Diretamente da França, a dupla MonastR não está aqui pra entreter com riffs genéricos ou firula técnica vazia. ‘Of dust and bones’ é um disco conceitual que soa como um soco filosófico dado com luva de aço distorcido. Apenas duas faixas atravessam a inevitabilidade com peso, melodia e um senso de urgência que parece feito sob medida pra quem ainda acredita em música conceitual de longa duração. Com algumas gravadoras envolvidas (Shove recs, Nothing to harvest, Insane society, Counteract recordings), o material será lançado em vinil em duas versões: vinil preto com lado B serigrafado em branco e vinil colorido com serigrafia preta – prato cheio para os colecionadores como nós.
Esse é o terceiro EP da banda, provando que desafia a si mesma, colocando a prova sua capacidade de se reinventar. Aqui temos uma avalanche de guitarras carregadas com groove de Blackened death metal em sua parte mais sensível – mas ainda brutais do disco. São duas faixas, de 10 minutos cada, com uma tensão crescente que entrega tudo de cara, e já deixa claro que o som vai muito além de uma parede de distorção.
A faixa-título cresce como uma tormenta silenciosa – até que explode em um clima que mescla o blackened com post-metal, que define a estética do álbum. A canção mergulha no lado mais introspectivo e técnico da dupla. As camadas de guitarras falam entre si, o sentimento de descida, de afogamento, é claro. Vemcom aquele clima “Behemoth meets Alcest”, mas sem perder a alma – ainda podemos notar diversas outras referências do stoner, doom e progressivo. É matemática emocional, se é que isso faz sentido (faz sim, depois de ouvir você entende).
A faixa tem 10 minutos, como manda toda a estética do estilo, com mudanças de ambientes suaves para não deixar o ouvinte se enjoar – nem parece que é a mesma faixa que estamos ouvindo por 10 minutos. Os vocais guturais fortes e densos são arrastados e transmitem a sensação de profundidade, há partes faladas, como um prelúdio da história. Os riffs de guitarra densos e complexos combinados com atmosferas frias e melódicas, valorizando a criação de paisagens sonoras expansivas e imersivas. A canção utiliza elementos do shoegaze para construir camadas de som complexas. A faixa muda vários ambientes, e perto do final há falas de filmes, desespero, o som se torna mais pesado e sentimentos um vazio quando a faixa acaba.
A segunda faixa “Millions” reafirma a veia mais pesada do projeto, com quase nove minutos. Entra como respiro, limpa o céu com ambiências suaves, delay cristalino e uma composição que parece trilha de um final de filme que te deixa pensando na vida – com uma narrativa de filme mesmo. Aqui o começo mistura melodia triste e riffs que abraçam e apertam ao mesmo tempo, o tipo de faixa que você ouve e imagina areia se movendo em câmera lenta, enquanto o tempo engole tudo. Aqui o foco está em texturas sonoras, melodias sutis e crescendos progressivos, em vez da agressividade tradicional do metal. Os riffs mais ambientes, até sermos surpreendidos com o peso que marca o estilo do MonastR: riffs distorcidos e o peso usados para criar texturas e atmosferas. Essa faixa mais parece um filme de terror e suspense – lembrou o filme experimental Begotten. E antes que sinta falta, os vocais fortes estão de volta para concluir essa faixa marcante.
MonastR pode ser seu novo vício. ‘Of dust and bones’ é puro peso e sentimento — é uma experiência. Um lembrete sonoro de que até a inevitabilidade pode soar bonita, se tocada com a alma certa.