fascistas. É sabido do engajamento dos caras nas causas ambientais, o que é pra lá de louvável. E os fãs do dublê de presidente, acham que abrir os olhos da comunidade internacional para as atrocidades que estão sendo cometidas com a Amazônia é uma coisa inútil. No novo play, os franceses dedicaram uma canção com o nome da região que deveria ser mais valorizada pelos governantes.

Não somente isso, eles organizaram um leilão com o objetivo de angariar fundos para ajudar as comunidades indígenas que sofrem ao longo dos anos, tendo este sofrimento quadruplicado com a (falta de) gestão desse sujeito inescrupuloso chamado Ricardo Salles. Para quem não sabe, esse sujeito tem a desonra de ser o ministro do meio ambiente e sua política é a de incentivar o desmatamento da área mais rica da biodiversidade mundial, nem que para isso tenha que destruir todos os tipos de vida que lá habitam. Mas o bem sempre vence, e os caras montaram a chamada Operation Amazonia, que contou com a ajuda de nomes como Robert Trujillo (Metallica), Eloy Casagrande (Sepultura) e Max Cavalera. Todos doaram instrumentos para o leilão. É, o mundo ainda tem salvação. Mas confesso que estou ansioso para ler e escutar a choradeira dos fascistas, que irão chamar a banda de Comunista, dizer que eles estão lacrando… Aqueles argumentos, profundos como uma piscina infantil.

Voltando a parte musical, “Fortitude” foi concebido em Nova Iorque, mais precisamente no Silver Cord Studio, sob a batuta do vocalista e guitarrista Joe Duplantier, tendo o trabalho de mixagem ficado a cargo do grande Andy Wallace. Com este nome participando do processo de criação, é muito difícil que o resultado final seja ruim e é o que vamos conferir a partir das linhas abaixo. Venha comigo, no caminho eu te explico.

“Born for One Thing” abre o play com riffs nervosos e a medida que a música se desenvolve, alguns estilos vão dando as caras aqui, como o Groove e partes bastante atmosféricas. A faixa mais famosa do play chega e “Amazonia” é muito carregada de Groove e quem não conhece pode achar que se trata de um dos inúmeros projetos de Max Cavalera, tamanha a semelhança. Seu andamento mais arrastado é o que chama a atenção. O início ficou sensacional.

“Another World” é bem puxada para o Prog e ela é relativamente cadenciada e há espaço para excelentes viradas do não menos excelente Mario Duplantier, certamente um dos melhores bateristas da cena atual. “Hold on” tem uma introdução enorme, que consome mais da metade de seus cinco minutos e meio. Essa intro começa bem chatinha, mas a música vai crescendo com riffs pesados e mais clima atmosférico, o que salva a faixa.

“New Founder” é bem moderna e bem tocada, conta com uma bela disputa entre o baterista Mario Duplantier e a dupla de guitarristas Joe Duplantier e Christian Andreu, em um determinado momento da música, que no geral, ficou um pouco abaixo das demais. A faixa título é uma breve instrumental acústica que dura dois minutos.

“The Chant”, a faixa que emenda a faixa anterior e que parece ser uma extensão da mesma, pois tem o mesmo clima psicodélico, desta vez com os instrumentos plugados, onde o peso praticamente inexiste. Estas três faixas quebram um pouco o bom clima que o álbum vinha tendo. Felizmente as coisas retornam aos seus lugares com a pesadíssima “Sphinx”, onde eles não negam a influência que o Sepultura sempre exerceu sobre eles.

“Into the Storm” chega e traz uma certa velocidade misturada com muita quebradeira em sua intro, mas logo os riffs sensacionais tomam conta de tudo nas estrofes enquanto que a atmosfera ocupa espaço no refrão. A velocidade volta a ser protagonista em um pequeno trecho, já ao final. Belo exemplo de inspiração. “The Trails” é uma grata surpresa, uma faixa tipicamente Prog Metal, onde Joe Duplantier optou por um vocal limpo e isso combinou muito com o clima sombrio da música, que é certamente o ponto alto do play, ainda que seja completamente diferente da proposta da banda.

“Grind”, a faixa derradeira devolve o peso à bolacha, com excelentes riffs e a quebradeira de Mario Duplantier. À medida em que a faixa se desenvolve, vários elementos são adicionados, com direito a muita modernidade e um belo clima atmosférico, isso deve-se muito às belas linhas de baixo, executadas por Jean-Michael Labadie.

Em 51 minutos de audição temos um play muito acima da média, com o selo de qualidade que o Gojira nos acostumou. A produção está caprichadíssima e a complexidade das composições é perceptível. Confesso que o instrumental da banda nunca chegou a me empolgar plenamente, embora meu respeito pelo trabalho dos caras tenha se mantido intacto ao longo dos anos, mas em “Fortitude” os caras encontraram a maturidade. E assim o Gojira chegou dando o seu recado. Nota 10 para o engajamento social dos caras, 8 para o que eles nos apresentaram no seu lançamento. Na média, os caras ficam com 9, e de quebra, largam na frente para figurar ao menos nos Top 5 dos melhores álbuns deste 2021 de pandenia interminável. Por mais bandas inteligentes (ou lacradoras, o terno pejorativo ao qual os reaças costumam chamar os seres pensantes, que discordam deles) na cena. Precisamos de vocês.

Faixas:

01 – Born for One Thing
02 – Amazonia
03 – Another World
04 – Hold on
05 – New Found
06 – Fortitude
07 – The Chant
08 – Sphinx
09 – Into the Storm
10 – The Trailer
11 – Grind

Formação:

Joe Duplantier – vocal/ guitarra
Mario Duplantier – bateria
Jean-Michel Labadie – baixo
Christian Andreu – guitarra