Resenhas

Vera Cruz

Edu Falaschi

Avaliação

9.0

Há alguns dias o primeiro álbum solo de Edu Falaschi conheceu a luz e os ouvidos de um mundo “bipolar”, onde não sabe o que quer, mas, ama a repetição de um repertório de uma década atrás. “Ah! Mas, ‘Vera Cruz’ é Angra!?” Meu amigo, o vocalista ficou cerca de 10 anos na banda, gravou 4 álbuns, 1 Ep e disco ao vivo, e antes disso, teve o Symbols, onde ele também batia firme e forte no Power Metal, então? Você queria o quê? Não é novo, é a mesma fórmula, mas, é a raiz e a verdade de um renovado Edu, e sejamos sinceros, é o que todo mundo quer que ele faça, vide o sucesso das turnês “Rebirth Of Shadows Tour” e “Temple Of Shadows In Concert”.

Seguindo uma velha máxima futebolística que afirma que: “time que está ganhando não se mexe”, Falaschi seguiu com o “dream team” principal: Aquiles Preste (bateria), Fábio Laguna (teclados), Roberto Barros (guitarra), Diogo Mafra (guitarra) e Raphael Dafras (baixo); músicos esses que o acompanham nos últimos tempos. Para completar a escalação foram convocados os galácticos: Elba Ramalho, Max Cavaleira, Pablo Greg (orquestrações), Tiago Mineiro (piano), Tito Falaschi (guitarra), Federico Pappi (violoncelo), Fabio Caldeira (escritor), Rafael Meninão (acordeon), Adriano Machado(maestro), Thiago Bianchi (coprodutor) e Denis Ward (mixagem). Uma legitima constelação que entrou em campo já com o jogo ganho.

Vera Cruz” reúne uma história instigante e apaixonante, que mistura realidade com fantasia, onde os descobrimentos de seu personagem principal transbordam além de seu enredo. A cada novo andar, o instrumental deixa de ser reto, rápido e “europeu” para ganhar formulas, batuques e percepções, como uma grande mistura cultural fazendo com que o ouvinte se prenda nos riquíssimos detalhes de uma “viagem” empolgante.

O disco abre com a intrigante “Burden”, que carrega consigo toda uma magnitude hipnotizante, como se estivéssemos embarcando numa estória que mudará nossas vidas para sempre. “The Ancestry” é a típica faixa que abrirá os shows da vindoura turnê; rápida, cativante e com ótimos refrães para serem cantados como se não houvesse amanhã. Algo que chama muito a atenção do primeiro ao último minuto é a versatilidade e complexidade das linhas instrumentais, que mesmo sendo absurdamente técnicas, ainda conseguem transmitir sentimentos e emoções. Ainda sobre a parte instrumental, é necessário dizer que nada aqui é inédito ou inovador a ponto de causar orgasmos de criação. Pegue um liquidificador e bata “Rebirth”, “Temple Of Shadows”, “Holy Land” e adicione uma pitada de exibicionismo do Dragonforce. Pronto! Eis a fórmula do disco de seu início ao fim. Alguns reclamarão, mas a maioria sabe que “é isso que povo gosta, é isso que o povo quer…”

Sea of Uncertainties” segue a linha de sua antecessora, apresentando o Power Metal clássico que todos conhecemos, e que claro, trará comparações com sua ex-banda. Em todo trabalho do Edu Falaschi, a gente espera pelo “momento balada”, aqui ele vem sob a forma de “Skies In Your Eyes”, cuja métrica muito memora o sucesso “Wishing Well” (Angra), porém com mais dramaticidade e emoção.

Como citei no início do texto, “Vera Cruz” carrega uma transição que vai além de seu enredo. A grande música, aquela que marca essa nova guinada no álbum atende pelo nome de “Land Ahoy” — uma alucinante obra que vai sendo “pintada” no decorrer de um épico de pouco mais de 09 minutos, onde temos peso, melodia, batuques, corais e mudanças abruptas de andamento. Ainda seguindo na mudança de habitat e preenchimentos das lacunas, temos a trinca pegajosa “Fire With Fire”, “Mirror Of Delusion” e “Bonfire Of The Venities”; composições essas, que ganham ainda mais brasilidade devido a seus refrães chicletes. Por vezes me peguei imaginando Edu e Fábio compondo e concebendo tudo sendo executado nos palcos de forma única — com atores, como se fosse uma peça da Broadway

Quanto ao final, tenho certeza que no momento em que foram divulgados todos os detalhes e participantes, 10 entre 10 esperavam ansiosamente para ouvirem Max e Elba Ramalho. O primeiro, ao lado do saudoso André Matos, são os grandes responsáveis pelo heavy metal brasileiro ter ganho renome mundial. “Face Of The Storm” é pesada, com alguns grooves de um Thrash/Power metal moderno que vai se desenvolvendo ao longo da faixa. “Rainha do Luar” possui um clima cinematográfico e denso — e vai se alternando entre estrofes em português e inglês; a mítica Elba Ramalho abrilhanta ela com suas apoteoses vocais; um final mais que digno para um grande disco, simplesmente arrebatador! Ah, Sim! Antes que o digam, ela lembra “Late Redemption” por sua dinâmica e estrutura.

Conclusão: Apesar do belo título, de seu enredo e de toda riqueza musical que ostenta, “Vera Cruz” não exibe nada de novo, de inaugural ou fresco — nada no disco sequer se aproxima de um “novo mundo musical”. E não, isso não é de forma alguma uma crítica negativa. “Vera Cruz” não é sobre descobertas e expedições, ele é sobre revisitas, sobre raízes e ressignificados; e também, sobre um artista dando sequência a um legado que ele mesmo ajudou a criar. Edu falaschi finalmente voltou a voar, mas dessa vez, com suas próprias asas.

Formação:

Raphael Dafras – Baixo

Aquiles Priester – Bateria

Roberto Barros – Guitarras

Diogo Mafra – Guitarras

Fábio Laguna – Piano

Edu Falaschi – Vocais, teclados