O Sepultura não é mais a banda dos Cavalera, ponto! Estamos falando de uma banda renovada, que evoluiu o seu som e consegue mostrar músicas muito bem amarradas, com traços de sua identidade aliados à novos elementos. “Quadra”, seu mais novo trabalho não foge a regra e segue os passos do ótimo “Machine Messiah” e vai além. Se você ainda sofre do mal da “viuvez” pelos Cavalera, essa é a sua chance de correr deste texto, pois aqui você encontrará elogios à atual fase da banda e do que se trata esta nova obra.
“Isolation” é quem abre os trabalhos. A faixa já conhecida do público tem o início em tom de uma grande obra, com uma introdução orquestrada que irá agradar em cheio os fãs de Dimmu Borgir e similares. Logo em seguida a quebradeira começa e o Sepultura mostra que ainda tem muita lenha para queimar com todos os seus integrantes mostrando um entrosamento gigante e destaque para Eloy Casagrande que apresenta uma forma estupenda de tocar bateria e se mostra um dos melhores bateristas da atualidade. Outro que ganha destaque merecido é o vocalista Derrick Green que dispara palavras com a fúria transbordando em cada nota. O contratempo na metade é ótimo e mostra que a banda não se acomodou.
“Means to An End” começa toda intrincada e recheada de groove. A guitarra de Andreas soa como um muro de concreto. Eloy da vários ares de requinte com pequenas notas que acrescenta no andamento. A parada climática no meio é carregada e cria uma atmosfera perfeita pro breakdown que vem em seguida com um ótimo solo muito bem executado.
O começo caótico de “Last Time” mostra um Sepultura muito mais maduro musicalmente e mostra como sabem criar música pesada aliada à uma experiência que se refere em suas composições. Faixa ensandecida e que cria melodias raivosas e muito bem encaixadas com ótimos toques da voz do monstro Derrick. O refrão é uma porrada de estourar os fones e a quebra na metade é certeira. Os toques orquestrados também caem como uma luva e a levada brasileira aparece no meio disso tudo. Das melhores.
A percussão surge no início de “Capital Enslavement” invocando o tradicional e logo a veia mais hardcore surge numa canção mais direta, mas ainda assim de quebradeira total e muito peso com passagens do porte de um bloco de concreto. O solo é uma insanidade, assim como o seguimento vocal e uma quebrada inesperada que parece uma outra música encaixada nessa.
“Ali” é cadenciada no começo, e mais uma vez há o destaque da linha de bateria que parece ir “contra” o andamento da guitarra. Quem dita o tom é o baixo de Paulo Jr. No andamento até o refrão furioso de uma guitarra explodindo notas e quando você pensa que a música não vai te surpreender, há uma parada que chama uma passagem fantástica, mesmo que curta e mostra a diferença. Uma das mais loucas do disco todo.
A insanidade continua com “Raging Void” que é outra cadenciada e com uma ótima presença de baixo que amarra tudo ali. Aqui o refrão é que surpreende sendo uma linha vocal mais melódica, que poderia figurar muito bem no disco anterior. Já na próxima, “Guardians of Earth” começa com um violão e aos poucos um arranjo de coro surge e dá a brecha para a banda chegar sem aviso e como uma avalanche por cima do ouvinte. O encontro entre o sinfônico e o Metal é muito bem empregado aqui e o orgulho vai lá em cima numa composição dessas ser aqui do Brasil. É simplesmente absurdo a experiência dessa audição e do que os caras alcançaram aqui.
“The Pentagram” é uma faixa instrumental de por respeito em banda de Prog (inclusive nessa que você pensou ao ler a denominação) e mostra que os caras são músicos de calibre alto. “Autem”é daquelas que invocam o Metal mais moderno com uma explosão de raiva e fúria no refrão que chega igual um tanque de guerra e as coisas só vão aumentando e parece ter influência dos conterrâneos do Eminence. A trinca encerra com a faixa título “Quadra” que é mais um instrumental, mais calmo dessa vez e bem rápido.
“Agony of Defeat” é mais harmônica, um vocal limpo muito bem empregado e um andamento instrumental hipnótico. Extremamente bem construída com partes mais uma vez orquestrada que criam um espetáculo à parte. É um quase final apoteótico, gigante mesmo, daqueles que arrepiam, mas não era o final. “Fear; Pain; Chaos; Suffering” é quem cumpre a tarefa de encerrar o disco, com a participação da vocalista do Far From Alaska, Emmily Barreto. A faixa é mais lenta e confesso que ficaria um final na faixa anterior, portanto irei considerar essa como um bônus aqui.
“Quadra” é definitivamente a prova de que se alguém tem dúvidas do Sepultura seguir a sua estrada é certo ou não e a resposta é um barulhento sim. Pode mandar mais que a gente agradece e os nossos ouvidos querem mais. Uma pedrada das boas e de alto nível.
Faixas:
1. Isolation
2. Means to an end
3. Last time
4. Capital enslavement
5. Ali
6. Raging void
7. Guardians of earth
8. The pentagram
9. Autem
10. Quadra
11. Agony of defeat
12. Fear, pain, chaos, suffering
Formação:
Derrick Green: Vocal
Andreas Kisser: Guitarra
Paulo Jr.: Baixo
Eloy Casagrande: Bateria