Resenhas

reach the Stars

Alex Wellkers

Avaliação

8.5

Alex Wellkers é um daqueles artistas que não cabem em uma definição rápida. Suíço, compositor e produtor de mão-cheia, ele transforma cada trabalho em um mergulho próprio, e “Reach the Stars” confirma essa identidade. O cara começou cedo, passando do acordeão ao blues na guitarra, do rap freestyle ao grunge, até chegar nessa mistura ousada de rock, pop e arranjos clássicos.

Essa trajetória aparece de forma transparente em cada detalhe do disco. Ele mistura o íntimo com o épico. Sua voz, por vezes áspera, chega como se tivesse caminhado por pedregulhos, equilibrando momentos de grandeza orquestral (cordas, harpas) com passagens mais nuas, com violinos ou guitarra simples. As produções dão espaço aos detalhes — respirações, reverbs, contrastes dinâmicos — e ele parece não ter medo de misturar estilos, idiomas e climáticas para expressar emoções, tensão, drama.

Falando de “Reach the Stars”, o álbum, com 13 faixas, nos transporta para um universo de dramaticidade e melancolia encoberta. Logo de cara, “We Knew It All” dá o tom: piano delicado, cordas discretas, tudo crescendo em camadas até explodir em algo maior. É aquela abertura que te faz querer ouvir o resto. E antes de falar das demais, vale um preâmbulo: Alex tem um som que é visceral e sofisticado ao mesmo tempo. A voz rouca, carregada de intensidade, se equilibra entre a aspereza do rock e a dramaticidade de arranjos orquestrais. Não há medo de misturar — pode entrar guitarra distorcida e, segundos depois, harpa ou violino. É essa alternância que dá identidade.

“Bring Me the Keys” traz novamente os melancólicos violinos e, com auxílio da voz, se firma até a entrada do baixo e da bateria forte em ritmo soft rock, mostrando que o álbum vai mesclar momentos íntimos e um leve rock. Em “See Me There”, sua voz parece ainda mais próxima do ouvinte, texturas limpas de guitarra e piano, talvez alguns efeitos sutis para realçar o clima reflexivo.  Já “There Is Cars” resgata o equilíbrio: peso moderado, mas com espaço para a melodia.

Em “Desert Island”, surgem camadas atmosféricas, cordas e ambiências que soam como um cenário vasto e solitário. O disco inteiro paira nessa atmosfera lúgubre e depressiva. São mais faixas de lamento do que libertação e alívio – e isso, na minha opinião única e crítica, é o que torna o disco um pouco maçante. Até aqui, a falta de espaço na mixagem e o excesso de violinos trazem essa aura.

Voltando à audição, “Alles nicht so schlimm” traz uma faixa de título e letra em alemão, clima mais sombrio, arranjos que misturam um rock fúnebre ao rock melódico, ritmo mais contido e viradas que soam desalmadas. Em “Tu es ici” fecha-se uma espécie de bloco multilíngue e multicultural, a faixa é uma balada romântica em francês, que ganha um corpo e torna-se um rock lento.

“She Will Say”, marca a volta da energia. A oitava faixa do disco é divertida, a mais distante da melancolia e tem uma aura punk que o violino consegue acompanhar! É um possível destaque deste disco. “The Key” segue com impulso similar, só que está volta do rock mais ao estilo alternativo, e enérgico, é alto astral – esta aqui com certeza entra na lista de melhores faixas do disco.

“Mystic Saint” traz de volta a densidade e arranjos punk cadenciados, momentos cruz e cheio de versatilidade na bateria, as guitarras aqui jogam em acordes simples e repetitivos, cheio de atitude. Diferente de “What Are You Searching For” – a faixa resolve pisar no freio e traz raiva contida aqui, voz com flagger e linear não dão muita dinâmica a não ser a dinâmica de um pop punk para esta faixa.

“Now the Pages Been Turned – Acoustic” surge como um ponto de virada no álbum, um daqueles momentos em que o ouvinte é puxado para dentro do estúdio. O tom cru, sem ornamentos, lembra a essência de Alex no início da carreira: só ele e o instrumento, como se dissesse que a grandiosidade também pode existir no simples. A faixa prepara terreno para o desfecho em “Au Revoir”, que funciona quase como um epílogo cinematográfico. É aqui que todas as forças do disco voltam a se encontrar — cordas dramáticas, guitarras que se expandem em ondas, piano que sustenta a emoção e a voz costurando tudo com intensidade. A canção não soa apenas como uma despedida, mas como um convite a revisitar o caminho já percorrido, deixando ecos que continuam depois do silêncio.

No fim, se você tiver uma noite tranquila, fones bons e disposição para sentir altos e baixos emocionais, coloque para tocar esse disco. Ele combina o calor dos instrumentos humanos com a imponência orquestral, a aspereza da guitarra com a clareza do piano, cenas de silêncio com explosões de som.

Para quem se identifica com artistas que misturam rock com arranjos clássicos, como se perguntassem: “como seria se orquestra, guitarra distorcida e voz imperfeita convivessem no mesmo espaço sem brigar?”, esse disco vai agradar. Recomendo ouvir do começo ao fim, deixar cada faixa atravessar você — Reach the Stars merece mais que um “skip”.