Harry Kappen pode até vir dos Países Baixos, mas seu som atravessa fronteiras, décadas e estilos como um camaleão sonoro em busca de liberdade. Multi-instrumentista, produtor e terapeuta musical, Kappen entrega em Break These Chains um álbum com alma, crítica e uma salada de influências que vão do glam rock de David Bowie ao country lisérgico do Pink Floyd noventista — e tudo isso sem soar forçado. Aqui, ele não apenas canta, mas traduz o colapso emocional e político dos nossos tempos em música. E faz isso com peso, beleza e criatividade.
O disco abre com “The Longing”, um épico orquestrado que lembra as ambições cinematográficas de “Kashmir” do Led Zeppelin ou “Live and Let Die” de Paul McCartney. Cordas dramáticas, arranjo grandioso, aquele clima de tensão bonita. Em seguida, “Be Brave if You Can” entra mais melancólica, guiada por um piano intenso e guitarras discretas, um pop rock emocional com cara de desabafo.
“Courage” é Bowie puro na sua fase mais sombria — vocais carregados, instrumentação experimental e atmosfera densa. Parece uma faixa perdida do Blackstar. Já “Forever Young” desacelera tudo: é sensual, espaçosa, quase flutuante. A produção dá espaço ao silêncio, aos respiros, e isso dá um charme quase meditativo à faixa.
A faixa-título, “Break These Chains”, chega para dar uma sacudida: é o hard rock do disco, com riffs sujos e batida pulsante. É o grito de revolta que dá nome ao álbum. Logo depois, “In Very Sigh and Rhyme” soa minimalista, quase a capella, com uma bateria bem distante e uma guitarra que só entra no final pra completar o ciclo.
“I’ll Die For You” surpreende com banjo, piano e uma batida funky. Inusitado? Sim. E funciona! Já “Chasing Rabbits” muda de direção de novo: clima country contemplativo, com guitarras slide e aquele sabor retrô que remete à fase mais introspectiva do Pink Floyd.
“The Choices We’ve Made” traz um rock mais direto, mas com um toque moderno nos sintetizadores que imitam sax. E pra fechar, “In a Gentle Breeze” entrega um blues-folk psicodélico, acústico e sentimental. Um suspiro final, etéreo, como uma despedida sussurrada ao vento.
Se você curte a ousadia de Bowie, os devaneios do Roger Waters e o drama pop de artistas como Peter Gabriel, Break These Chains merece sua atenção. É um disco pra ouvir com calma, refletir e, quem sabe, quebrar as correntes internas também.