Resenhas

Threats

Bellhead

Avaliação

9.5

Bellhead não é só uma banda — é uma anomalia sonora deliciosa que desafia rótulos e chama atenção pela sua configuração incomum. O duo formado por Ivan Russia (baixo alto e vocal) e Karen Righeimer (baixo grave e vocal também) é uma anomalia sonora deliciosa: dois baixos, uma drum machine e zero guitarras.

Threats, o novo disco da dupla, é um soco punk-industrial, cheio de distorção e aquela pitada sombria que parece ter saído direto de um filme de terror europeu dos anos 80. O grupo lembrou – e muito, a proposta Indie mid-2000, mais especificamente o que o White Stripes propõe, mas obviamente seguindo uma linha ligeiramente diferente de som.

A faixa de abertura, “Threats”, já entrega a assinatura do Bellhead: grave vigorante, energia suja de garagem, um fuzz que morde e vocais que dançam entre o desdém e a tensão. Na sequência, “Heart Shaped Hole” mergulha de cabeça num gótico industrial elegante, com batidas secas, vocais gelados e atmosfera pesada. Lembra algo entre Skinny Puppy e os climas industriais do NIN da fase “Pretty Hate Machine”.

“Shutters + Stutters” mantém o espírito alternativo, mas tudo soa mais denso e ameaçador. A produção é precisa, cada bumbo é uma martelada e os vocais sussurrados criam um clima meio soturno, meio sedutor. A vibe vampiresca se intensifica em “No Dead Horses”, faixa cheia de espaços vazios que dão ainda mais peso ao silêncio. Aqui, Bellhead dosa tensão como quem escreve suspense: no escuro, sem aviso e com um charme sombrio.

“Double Jeopardy” traz o sintetizador à linha de frente. Os dois baixos ainda são protagonistas, mas é o trabalho de texturas e camadas eletrônicas que hipnotiza. Soa como um Type O Negative e isso deixa tudo mais familiar.Aqui vem a faixa mais disruptiva e diferente, “Bad Taste”, que por sua vez, é puro EBM desavergonhado. Uma faixa agressiva, cheia de referências a KMFDM, White Zombie e Prodigy, mas com o DNA próprio de Bellhead pulsando em cada segundo – aqui as coisas tomam proporção diferente, é uma faixa que destoa de todo disco, mas ainda sim é muito bom!
A faixa seguinte, “Nothing as It Seems” , continua o clima dark, mas sem perder a força: mistura peso eletrônico com uma aura mais contemplativa, como uma pausa dramática entre os socos.

No fim, somos agraciados com uma versão de “Heart Shaped Hole”- segunda faixa do disco. Ela ganha uma releitura ainda mais pesada, com estética quase Fulcinesca — sim, aquela vibe de filme de horror giallo, climão total. Aqui, o industrial se mistura ao metal alternativo de forma tão densa que parece que o som respira por si só.

Threats é sujo, sexy, sombrio e muito bem produzido. E vale cada segundo de ser ouvido! Se você curte White Stripes, The Kills, Ministry, White Zombie, esse álbum vai te pegar de jeito. Recomendadíssimo.