Entrevistas

Tommy Giles Rogers (Between The Buried and Me): “Nunca tentamos mudar nosso som para algo popular”

Tommy Giles Rogers (Between The Buried and Me): “Nunca tentamos mudar nosso som para algo popular”

25 de setembro de 2025


A banda estadunidense Between The Buried and Me está lançando o seu novo álbum chamado “The Blue Nowhere“. O Play chegou ao Brasil pela parceria InsideOutMusic/Shinigami Records, inclusive com uma resenha aqui no site. Pois bem, gentilmente o vocalista/tecladista Tommy Giles Rogers conversou com o HBN sobre o processo de composição do álbum, os temas abordados nas letras e também um possível retorno da banda ao Brasil na nova turnê. Confira a seguir:

HBN – Antes de tudo, Tommy, obrigado pelo seu tempo e parabéns pelo novo álbum. Na resenha publicada em nosso site, o álbum ganhou uma nota 10 — uma das, senão a maior nota para um álbum neste ano. Falando sobre “The Blue Nowhere”, conte-me mais sobre o processo de composição. Notei que não é exatamente um álbum conceitual como “The Parallax II” ou “Coma Ecliptic”, mas parece haver uma certa linha narrativa. Qual foi a origem de tudo isso durante o processo criativo?

R: Para mim, sempre houve essa ideia de escrever sobre um hotel, por alguma razão. Eu amo a história por trás das construções, da arquitetura, é apenas parte da humanidade, com todas essas vidas indo e vindo. Alguns dos momentos mais felizes delas estão simplesmente acontecendo ao mesmo tempo, assim como os momentos mais tristes, escritos um em cima do outro. É um conceito interessante pra mim, os prédios em geral. Então, quando começamos a escrever o álbum, no início do processo, cada música tinha o seu mundo próprio, separadas umas das outras, e isso acabou se tornando o conceito do álbum, cada música te levando para um lugar diferente do hotel e acabei construindo esse mundo em cima disso. Um lugar onde cada ser humano tenta encontrar conforto e paz em meio ao caos, tristeza, loucura e diversão, então meio que tentei transmitir isso liricamente no álbum.

HBN – Eu realmente aprecio as influências de outros estilos nas músicas, como Jazz e Rock Progressivo. Quais artistas inspiraram essas direções?

R: Nós realmente amamos todos esses estilos de música, mas nós não sentamos e planejamos criar essas partes, tudo meio que vai surgindo durante o processo de composição. Tudo surge espontaneamente quando nós quatro estamos criando música juntos. Coisas inesperadas acontecem, então se eu acabo trazendo um riff de guitarra, outra pessoa acaba transformando essa ideia em algo completamente diferente, que podem soar diferentes dentro do nosso meio para as bandas ao nosso redor. A inspiração acaba sendo a própria banda, pois sempre trazemos ideias que são inesperadas por nós mesmos, nos surpreendendo e nos fazendo tentar melhorar individualmente e como banda.

HBN – O álbum apresenta uma produção extremamente detalhada, com uma mixagem cristalina que destaca cada camada. Como foi trabalhar nesse lado técnico e quais foram os maiores desafios nesse sentido?

R: Não houve desafio; temos uma grande equipe. Gravamos com Jamie King desde nossa demo de 2000, e Jens Bogren tem mixado nossos álbuns desde “Coma Ecliptic“. James é excelente em captar nossas gravações: é confortável trabalhar com ele no estúdio, ele dá boas sugestões de afinação e realmente consegue traduzir nosso som, fazendo-o ganhar vida. Já Jens é simplesmente um mestre da mixagem; ele entende como nosso som é denso e como valorizamos as nuances, sempre atento àqueles pequenos detalhes que você pode perceber nos fones de ouvido. Passamos bastante tempo na pré-produção, registrando tudo em forma de demo antes de entrar no estúdio. Por isso, quando chega às mãos dele, o material já está bem estruturado, o que torna a experiência em estúdio muito mais tranquila e o processo excelente

HBN – Entre momentos extremos e passagens mais atmosféricas, vocês conseguem equilibrar intensidade e melodia. Como decidem até onde ir em cada direção sem perder a identidade da banda?

