Há 23 anos, em 12 de novembro de 2002, o Pearl Jam lançava “Riot Act”, o sétimo álbum da banda mais bem sucedida do movimento Grunge de Seattle, que é tema do nosso Memory Remains desta quarta-feira.
O álbum foi escrito em meio aos incidentes que direta e indiretamente afetaram a banda, como a tragédia no festival de Roskilde, na Dinamarca, no final do ano de 2000, enquanto o Pearl Jam se apresentava. O Pearl Jam parou a apresentação e tentou ajudar o público, e nove pessoas morreram. Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 também influenciaram no disco.
A banda resolveu tirar um período de férias. Eddie Vedder foi para o Hawaii, onde mora até hoje e foi surfar. Stone Gossard gravou um álbum solo. Mike McCreaddy trabalhou na trilha sonora de “Vanilla Sky“. Já o baixista Jeff Ament e o baterista Matt Cameron tocaram com outros artistas. Eddie Vedder recebeu ligações de Pete Townshend e de Roger Daltrey, que tinham passado por um problema semelhante em um show do The Who. O vocalista lembrou da conversa com Townshend. Aspas para ele:
“Pete e Roger do The Who ambos ligaram, e a única pergunta que eu tinha pro Pete era: ‘O que isso significa carmicamente? Por que isso aconteceu com a gente, uma vez que sempre trabalhamos muito para manter as pessoas indo aos nossos shows seguras?’ Porque sempre foi segurança e respeito para nossos fãs acima de tudo. E ele virou a questão de ponta cabeça: ‘Talvez tenha acontecido com vocês porque conseguem lidar com isso’.”
Foi entre uma onda e outra, no meio do pacífico, que Eddie Vedder conheceu Kenneth “Boom” Gaspar. Ele foi convidado para fazer uma jam e hoje é uma espécie de sexto membro do Pearl Jam, sempre se apresentando com a banda ao vivo. A parceria começou aqui com a música “Love Boat Capitain“, que contou com a participação do tecladista havaiano na composição.
O Pearl Jam sempre foi ligado às causas sociais, sempre defendeu as minorias, o direito da mulher escolher pelo aborto e sempre foram na contramão da sociedade estadunidense. Portanto, “Riot Act” é um álbum bastante politizado. Eddie Vedder escreveu “Bu$hleaguer“, uma crítica ao ex-presidente George W. Bush, que à época gastou milhões de dólares em uma suposta guerra ao terror, que visava unicamente ter acesso ao petróleo do oriente médio. Há também uma homenagem aos fãs que perderam a vida em Roskilde, que é a música “Arc“, além de outras citações aos falecidos na música “Love Boat Capitain“, onde ele diz que “perdeu nove amigos que nunca conheceu”.
Em outra entrevista, Eddie Vedder falou sobre como estava incomodado com a cultura extremamente conservadora da sociedade estadunidense, e que, via de regra, é quase sempre copiada aqui em terras tupiniquins, principalmente no que diz respeito às pautas conservadoras e retrógradas. Aspas para ele:
“Tenho que admitir que este disco saiu um pouco unilateral. Mas acho que nós, como país, precisamos entender por que estamos envolvidos no Oriente Médio. Esse patriotismo vazio me assusta.”
A banda se juntou ao produtor Adam Kasper após sugestão de Matt Cameron. Kasper já havia trabalhado como engenheiro de som em álbuns anteriores. A banda fez duas sessões no estúdio X, em Seattle, entre os meses de fevereiro e abril de 2002. A mixagem foi feita pelo velho conhecido Brendan O’Brien. Eddie Vedder levou uma máquina de escrever para o estúdio e lá ficava escrevendo as letras, enquanto os outros integrantes trabalhavam nas músicas.
Bolacha rolando, o Pearl Jam nos apresente um álbum um tanto quanto experimental, e com diversas influências que vão do Garage Rock ao Folk. Musicalmente está bem longe dos melhores momentos da banda, principalmente dos três primeiros álbuns, mas temos alguns bons momentos nas quinze faixas e 54 minutos de duração, como em “Save You“, a já citada “Love Boat Capitain“, “Cropduster“, “Ghost” é o grande hit do álbum que é a música “I Am Mine“, que é tocada em qualquer barzinho por alguém que esteja se apresentando no estilo voz e violão.
A crítica especializada em geral fez críticas positivas ao álbum. Boa parte do público também comprou a ideia vendida pela banda, ainda que Eddie Vedder tenha passado por alguns problemas durante a turnê pelos Estados Unidos, ao confrontar alguns fãs que cantavam músicas patrióticas enquanto o vocalista descia a marreta na desastrosa gestão de Bush na Casa Branca. Mas quem conhece a banda, já sabe o que esperar, eles sempre foram politizados é isso é um tapa na cara daquele que diz que “um artista não pode misturar música com política”.
O álbum vendeu pouco mais de 500 mil cópias nos Estados Unidos, menos do que o álbum anterior, “Binaural” e foi o primeiro disco do Pearl Jam a não entrar no Top 2 da “Billboard 200“, onde ficou em 5°. Foi 1° na Austrália, 2° na Nova Zelândia e na Itália, 3° na Noruega e em Portugal, 4° no Canadá, 6° na Polônia, 9° na Irlanda, 12° na Bélgica, 13° na Alemanha, Suécia e Suíça, 16° na Dinamarca, 20° na Espanha, 21° na Finlândia, 23° nos Países Baixos e na Escócia, 24° na Áustria e 34° no Reino Unido. Foi certificado com Disco de Prata no Reino Unido, Ouro no Brasil, Nova Zelândia e Estados Unidos e Platina no Canadá.
O Pearl Jam caiu na estrada, e em 2003 realizou shows nos Estados Unidos, Europa e Austrália. A banda optou por dar uma pausa em festivais, por conta do trauma em Roskilde, mas depois voltaram atrás na decisão. Em 2005, o grupo passou pela primeira vez no Brasil, onde tocou em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, e Eddie Vedder falou que da próxima vez que a banda retornasse ao país, o mundo seria melhor, pois George Bush não seria mais presidente e por aqui ele foi ovacionado.
Este foi o último álbum da banda lançado pela Epic. Depois de uma breve passagem pela J Records, eles criaram seu próprio selo, a Monkeywrench, e tem lançado seus álbuns por meios próprios desde então. Hoje é dia de celebrar mais um aniversário de “Riot Act“. Felizmente, o Pearl Jam sempre estará do lado certo da história, para desespero do fã conservador que ainda não entendeu a mensagem progressista dos caras. Estamos aguardando o anúncio de quem será o substituto de Matt Cameron, que por 27 anos foi o titular das baquetas.

Riot Act – Pearl Jam
Data de lançamento – 12/11/2002
Gravadora – Epic
Faixas:
01 – Can’t Keep
02 – Save You
03 – Love Boat Captain
04 – Cropduster
05 – Ghost
06 – I Am Mine
07 – Thumbing My Way
08 – You Are
09 – Get Right
10 – Green Disease
11 – Help Help
12 – Bu$hleaguer
13 – ½ Full
14 – Arc
15 – All or None
Formação:
Eddie Vedder – vocal/ guitarra
Stone Gossard – guitarra
Jeff Ament – baixo
Mike McCreaddy – guitarra
Matt Cameron – bateria/ percussão/ guitarra base em “You Are“
Participação especial:
Kenneth Boom Gaspar – teclado