Em meio ao caos e a guerra na Rússia, um quinteto desafia as barreiras do convencional, mergulhando em um oceano de sonoridades e narrativas únicas. O Fugu Quintet, originário de São Petersburgo, não apenas desafia as convenções musicais, mas também brinca com a própria ideia da criação artística em seu novo álbum, “Interweavement”.
Em decorrência da guerra na Rússia esse grupo teve a coragem de dar uma pausa em seus sonhos por um bem maior, o Fugu Quintet se apresenta como um farol de originalidade, navegando por correntes musicais obscuras e progressivas. Como eles próprios descrevem, o álbum é uma tentativa de desafiar o status quo da cultura contemporânea, uma resposta à iminente ameaça de estagnação criativa – e também uma alternativa de fuga da realidade. É como se eles estivessem desafiando os próprios criadores do jazz, dizendo: “Veja, ainda há inovação aqui!”
“Interweavement” é uma viagem sonora que mescla elementos do dark jazz e do noir com a experiência do rock progressivo. É uma tapeçaria de sons complexos, entrelaçados de forma magistral para criar uma atmosfera envolvente e intrigante. Cada faixa é uma peça única desse quebra-cabeça sonoro, contribuindo para a narrativa coletiva do álbum.
“Firefly” é a fagulha que inicia o incêndio, com sua melodia sinuosa e ritmo hipnótico quebrado, evocando imagens de uma noite estrelada iluminada por vagalumes dançantes. A complexidade de camadas de instrumentos é algo que te faz arrepiar, a entrada do Sax é uma das coisas mais épicas que o Jazz pode proporcionar, o clima “pinkfloydiano” aliado ao charme e mistério da canção te deixam de cabelo em pé. Seguindo adiante, “No One Had Come” adiciona uma camada de tensão e mistério, com sua introdução de notas alongadas e de volume crescente do que parece ser um piano/ órgão surgindo do fundo de um oceano em um acorde sombrio, que toma forma e progressão implacável quando se adiciona as caixas e condução da bateria lentas aliadas. É como a trilha sonora de um suspense psicológico, mantendo o ouvinte à beira do assento. Uma verdadeira trilha Noir!
A quarta faixa,“Worry” traz uma sensação de melancolia e contemplação, os primeiros acordes logo trazem a leve homenagem de “Shine You Crazy Diamond” do Floyd, mas logo vira um Jazz Funky brutal e hipnotizante, o pulsar do baixo parece sair de nossa cabeça e ser “expulsos” por nossos ouvidos – essa faixa é simplesmente ABSURDA, permitindo que o ouvinte se perca em pensamentos profundos, cheios de momentos e nuances que vão da euforia até a calmaria em segundos!
Voltamos a programação normal com “Duck Of War”, com sua batida pulsante, sinuosa e escorregadia e riffs ardentes. É uma explosão de criatividade e intensidade, mostrando o dinamismo rítmico do Fugu Quintet. Dinamismo que é quebrado com “Where Flmingos Fly” outro rock progressivo “floydiano” de primeira, com uma introdução longa, misteriosa e brutal sua fusão única de sonoridades exóticas e progressão intrigante é o imã principal para te fazer colar nos fones de ouvido. É como uma jornada através de paisagens exuberantes e surreais, uma viagem ácida e colorida, que vai do inferno ao céu, passando um vislumbre do purgatório diversas vezes, como uma montanha russa que no fim deságua em melancolia e solidão. Até aqui, esse disco foi uma das experiências sonoras mais genuínas que tive com o estilo, exalando e provocando emoções de forma exímia através dos acordes das canções. “Krakatoa” vem para coroar e encerra o álbum com uma explosão catártica de emoção, com seu ritmo lento e arrastado, progressivo e provocador. É como uma erupção vulcânica de criatividade, deixando o ouvinte sem fôlego.
Em suma, “Interweavement” é com certeza um álbum emocionante. É uma declaração de criatividade e originalidade em um mundo cada vez mais padronizado. O Fugu Quintet não apenas desafia as convenções musicais, mas também desafia a própria noção de criação artística. Enquanto o mundo ao seu redor pode estar congelado pela guerra, sua música continua a fluir, viva e intemporal. Então, mergulhe nesta jornada sonora e permita-se ser transportado para novas fronteiras da imaginação.
