Shows

Kool Metal Fest: celebração da música extrema faz o Tendal da Lapa tremer

Kool Metal Fest: celebração da música extrema faz o Tendal da Lapa tremer

29 de novembro de 2023


O Kool Metal Fest segue dando espaço à cena extrema brasileira e, neste sábado (25) chuvoso, transformou o Tendal da Lapa, zona oeste de São Paulo, no melhor lugar do mundo para headbangers de todas as idades, se divertirem ao som de ruídos, distorções e berros que por ali ecoavam.

A organização do evento preparou dois palcos: ‘Masters of Noise’ na parte interna e, na parte externa, o ‘Obsceno Extremo’. Foi nesta configuração que as bandas cumpriram a programação de horários sem atrasos.

Pontualmente às 14h, o Burrice Precoce, banda de Jundiaí/SP, subiu ao “palquinho” interno para mandar o que eles chamam de “burro grindpop”. E pra mim, que não conhecia o grupo, foi muito bom poder assistir a performance raivosa dos garotos que tocaram no formato quarteto clássico, com baixo, guitarra, bateria e voz.

Um dos destaques da banda é, sem dúvidas, o vocalista Igor, garoto de pele negra e black power poderoso, que verbalizou suas letras com muita personalidade. O desempenho no palco foi maravilhoso, já que ele rolava no chão, pra lá e pra cá, enrolado no fio do microfone. Enquanto a banda se apresentava, a molecada formava uma pequena roda punk, deixando claro que só queriam se divertir, sem qualquer tipo de treta. Foi um show meio Bad Brains, sem o elemento do reggae. Fantástico!

Os paulistanos do VØID IT já emendaram a festa no palco principal, sem pausa para respirar, às 14h30. O pessoal ainda estava chegando ao evento, mas o grindcore com elementos de black metal ecoava pelo espaço todo. Com formação clássica de baixo, guitarra, bateria e vocal, a banda entregou uma sonoridade bastante furiosa, com letras quase todas cantada em inglês. Para os presentes à frente do palco, sobrou rodas, mosh e pessoas sendo levadas de mãos em mãos. Formada em 2022, eles têm um disco lançado e alguns trabalhos divididos entre EP, splits e bootlegs. Podem até ser “novatos”, mas no palco se comportam como veteranos da cena.

O quarteto Cerberus Attack veio de São Mateus, extremo leste de São Paulo, para entregar um thrash metal/crossover cheio de personalidade ao público sedento por som pesado. E quando chegou o momento da banda subir ao palco menor, foi pouco papo e muito metal! Embalada pela velocidade dos acordes, a turma formou mosh, ergueu corpos e fez o chão de madeira tremer, literalmente. O “bicho pegou”!

Eles, que já participaram de outras edições do festival, tem na bagagem três discos lançados e um EP. Não é à toa, que eles acumulam muitos adeptos com o passar do tempo. A performance no palco foi visceral e quando os trinta minutos de show acabou, ficou o gostinho de que poderia rolar mais algumas músicas.

De volta ao palco principal, o duo paulistano de goregrind, Trachoma, fez da sua brutalidade sonora, um verdadeiro culto à podridão humana que agradou e muito os seus adeptos. Municiados de guitarra e bateria, Thales Gory e Rafaela Begore dividem os vocais cheios de efeitos, para criar uma atmosfera crua e “fétida”, que é tão característico em todo o meio gore (seja na música, cinema ou cultura popular). A banda tem na bagagem um EP e três discos, sendo “Born Headless” o último deles, lançado no primeiro semestre de 2023. Em resumo: foi uma desgraceira linda!

O “palquinho” recebeu, às 16h, o duo paulistano de punk/crust, Dischavizer, que fizeram do ambiente escuro, um lugar agradável e, claro, cheio de fúria. Portando guitarra com cordas de baixo e bateria seca, os guerreiros Igor e Nader, fizeram um ótimo show, com letras politizadas e muita atitude. Só faltou o teto cair com a pressão sonora que esses dois fizeram. E, claro, teve mosh e os loucos se jogando uns nos outros, mas sem confusão.

De Itaquaquecetuba, lado leste de São Paulo, para o palco principal do Tendal. Estou falando do Podridão, banda de death metal daqueles bem brutos, do tipo Cannibal Corpse, manja? Formado em 2016, o trio paulistano começou a bagunça às 16h30, sem atrasos. E o resultado foi um show matador, com os fãs insanos correndo de um lado para o outro, formando rodas e carregando corpos acima de vossas cabeças. Um dos grandes momentos do sábado, sem dúvidas!

