Resenhas

Iconoclasty Of Flesh

The Endoparasites

Avaliação

8.0

Essa resenha não é para analisar um disco novo, pelo contrário, ela é dedicada a falar de “Iconoclasty Of Flesh”, único disco lançado pelo trio The Endoparasites que já passou dos 30 anos de idade. Então, por que fazer uma resenha tardia? A resposta é simples: pela sua importância para a música extrema nacional.

Cravar quem foi o criador do que dentro do metal é uma tarefa que geralmente incorre em injustiças, discussões acaloradas e acaba sendo mais subjetiva do que precisa, afinal, os subgêneros do metal foram surgindo espontaneamente por variações na velocidade, nas letras, inspirações, etc. No caso do The Endoparasites chama a atenção o fato de terem gravado e lançado um dos primeiros discos com a temática death/gore/splatter no Brasil. Enfatizo aqui o “gravado e lançado um disco”, pois é certo que outros grupos daqui estivessem também fazendo esse tipo de som, mas muitos acabaram deixando apenas demos ou nem isso.

 

Formado no Rio de Janeiro em 1989, o trio Souza-Rodrigues-Chelles era tão fã do icônico Carcass que chegaram a batizar a banda como Incubator Of Cadaveric Endoparasites, inspirados pela faixa “Cadaveric Incubator Of Endoparasites”, presente no doentio “Symphonies Of Sickness” (1989). O nome, um tanto extenso para uma banda, ainda mais brasileira, então acabou sendo reduzido para The Endoparasites a partir de 1991.

Suas músicas tinham letras que seguiam a escola gore/splatter de Jeff Walker e cia., mas o trio não chegou a ser tão detalhista quanto seus ídolos e abordava também outras temáticas, mais comuns das bandas death metal. O instrumental é bem típico do começo da década de 90: cru, sujo e com algumas passagens com metrancas, o que (de novo) Carcass, Morbid Angel, Obituary, Suffocation e Napalm Death vinham fazendo – aliás, os cavernosos vocais do Marcelo Rodrigues lembram o que Mark “Barney” Greenway fazia quando estava no (também influência) Benediction.

“Iconoclasty Of Flesh” (1993) foi sim inspirado muito no que vinha de fora, afinal, como dito antes, não havia muitas referências por aqui, mas não deve ser visto como uma cópia nacionalizada. Seu maior feito e isso não é pouca coisa, foi marcar presença nos primórdios do death/grind/splatter nacional e com uma qualidade muito boa para a época.

Avançando 30 anos, chegamos então em 2024. Graças a parceria entre a Cogumelo Records e Rapture Records, o disco que estava fora de catálogo há muitos anos, foi enfim foi relançado em CD, cravando (aí sim, com toda certeza) o título de primeiro da série de relançamentos batizada de “Brazilian The Old Skull Series”.

Lançado no formato CD com slipcase, o encarte contém as letras das músicas de um lado e do outro uma colagem com várias fotos da banda ao vivo, de divulgação e de cartazes de shows da época. Há ainda um pôster 36 x 36 cm com a capa do disco de um lado e no verso uma foto grande dos integrantes. Além das oito faixas originais, mais duas bônus tracks: “Worms In Guts/Intestinal Whirlwind” e “Day Of Carcass”, faixas da mesma sessão de gravação do álbum, mas que ficaram de fora do LP na época.

Como sou da opinião de que devemos valorizar nossos pioneiros, reconhecer e conhecer os trabalhos daqueles grupos/artistas que abriram os caminhos para tudo isso que temos hoje na nossa cena, fica meu convite a quem ainda não conhece o The Endoparasites a mergulhar nas suas entranhas!

Formação:

Adelson Souza: bateria

Marcelo Rodrigues: vocais, guitarra

M. Chelles: baixo

 

Faixas:

01 Somatic Pain

02 Transfusion (From Blood To Pus)

03 Infectious Celular Growth

04 Permanent State Of Infernal Disarticulation

05 Clinical Phobia

06 Members Torn Appart

07 Disease Of Paget

08 Confrontation (Of Mind And Flesh)

09 Worms In Guts/Intestinal Whirlwind (bonus track)

10 Day Of Carcass (bonus track)