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Angra celebra sua história em despedida de São Paulo antes de novo hiato

Angra celebra sua história em despedida de São Paulo antes de novo hiato

22 de dezembro de 2024


Crédito das fotos: Tamires Lopes/Headbangers News

É hora de dizer adeus mais uma vez. Em Setembro, o Angra anunciou que faria uma nova pausa em sua carreira por tempo indeterminado. A pausa aconteceria após realizar uma turnê em celebração dos vinte anos de “Temple of Shadows”, um dos discos mais icônicos da carreira da banda paulistana.

Com agenda até Março do ano que vem, o show do último sábado (21) no Tokio Marine Hall foi a única data anunciada em São Paulo. Acompanhados dos argentinos do Azeroth, o quinteto teve a casa cheia para a despedida da capital paulista.

O Azeroth é um grupo argentino de power metal cantado em espanhol e inglês. A banda, que também se apresentou com o Angra em Curitiba um dia antes do show de São Paulo, se apresentou por quarenta minutos, esquentando os fãs durante o sábado chuvoso da capital paulista.

Na ativa desde 1995, “Left Behind”, “The Promise”, “La Salida” e “Trails of Destiny” foram algumas das faixas apresentadas, além de um belo cover de “Prelude to Oblivion”, do Viper, cover esse que fez com que a banda conquistasse o coração dos brasileiros.

A banda apresentou uma qualidade inquestionável no palco, realmente ganhando a atenção do público. Porém, provavelmente por uma falha técnica, o vocalista Ignacio Rodriguez, apesar de ter encantado com agudos precisos muito bem executados, cantou todas as músicas com um pequeno delay, ficando com o vocal fora do tempo nas músicas. Fica o questionamento de como o som estava soando para o resto da banda, já que o problema persistiu durante toda a apresentação.

Foi às 22h, pontualmente, que o Angra iniciou o show. Conhecido por raramente apresentar mudanças consideráveis em seu setlist, a banda entregou uma grata surpresa aos fãs ao substituir “Nothing to Say” por “Faithless Sanctuary”, pesada música de “Cycles of Pain”, último trabalho do grupo, como abertura do show.

Rafael Bittencourt (guitarra), único membro original remanescente, comanda o time composto por Felipe Andreoli (baixo), Marcelo Barbosa (guitarra), Bruno Valverde (bateria) e Fabio Lione (vocal). A formação atual, elogiada pela maioria dos fãs, convence no palco, executando com precisão os complexos riffs derivados das influências progressivas que a banda têm apresentado.

O concerto se seguiu com a clássica “Acid Rain”, hino do disco “Rebirth” que sempre conta com a participação do público durante o coral gregoriano que abre a música. As duas partes de “Tide of Changes”, bem acompanhadas pelos fãs, precederam o momento mais esperado do show: a execução na íntegra do álbum aniversariante.

“Temple of Shadows” foi um marco na carreira do Angra. Apesar de ainda conter várias influências da música brasileira, o grupo abraçou como nunca a estética do power metal europeu, o que fica muito claro durante a veloz “Spread Your Fire”, poderosa canção que abre o disco depois da trilha de abertura “Deus Le Volt!”.

“Angels and Demons” já trazia indícios de riffs e tempos musicais complexos que o Angra abraçaria num futuro próximo. Aos fãs mais apaixonados, é sempre divertido ver em “Waiting Silence” a parte instrumental onde Andreoli fica ao centro do palco em seu solo, no meio dos guitarristas, movimento esse realizado desde a turnê de lançamento do disco e registrado em vídeos da época.

A balada “Wishing Well” contou com grande participação do público durante seu refrão. Porém, no refrão com partes de tons altos, Lione demonstrava sua dificuldade para alcançá-los. Por vezes, o vocalista utiliza da famosa técnica “whistle” que divide opiniões entre os fãs.

A história de Fabio Lione se mistura com a história do power metal mundial, tamanha sua importância para o estilo, principalmente durante seus anos em bandas do chamado “Rhapsodyverso”. Porém, sua presença como vocalista do Angra é questionada por parte dos fãs.

Dono de uma voz icônica, um grupo de fãs questiona se sua voz combina com a banda, ainda mais quando o vocalista precisa se esforçar tanto para alcançar tons tão fora de sua tessitura vocal. Aliado a isso, a facilidade com que o vocalista tem em errar as letras do grupo, mesmo já assumindo o cargo há onze anos, incomoda bastante.

O show seguiu com a temida “Temple of Hate”. Os próprios músicos da banda já comentaram em entrevistas sobre o “medo” de executá-la ao vivo. A velocidade e complexidade da música a afastou dos shows do Angra por muito tempo. Antes da turnê atual, a faixa não era executada pela banda desde 2007.