Para quem se interessar, o trio tem três álbuns lançados e já acumula um público consolidado, desses de vestir a camisa, usar boné e bater no peito dizendo que a banda é FOD@! Foi visceral!

Há mais de 15 anos fazendo grindcore com amor e responsabilidade, os cariocas do BAGA entregam um som direto feito um soco na cara, fazendo dos moshs um mundo de alegria para qualquer headbanger habitar. O “palquinho” que abrigou os cinco integrantes, só faltou descolar do chão e flutuar nos braços da galera, durante os trinta minutos ininterrupto de caos sonoro. Na bagagem o grupo traz dois álbuns, um EP e alguns splits. O show é ótimo e recomendo!

Tentei parar com a maratona de shows para comer algo e observar a próxima atração de longe, mas fui impactado pela Ana C. Chaos e o seu projeto batizado de Umbilichaos que, sem temer o ambiente, dominou o palco e mandou o seu death/sludge/post-hardcore destruidor. Essa “one woman band” capitaneada por uma mulher trans, fez um show original, atmosférico e cheio de personalidade. Se você ainda não conhece o trabalho da Ana, corre para o teu streaming favorito que tem uma dezena de discos dela para ouvir. Tá massa!

Satanás está presente e a igreja pega fogo, quando o Álcool está em cena. É o verdadeiro Speed Metal a serviço do papai do chão. E foi ali no “palquinho”, de novo, que a banda se espremeu apara entregar um grande show.

Trajando calças coladas, cintos de balas e coletes, a banda trouxe o inferno para os pés dos pagãos, que fizeram um dos moshs mais insanos do rolê, com direito a pessoas arremessadas e surf nas alturas (sim, alguém levou pranchas de bodyboard). Infernal! Foi impactante pra mim, que estava vendo o show deles pela primeira vez, apesar de já conhecer e ouvir a banda há um tempinho. Achei incrível!

O FHC (Fim da Humanidade Capitalista) foi a penúltima banda da noite e entregou aquele hardcore verdadeiro, diretamente da zona norte de SP. Com discurso politizado e com o boné do grupo de hip-hop Consciência Humana de São Mateus, zona leste de SP, o vocalista mandou o papo reto e demonstrando que ama o que faz. A banda tem quatro álbuns de estúdio e um bom número de admiradores, que cantavam os refrões aos berros. Todos nós gostamos!

E para encerrar as atividades na parte interna do espaço, tivemos uma das atrações que mais agitaram a noite, a banda Cemitério. Com temáticas de filmes de terror e vocal mais rouco, as letras foram ovacionadas pelo amontoado de fãs que lotaram o espaço e se espremiam no contorno do “palquinho”. Teve fã pendurado na estrutura metálica, um mosh enorme com pessoas sendo lançadas para o palco, que ao descer, já grudavam no microfone para cantar o refrão das músicas. Foi mais insano do que a primeira vez que os assisti em 2019, no Carioca Club, São Paulo.

Por fim, os suecos mascarados do Birdflesh roubaram a cena com o seu grindcore brutal e fanfarrão. Em terras brasileiras pela primeira vez, a banda se apresentou por aqui, graças a uma parceria entre o Kool Metal e o Obscene Extreme Fest da República Tcheca, que talvez seja, o maior festival de música extrema do mundo. O trio esbanjou simpatia e competência, onde todos os membros da banda se revezaram nos vocais, fazendo a festa do público que se entregou à selvageria pacífica e feliz.

O Birdflesh fechou a noite, mas estavam todos presentes desde a abertura dos portões. Assim eles puderam apreciar todas as atrações, enquanto se revezaram nas vendas de camisetas e CDs na banquinha de merchandising. Todos acessíveis para uma conversa, foto ou autógrafo. Inclusive o Curby, produtor e dono do Obscene Extreme Fest, também esteve perambulando pelo espaço, vendo tudo de perto e, mais pro final, foi visto ao lado do João Gordo (Ratos de Porão) e sua esposa, Vivi Torrico, curtindo o trio sueco. Pela empolgação demonstrada a cada banda no palco, tenho certeza de que ele gostou da nossa cultura tupiniquim de consumir o metal extremo.

Acho que vem mais coisa boa por aí!

Galeria do show