A Rare Seed é daquelas bandas que parecem ter brotado direto de um portal psicodélico escondido em algum beco de New Orleans. O grupo, formado por cinco inquietos sonhadores sonoros, surge com uma proposta ousada: misturar o caos melódico do shoegaze, o devaneio espacial do prog, a espontaneidade suada do garage rock e aquele toque sentimental de trilha de videogame japonês — sim, estamos falando de Koji Kondo. E isso tudo sem soar pretensioso. O primeiro álbum, ‘Ethereal Enclave’, é uma trip de 41 minutos de jazz-pop avant gard cheio de climas, texturas e reviravoltas rítmicas.
O disco começa com “El Niño”, uma abertura atmosférica com guitarras ondulantes e batidas que sugerem tanto tempestade quanto renascimento. “Foolish Flame” já entra mais encorpada, com um groove que flerta com o blues, mas envolto em camadas de reverb e teclados ondulantes. “The Grove” soa como um passeio por um bosque encantado — com bateria sincopada, baixo pulsante e um solo que poderia estar num disco do Thee Oh Sees.
A faixa “Lotus Eater” mergulha numa vibe mais introspectiva e flutuante, carregada de sintetizadores dissonantes e percussão discreta, enquanto “Runners” acelera o pulso, com riffs que lembram a urgência do punk, mas ainda mergulhados num delay sagrado. A faixa-título “Ethereal Enclave” é um manifesto sonoro: camadas de guitarras que se entrelaçam como lianas em um templo submerso, com uma levada hipnótica e um groove que cresce como uma maré.
“Amor Fati” é jazz espacial em forma de canção — um saxofone imaginário parece atravessar o mix, mesmo sem estar lá. “Lov Streams” traz de volta o pop retrô, com pitadas psicodélicas e um baixo saltitante que flerta com o disco music em uma pegada moderna. “Liminal Space” entra como um intervalo meditativo, quase ambient, mas logo evolui em direção ao caos controlado.
“Clarion Call” parece uma convocação para o clímax do disco — bateria tribal, teclas em espiral e guitarras que choram e gritam ao mesmo tempo. E o desfecho com “Marie Celeste (La Niña)” é puro encanto: um instrumental marítimo e fantasmagórico, flutuando entre a melancolia e o sublime.
Se você curte a esquizofrenia charmosa do Deerhunter, os delírios melódicos do Tame Impala ou a elegância de um jazz em colapso, Ethereal Enclave é sua próxima parada obrigatória. Rare Seed chegou, e não tem nada de raro no impacto que vai causar.