Fotos: Carlos Pupo/Headbangers News

Na última quinta-feira (21), a noite quente de São Paulo recebeu, pela segunda noite consecutiva, a grande missa festiva do Ghost no Espaço Unimed. O time comandado por Tobias Forge, encarnado como Papa Emeritus IV, trouxe a “Re-Imperatour” para o Brasil depois de rumores de negociações que corriam pelos bastidores desde o ano passado, culminando, finalmente, em duas datas esgotadas no Brasil. Em ambos os shows, além do calor (que inclusive levou algumas pessoas a passarem mal durante as apresentações), o grupo encontrou fãs apaixonados e comprovaram no palco que a renovação do rock funciona, principalmente quando atrelada à juventude e às redes sociais do momento.

O show da noite anterior (20) foi marcado por grandes problemas logísticos. Parte de seus equipamentos ficaram presos no México, o que acarretou no atraso da montagem do palco e o quase cancelamento do show. Isso gerou a demora na abertura das portas (e, consequentemente, longas filas na hora de entrada) e impossibilitou a apresentação das meninas do Crypta, agendadas para tocar em ambos os shows. Porém, com tudo organizado na segunda noite, a apresentação de abertura ocorreu normalmente, para a alegria de todos. Inclusive, no show de quarta-feira, Papa Emeritus pediu aplausos à elas, comentando sobre os problemas que levaram ao cancelamento daquela noite e a confirmação do show delas para o dia seguinte..

A Crypta vem em um crescimento exponencial e esse show, com a casa já bem cheia, marcou o início da turnê de divulgação do disco “Shades of Sorrow”, lançado em agosto deste ano. Formada por Fernanda Lira (baixo e vocal), Luana Dametto (bateria), Tainá Bergamaschi e Jéssica di Falchi (guitarras), a banda entregou um show impecável, esquentando a plateia para os suecos. Elogiadas pelo próprio Tobias em recente entrevista, a Crypta fez um setlist curto, mas poderoso, contendo faixas dos dois álbuns da carreira. A potência da apresentação deixou claro porque a banda vem conquistando tanto espaço. As caras e bocas de Fernanda enquanto se apresenta conquistam a todos, da mesma forma como Luana hipnotiza executando perfeitos blast beats na bateria. Sem muita conversa, tocaram músicas em sequência, aproveitando o máximo de sua apresentação. O público respondeu prontamente a todas as músicas e às poucas interações. Músicas como “Lift the Blindfold”, “Stronghold”, “Under the Black Wings” e “Lord of Ruins” fizeram parte do setlist. Destaque para “The Outsider”, uma das melhores faixas do novo disco que representa muito bem o poder da banda no palco. Um show que deixou aquele famoso gostinho de quero mais.

Por volta das 20h40, “Klara Stjärnor”, de Jan Johansson, já tocava no som ambiente, seguida por repetidas vezes de “Miseri mei, Deus”, de Gregorio Allegri. As luzes da casa se apagaram completamente às 21h pontualmente, quando “Imperium” foi iniciada. O palco estava coberto por um pano que caiu depois das primeiras notas de “Kaisarion”, faixa de abertura do último disco da banda, “Impera”, lançado no ano passado. O barulho do público quase encobria a banda quando o amado Papa apareceu no palco. Tobias e seus músicos esbanjam carisma em uma performance de extrema qualidade que perdurou durante todo o show. Single do álbum “Prequelle”, “Rats” veio logo em seguida, tendo “From de Pinnacle to the Pit” na sequência. Esta última não havia sido tocada na noite anterior, onde “Faith” havia sido executada em seu lugar. Todos os presentes no Espaço Unimed gritavam alto enquanto ovacionavam a banda, algo constante durante toda a apresentação.