Para muitos fãs, “The Shadow Hunter” é considerada uma das melhores músicas do disco. A faixa dá nome ao personagem principal do disco, o cavaleiro templário que luta nas Cruzadas. Com estilos variados dentro da canção, a música é um dos grandes destaques do álbum. Porém, a dificuldade de Lione na parte final, algo também apresentado por Edu Falaschi quando a executa, chama novamente a atenção.

Vanessa Moreno foi uma grata surpresa anunciada para a execução da belíssima “No Pain For The Dead”. Nova companheira da banda em suas empreitadas, a excelente vocalista chegou a participar do último disco de estúdio da banda, além de se apresentar com o grupo durante sua recente turnê acústica.

Lione rasgou a voz, no melhor sentido da expressão, durante a poderosa “Winds of Destination”. Sua tentativa de deixar sua voz mais agressiva, principalmente durante as partes da música que originalmente foram gravadas por Hansi Kürsch (Blind Guardian), tiveram um bom resultado ao vivo.

Aliado a Lione, Rafael se destacou muito durante seus icônicos e importantes backing vocals durante toda a apresentação. Junto de Felipe, seus vocais de apoio abrilhantaram o concerto, algo que ficou muito claro durante “Sprouts of Time”, faixa que também nunca havia sido executada com Lione antes da turnê atual.

A ótima “Morning Star” precedeu a emocionante “Late Redemption”. Originalmente gravada com a participação do icônico Milton Nascimento, Rafael assumiu os vocais em português da trilha junto com o público que cantou a plenos pulmões nesse momento. Encerrando o bloco do “Temple of Shadows”, a música arrancou lágrimas de grande parte dos presentes.

“Make Believe” foi a escolha para seguir com o show. Única música do disco “Holy Land”, a canção foi apresentada com seu icônico clipe passando no telão do palco. Inclusive, durante toda a apresentação, o telão apresentava imagens que faziam referências às letras e às histórias contadas pelas canções.

Logo após “Vida Seca”, faixa que Bittencourt também assumiu as letras em português, Vanessa Moreno foi convidada ao palco novamente para a execução de Rebirth. Hino absoluto do Angra, fãs que acompanham a banda há mais tempo podem reclamar da música estar presente em todas as apresentações. Porém, ela continuar no setlist alimenta o brilho no olhar daqueles que nunca tiveram a oportunidade de assistir a banda ao vivo, sempre emocionando com seu refrão marcante.

Após os gritos de “olê, olê, Angra, Angra”, a banda voltou ao palco para se despedir de São Paulo com a clássica dobradinha de Carry On com Nova Era, executada pela banda por anos. A união de dois dos maiores clássicos da banda acontece logo após o solo de bateria de “Carry On”, emendando com “Nova Era” sendo executada em sua totalidade, encerrando o show com os paulistanos esgotando suas vozes cantando alto a faixa de abertura do disco “Rebirth”.

Tirando os pontos anteriormente levantados, a banda entregou uma apresentação de encher os olhos. Lione convence com sua presença de palco exemplar, além da própria persona que representa na história do power metal mundial. O vocalista conquista com sua simpatia, convencendo o público até a brincar com ele com seus famosos jogos de vocalização durante a apresentação.

Marcelo e Bruno assumiram a difícil missão de substituírem membros importantíssimos na carreira da banda e o fazem muito bem. Ouso dizer que, depois de Felipe Andreoli, Valverde foi a melhor escolha que o Angra já fez em sua carreira. Cada vez mais o jovem baterista ganha destaque no cenário mundial de seu instrumento.

Felipe e Rafael, únicos da banda a terem participado da composição e gravação do “Temple of Shadows”, conseguem ver uma banda afiada e, em alta performance, pronta para dizer adeus no novo hiato. Rafael, visivelmente muito feliz, tem noção da importância que a banda tem para seus antigos e novos fãs e acerta ao celebrar um disco tão histórico antes do novo adeus.

Quando o novo hiato foi anunciado, a banda disse que era um momento necessário para que a banda descansasse e dedicasse tempo para novos projetos, afirmando que a parada não era definitiva. Fica então a esperança que o Angra se renove em seu novo momento sabático e que retorne ainda mais forte. É isso que os fãs aguardam da principal banda de power metal do país.

 

SETLIST – AZEROTH

1 – Left Behind

2 – Falling Mask

3 – Urd

4 – The Promise

5 – La Salida

6 – Beyond Chaos

7 – Prelude to Oblivion (Viper Cover)

8 – Trails of Destiny

 

SETLIST – ANGRA

1 – Faithless Sanctuary

2 – Acid Rain

3 – Tide of Changes – Part I

4 – Tide of Changes – Part II

5 – Spread Your Fire

6 – Angels and Demons

7 – Waiting Silence

8 – Wishing Well

9 – The Temple of Hate

10 – The Shadow Hunter

11 – No Pain for the Dead

12 – Winds of Destination

13 – Sprouts of Time

14 – Morning Star

15 – Late Redemption

16 – Make Believe

17 – Vida Seca

18 – Rebirth

19 – Carry On/Nova Era

Galeria do show