Uma das coisas mais legais é ver bandas novas recriando o saudoso som post punk e dark wave, e a 2 Libras soube fazer isso com maestria, juntando suas influências e talento em seu segundo álbum, intitulado ‘World’s End’. Após dois anos de hiato, a dupla retornou com no ano passado com singles promocionais e começa 2023 com um clássico que tem tudo para se tornar uma coleção de hits, sendo perfeito para as pistas de dança mais alternativas como o porão do Madame Satã.
O duo americano, sediada na Costa Oeste, iniciada por Wesley e Jewels Foster Rogers em janeiro de 2018, vem estampando cada vez mais o mercado da música, e segue com lançamentos muito bem sucedidos e elogiados pela mídia especializada e com bons números nas plataformas digitais, quebrando o que é normal na cena dark electro. Eles combinam os gêneros industrial, gótico, darkwave, dark electro, synth pop e rock no que eles chamam de Cyberpunk.
Com um conjunto de 11 canções, o disco mostra uma abordagem da velha escola para musicalidade, composição, carisma e produção. ‘World’s End’ apresenta uma sonoridade melódica, energética e peculiar da banda, que traz uma atmosfera sonora muito nostálgica ao mesmo tempo que exala um frescor sincero graças a energia jovial e mente visionária dos dois integrantes, que entrega um trabalho atmosférico, apaixonado e repleto de melodia e sincopação. As letras que refletem a influência da tecnologia, big data e mídia social em nossa sociedade global e como isso afeta as relações interpessoais enquanto diminui nossa perspectiva coletiva. 2Libras é um retrocesso pós-moderno ao rock alternativo cru que dominou as ondas do rádio algumas décadas atrás, que na turbulenta década de 2020 está pronta para ressurgir na consciência coletiva.
‘World’s End’ apresenta o oldschool do post punk, a sensibilidade do darkwave mas também com o dark eletro e cyberpunk, provando que a banda soube usar todas suas influências e misturar de uma jeito peculiar para criar sua própria identidade no cenário musical. Há diversos elementos nesta canção que nos fazem lembrar da vibe de London After Midnight e Clan of Xymox, a exuberância do Depeche Mode, e o toque de Project Pitchfork, Visage, Sopor Aeternus & the Ensemble of Shadows e Cinema Strange conjunto da obra é maravilhoso, desde o visual extravagante até a sonoridade exclusiva.
Os riffs eletrônicos destilam charme e densidade em todas as canções, sendo bem característicos do synthpop futurista, a bateria segue o ritmo destilando a energia e potência, junto com o potente sintetizador expressivo, que cria toda a atmosfera clássica deste estilo musical, bem sombria e pesada. As canções possuem uma melodia que nos convidam a dançar em uma pista bem dark, sentindo cada batida, onde os vocais são cativantes e firmes, e trazem um toque mais moderno ao mesmo tempo que soa retro, com um poder de mudar o tons de forma inebriante, com um alcance que chama atenção, e dando mais vida ao álbum, convidando o ouvinte a cantar, em forma de hino, como as bandas da época fizeram.
O EP tem momentos mais melódicos e sombrias, como em “Talking to Ghosts” e “Int the Sun” – que traz a batida EBM mais pesada remetendo a Suicide Commando e Blutengel -, e uma mudança de ambiente perfeita, que conduz o ouvinte em uma viagem sonora inesquecível, como na faixa de abertura “Infected”, que abre o trabalho em grande estilo, já cativando o ouvinte. As mais agitadas e perfeitas para a pista: “Searching for a Home” ou a penetrante “Calm Before The Storm”. Cada música irá entrar na mente do ouvinte, e quando menos perceber estará dançando e totalmente envolvido.
‘World’s End’ é um presente aos fãs de darkwave e post punk, entregando uma paisagem intensa e misteriosa que com certeza irá cativar os fãs mais saudosistas. A maneira como 2Libras utilizou a técnologia atual, seu talento e influências passadas para criar uma releitura exclusiva, é admirável. Está é minha nova banda preferida.