Depois de “Spillways”, também do novo álbum, a clássica “Cirice” fez o público cantar alto. “Cirice” também marcou a primeira (de várias) trocas de roupas pelo Papa Emeritus IV. Toda essa estética que a banda carrega na sua fase atual torna o show ainda mais interessante de se assistir. A excelente “Absolution”, mais uma do álbum “Meliora”, de 2015, foi seguida pela clássica “Ritual”, faixa do primeiro disco da banda, “Opus Eponymous”, de 2010, que trouxe a empolgação dos fãs mais antigos. Depois de uma interação divertida entre os guitarristas, Papa Emeritus IV entrou no palco com a vestimenta completa de Papa para cantar “Call Me Little Sunshine”, também do último disco. Acompanhado de um turíbulo, tradicional instrumento usado pela igreja católica para queimar incenso, Papa Emeritus IV cantou “Con Clave Con Dio”, retornando mais uma vez ao disco de estreia da banda, seguido por “Watcher in the Sky”, agora com um novo chapéu.

Depois de todas as luzes serem apagadas, “Year Zero” levou o público à loucura. Uma das faixas que viralizaram no Tiktok, o público cantava os nomes dos demônios que a letra traz a plenos pulmões. Uma campanha feita entre os fãs nas redes sociais pedia para que os presentes no show usassem algo para deixar a lanterna de seus celulares vermelha durante essa música, o que foi cumprido por muitos que estavam ali, dando um clima ainda mais “satânico” ao momento. A belíssima “He Is” veio logo em seguida com todo seu ar gospel, trazendo ainda mais o clima “religioso” a toda aquela festa comandada pela banda.

Única faixa instrumental do show, “Miasma” marcou o ato de ressurreição, mesmo que momentânea, do primeiro Papa dentro da história da banda, o Papa Nihil, que executou o solo de saxofone presente nessa música, sendo um dos momentos mais divertidos da apresentação. Quando Papa Emeritus IV voltou ao palco, ele relembrou que Papa Nihil havia gravado apenas duas músicas da banda, lançadas no EP “Seven Inches of Satanic Panic” e que era o momento de tocar uma delas e, com isso, o momento mais esperado do show chegara. “Mary on a Cross” é, hoje, o maior sucesso da banda, sendo o pontapé inicial para a popularização do grupo nas redes sociais atuais. O público fez sua parte, cantando e pulando com toda a empolgação.

A pesada “Mummy Dust” veio logo em seguida, com direito a explosão de canhões de papel picado sobre a plateia. Após isso, o Papa Emeritus IV conversou com os presentes, agradecendo todo o carinho que recebe quando vem ao Brasil. No show de quarta-feira, ele relembrou que esse ano marca 10 anos da primeira vinda da banda ao país e que, infelizmente, não houveram muitos retornos nesse intervalo de tempo, prometendo trabalhar para mudar isso. “Respite on the Spitalfields”, última faixa do disco “Impera”, foi a responsável por encerrar, de forma emocionante, o set principal.

Antes de “Respite on the Spitalfields” ser tocada, todo o público pedia por “Twenties”, música do último álbum que apareceu apenas em dois shows da banda. Quando o Papa voltou ao palco para o bis, o público implorou novamente por essa música. Em resposta, Papa Emeritus IV disse que não seria possível tocá-la naquela noite, mas prometeu incluí-la no setlist do próximo show no Brasil. Para “compensar” os fãs, Papa Emeritus IV prometeu três músicas para o bis. A dançante “Kiss the Go-Goat”, outra música da época do Papa Nihil, foi a primeira das três. As incríveis “Dance Macabre” e “Square Hammer” foram as responsáveis por finalizar o grandioso espetáculo.

O Ghost é uma banda que ousou se reinventar. No começo, apostavam em um ar blasfêmico, mesmo fazendo isso sem usar uma música tão pesada. Porém, quando Tobias Forge resolveu, ao poucos, trazer seu projeto para um lado mais comercial mesmo sem abandonar a blasfêmia de sempre, atingiu um patamar pouco alcançado por bandas novatas (considerando que o primeiro álbum da banda tem apenas 13 anos). Hoje, uma grande parte do público do rock e metal enxerga a banda, para o bom ou para o mal, como uma das substitutas para os grandes “headliners clássicos” que vemos por aí. As bandas de metal clássico um dia partirão e o Ghost apresentou nesse show, mais do que nunca, a qualidade que possui para assumir esse papel em um futuro muito distante. A quantidade enorme de adolescentes e até crianças acompanhadas pelos pais presentes nos shows apenas confirma que a nova geração de fãs da música pesada já encontraram um forte representante.

Galeria do show