Crédito das fotos: Marcelo Catacci/Metal no Papel

O último fim de semana foi marcado por uma verdadeira invasão sueca na cena heavy metal paulistana, reunindo representantes de diferentes gerações do estilo. No sábado (08), o Hammerfall — um dos maiores nomes do power metal europeu — desembarcou na capital paulista para apresentar a turnê “Freedom World Crusade South America 2025”, menos de dois anos após a passagem pelo festival Summer Breeze Brasil.

Já no domingo (09), foi a vez do Ambush, banda que, ao lado dos conterrâneos do Enforcer, desponta como um dos principais nomes da chamada “Nova Onda do Metal Sueco”. Formado em 2013, o grupo rapidamente ganhou destaque internacional com os álbuns “Firestorm” (2014), “Desecrator” (2016) e “Infidel” (2020), trabalhos que consolidaram sua reputação no cenário do heavy metal contemporâneo.

Entretanto, os shows de ambas as bandas foram marcados por contratempos dignos de um roteiro de tragédia. Devido a um shutdown generalizado nos Estados Unidos e ao furacão que atingiu Rio Bonito do Iguaçu (PR), diversos voos foram atrasados, comprometendo toda a logística das apresentações. O Hammerfall, que subiria ao palco da VIP Station inicialmente às 20h, e depois à meia-noite, acabou se apresentando apenas às 2h da manhã. Já o Ambush enfrentou uma situação ainda mais crítica: em pleno domingo, os integrantes só chegaram à Jai Club, na zona sul de São Paulo, por volta da meia-noite — com o show começando perto da 1h.

Apesar do caos, a noite reservou momentos que evidenciaram o espírito de resistência e união que há décadas sustenta o heavy metal.

O evento teve início com o Clenched Fist, banda paulistana de heavy/speed metal formada em 2000. Celebrando 25 anos de trajetória, o grupo aproveitou a ocasião para registrar oficialmente a performance, que deve se transformar em um futuro álbum ao vivo. Com o carismático vocalista Vagner Fist empunhando um pedestal de microfone em forma de cruz invertida, o quarteto entregou um setlist que revisitou várias fases da carreira — de faixas em português como “Adaga”, “Não Recue”, “Entranhas de Corpos e Peste” e “Trombetas da Destruição”, de pegada mais speed metal, às composições em inglês, como “Spirit of Death”, “Speed Metal Attack” e “Underground”, que remetem ao heavy metal tradicional.

Na sequência, foi a vez do Hellway Train, um dos grandes destaques da atual cena metal nacional. Vindos diretamente de Belo Horizonte — berço do death metal brasileiro —, os mineiros mostraram por que há tanto burburinho em torno de seu som. O grupo apresentou um repertório eletrizante, com músicas como “Strike by Lightning”, “Calling All the Shots”, “Out of the Cellar” e “Outbreak”, todas marcadas por riffs incendiários, batidas skank ágeis e refrões para serem gritados a plenos pulmões.

Ao longo do set, a forte influência do Judas Priest se fez evidente. O som do Hellway Train parece uma versão turbinada da clássica banda britânica — mais rápida, agressiva e com uma pegada visceral. Para não deixar dúvidas sobre essa referência, o grupo ainda mandou um cover arrebatador de “Jawbreaker”, faixa icônica do álbum “Defenders of the Faith” (1984).

Entre os pontos altos da apresentação, destacou-se a performance incendiária do vocalista Marc Hellway, que não parou um segundo sequer no palco — pulando, gesticulando e incendiando o público com sua energia contagiante. Além da entrega física, Marc demonstrou grande sintonia com os fãs, reafirmando entre uma música e outra que “o heavy metal não morreu e continuará vivo como forma de resistência ao fascismo e ao conservadorismo”.

Após o término do set do Hellway Train, por volta das 21h, o público permaneceu à espera. Infelizmente, a longa demora fez com que alguns desanimassem e fossem embora. Ainda assim, quando o Ambush finalmente chegou à Jai Club, já próximo da meia-noite, uma parcela fiel do público continuava firme, resistindo ao cansaço em nome da devoção ao heavy metal.

Mesmo exaustos, sem descanso e após enfrentar uma verdadeira maratona de imprevistos, os suecos subiram diretamente ao palco e despejaram uma avalanche sonora com total intensidade. O setlist incluiu faixas como “Firestorm”, “Possessed by Evil”, “Hellbiter” e “Natural Born Killers”, todas executadas com energia impressionante. O mais surpreendente é que, apesar do caos logístico e da jornada exaustiva, o grupo entregou um repertório de 13 músicas — enquanto o público havia esperado quase cinco horas para vê-los tocar em pleno domingo.

No fim, o evento do Ambush se transformou em um verdadeiro símbolo da força, resistência e solidariedade que definem o espírito do heavy metal. Um episódio que certamente ficará marcado na memória da cena headbanger paulistana.

SETLISTS:

AMBUSH

Firestorm

Possessed by Evil

Evil in All Dimensions

Maskirovka

Heading East

Southstreet Brotherhood

Desecrator

Hellbiter

Come Angel of Night

Bending the Steel

Close My Eyes

Heavy Metal Brethren

Natural Born Killers

Don’t Shoot (Let ‘em Burn)

HELLWAY TRAIN

Strike By Lightning

Calling All The Shots

Born to Rock Hard

Bounded to Devour

Out of the Cellar

Off the Rails / Bomberman

Outbreak

Jawbreaker (Judas Priest cover)

Metal Widow

CLENCHED FIST

Adaga

Não Recue

Codex Gigas

Flagellun Dei

Entranhas de Corpos e Peste

Spirit of Death

Speed Metal Attack

Trombetas da Destruição

Underground

Galeria do show