R: Nós realmente não pensamos nisso; é tudo sobre a música. Se algo parece certo, nós continuamos. O crescimento da banda vem muito disso: do que soa bem para nós e do que não soa. E somos muito honestos uns com os outros, o que é crucial no processo de composição.

HBN – Nas letras, percebi reflexões sobre isolamento, tecnologia e conexões humanas. Esses temas vieram de experiências pessoais ou de observações mais amplas sobre o mundo atual?

R: Eu diria que de ambos, pois meio que vivemos no mesmo mundo, sabe? Presenciamos esse tipo de problema na sociedade e, naturalmente, isso acaba se refletindo em nosso som. O que é interessante para mim é escrever sobre os receptáculos humanos, todas essas atrocidades que vivenciamos e como nosso cérebro precisa lidar com isso em nossas vidas. Então, o álbum, como um todo, fala sobre encontrar conforto em sua própria pele e também na relação com a tecnologia. Venho escrevendo sobre esse assunto há anos, então é algo que continua sendo muito interessante para mim, com certeza.

HBN –  O Between the Buried and Me sempre teve uma base de fãs leal, mas a cada álbum vocês também conseguem conquistar novos ouvintes. Vocês pensam no impacto da recepção durante o processo de composição, ou preferem se manter completamente livres nesse sentido?

R: Tentamos ficar livres disso. Acho que, naturalmente, você acaba tendo essa preocupação se as pessoas vão gostar ou não do que está fazendo, mas para nós, depois de todos esses anos, temos a noção de que, se está bom para nós, se parece certo para nós, provavelmente os fãs também vão concordar. Isso é o que importa em nossa banda: nós nunca tentamos mudar nosso som para algo popular, apenas nos apegamos ao que nos inspira naquele momento e tentamos captar o que vem naturalmente de nós mesmos no processo de escrita. Você precisa ser verdadeiro consigo mesmo, manter-se entretido, feliz, animado, e acredito que é possível ouvir isso no álbum — que nos divertimos escrevendo essas músicas.

HBN – As faixas apresentam uma harmonia orquestrada incrível. Existe a possibilidade de explorar ainda mais elementos sinfônicos ou colaborações externas em trabalhos futuros, algo como o S&M do Metallica?

R: Sim, temos muitas partes orquestradas neste álbum. Sempre estivemos ligados a esse universo e, quando estávamos no processo de criação das demos, percebemos que precisávamos incluir algumas seções orquestrais. Então, Dan (Briggs, baixista) chamou alguns amigos e colegas: alguns gravaram pessoalmente com ele, outros enviaram arquivos à distância, e no fim já tínhamos tudo preparado antes mesmo de iniciar as gravações. Ele é um mestre nesse tipo de trabalho e, quando fomos ao estúdio, tudo já estava organizado.

HBN – Para finalizar: depois de um álbum tão ambicioso como “The Blue Nowhere”, o que podemos esperar do Between the Buried & Me daqui para frente, tanto em estúdio quanto no palco? Há alguma chance de vocês voltarem ao Brasil?

R: Sim, esperamos muito voltar ao Brasil. A única vez que estivemos aí foi pouco antes da pandemia de COVID, e meio que éramos a última banda do mundo ainda fazendo shows naquela época. Soube que o país entrou em lockdown poucos dias depois de nosso show em São Paulo, então espero muito que possamos voltar com este novo álbum, agora que o mundo não está desmoronando. Havia uma energia incrível nos shows, uma base sólida de fãs, e somos muito gratos por pessoas de tão longe apreciarem nossa música. Vamos ver durante a turnê o que acontece. Sobre um futuro álbum, ainda não consigo pensar nisso depois de trabalhar tão duro em “The Blue Nowhere“, mas em algum momento certamente vai acontecer. Então, esperamos ver vocês no Brasil. Obrigado!!

Você pode conferir a resenha de “The Blue Nowhereclicando aqui.

Crédito da foto: Randy Edwards