Em tempos de afirmação da extrema-direita no poder, não só no Brasil mas ao redor do mundo, alguns headbangers têm se esquecido que o Rock and Roll de uma maneira geral nasceu com a prerrogativa de ser uma voz não só de rebeldia, mas de contestação, sobretudo aos governos autoritários e com um viés social. Obviamente que algumas bandas se desviaram desta ideologia. Mas para a nossa felicidade, o NAPALM DEATH segue firme e forte, praticando um som pesado e extremo, e fazendo um barulho muito grande contra o sistema que amassa as minorias. E “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism” traz uma amostra de que sim, o som pesado pode atropelar o conservadorismo. Lançado pela Century Media e distribuído no Brasil pela Xaninho Discos.
Enfim, acabou a espera. Cinco anos após seu último play, “Apex Predator – Easy“, o maior período que eles já ficaram sem lançar um álbum, a banda mais furiosa da cena está de volta, O décimo sexto álbum do quarteto inglês foi lançado dia 18 de setembro via Century Media e traz um NAPALM DEATH ainda mais letal.
Produzido novamente por Russ Russell, que também colaborou sendo co-autor de duas músicas (“Joie de ne Pas Vivre” e “A Bellyful of Salt and Spleen“) o novo play chegou cercado de expectativas. Nós vamos dissertar sobre a obra e expressar sobre tais expectativas a partir de agora, colocando a bolacha para rolar.
“Fuck the Factoid” abre o play com muito ódio e a sonoridade Grindcore com elementos modernos que o Napalm sabe muito bem dosar. Em pouco mais de dois minutos os caras chegaram chegando e dão o recado: não estão de brincadeira.
“Backlash Just Because” mantém a raiva sonora em uma música pesada, densa e muito, mas muito técnica. Com ótimos riffs de guitarra. “That Curse of Being” é a primeira faixa que ultrapassa os três minutos e é uma ótima mescla do Grindcore bem trabalhado, com doses de Punk Rock que entram em certos momentos, deixando tudo beirando a perfeição.
“Contagion” tem mesclas de estilos: aqui tem Death Metal, Punk Rock californiano e muita densidade. São mais de quatro minutos e a banda precisa explorar sua versatilidade. “Joie De Ne Pas Vivre” tem uma pegada bem Punk, porém com algumas inserções bem densas e climáticas.
“Invigorating Clutch” é bem experimental e aqui não tem espaço para o som tradicional da banda. Uma música bem densa e pesada, que teve um resultado bem satisfatório. “Zero Gravitas Chamber” traz um Grindcore moderno, pesado, agressivo e é um convite a um moshpit, coisa impensável nestes dias de pandemia do novo coronavirus.
“Fluxing of the Muscule” é bem cadenciada e com riffs intrincados em suas estrofes e agressiva e violenta no refrão. Essa foi eleita por este redator como a melhor do play. Amoral é a faixa que destoa das demais: ela lembra um pouco do que a banda apresentou no seu álbum mais fraco, “Diatribes“, Uma música desnecessária.
A faixa título começa com Mark Barney gritando e a impressão de que seria outra faixa chata como a anterior, mas é só impressão, pois logo a quabradeira toma conta de tudo em uma música poderosa.
“Acting in Gouged Faith” é um Grindcore/ Death Metal pra ninguém colocar defeito. Que sonzeira. “A Bellyful of Salt and Spleen” encerra a obra e ela é bem chatinha, contendo barulhos desconexos da guitarra e um Mark Barney com vocal limpo, como se estivesse recitando a letra.
Em 42 minutos praticamente irrepreensíveis, temos um grande candidato ao melhor álbum deste ano que é para se esquecer. Mas temos que agradecer às bandas como o NAPALM DEATH, por existirem, não tão somente pelo seu som pesado e agressivo, mas também pela sua bandeira Antifascista e na luta por uma sociedade mais justa. Ainda que o headbanger (brasileiro, em especial) torça o seu nariz para as causas sociais, este quarteto inglês mostra que eles aprenderam uma das lições mais importantes da aula de iniciação no Rock: o estilo é contestador sim e vai sempre gritar contra o autoritarismo e o imperialismo. Por mais bandas como eles na cena.
Faixas:
01 – Fuck the Factoid
02 – Backlash Just Because
03 – That Curse of Being in Thrall
04 – Contagion
05 – Joie de ne pas Vivre
06 – Invigorating Clutch
07 – Zero Gravitas Chamber
08 – Fluxing of the Muscle
09 – Amoral
10 – Throes of Joy in the Laws of Defeatism
11 – Acting in Gouged Faith
12 – A Bellyful of Salt and Spleen
Formação:
Mark “Barney” Greenway – Vocal
Shane Embury – Baixo
Mitch Harris – Guitarra/ Vocal
Danny Herrera – Bateria