Memory Remains

Memory Remains: Pearl Jam – 32 anos de “VS.” e a revolta da banda com o mainstream

19 de outubro de 2025


Há 32 anos, em 19 de outubro de 1993, o Pearl Jam lançava “VS.”, o segundo álbum da carreira da banda e que seria um divisor de águas na relação deles com o sucesso e a imprensa. Esse é o tema do nosso Memory Remains deste domingo.

A banda havia crescido de forma inimaginável: “Ten“, o disco de estreia, bateu recordes de venda; a turnê foi gigantesca, porém, a banda não estava sabendo lidar com todo o sucesso em torno de si. Havia pressão da “Epic” para que a banda produzisse uma nova “galinha dos ovos de ouro”.

O processo de gravação não foi dos mais tranquilos, a começar pelo nome do álbum, que em princípio, seria “Five Against One” (Cinco contra Um, em tradução literal), nome trocado por questões óbvias, apesar de que, o ouvinte que prestar atenção nos primeiros versos da faixa “Animal“, perceberá que a frase se faz presente e não há nada de pervertido aqui.

A banda passou por dois estúdios, entre março e maio de 1993. O início dos registros se deu no “Potatohead Studio”, na cidade de Seattle, com uma mudança para o estúdio “The Site”, que fica em um sítio na cidade de Nicasio, na Califórnia. Quando da chegada no último local, o baterista Dave Abbruzzese deu ao local de gravação o adjetivo de “tranquilo”, enquanto que o frontman Eddie Vedder soltou a seguinte pérola:

“Eu odeio isso aqui. Eu tive um momento difícil. Como você faz um disco de Rock aqui?”

O guitarrista Mike McCreaddy deu uma entrevista em 2002 lembrou dos tempos difíceis:

“A banda explodiu e logo éramos muito grandes, era tudo muito louco.”

Os caras optaram em dar menos ênfase comercial e focar apenas na música, mas tudo isso teve efeito contrário: “VS.” foi cercado de muita expectativa e superou o antecessor em termos de vendas: bateu o recorde de mais cópias vendidas em sua primeira semana de lançamento (950 mil cópias), além de ter ocupado a primeira posição da “Billboard 200” por cinco semanas, sendo assim, o álbum do Pearl Jam que ficou nesta posição durante o maior tempo.

Naquela época, qualquer banda que tentasse se autossabotar, como fez o Pearl Jam, com certeza sucumbiria. Mas eles tinham cara e coragem. Enfrentaram a MTV, não produziram videoclipes oficiais, deixaram de dar entrevistas e o segundo disco foi o boom que foi.

A produção ficou a cargo de Brendan O’Brien, que confessou recentemente ter sentido a necessidade de deixar os caras mais à vontade para gravar e tirar a pressão dos fãs, da gravadora e de toda a indústria musical. E a saída para tal foi incentivar aos caras a praticarem softball todas as manhãs.

E a sonoridade da banda em muito se distanciou do que escutamos em “Ten“, sendo mais raivoso, embora em alguns momentos com melodia e até batidas tribais. São 12 faixas em breves 46 minutos e se não tivemos muitas músicas radiofônicas como no álbum de estreia, grandes clássicos do Pearl Jam foram forjados aqui: “Go“, “Animal“, “Daughter“, “Dissident“, “Blood“, “Rats“, “Rearviewmirror” e “Leash” são algumas das músicas que se tornaram notáveis. “Glorified G” é um recado que a banda já dava aos defensores do armamento por parte do cidadão comum, tema que tem sido discutido pelos setores conservadores aqui do Brasil. Não adianta a gente explicar que armas têm que estar apenas nas mãos das polícias e ainda assim há vários deslizes. Mas tem fã que cancela a banda quando toma conhecimento da militância deles, coisa que eles sempre fizeram.

VS.” teve como singles as músicas “Go“, “Daughter“, “Animal” e “Dissident“, todas ficaram em primeiro lugar nas paradas Mainstream Rock e Modern Rock, por um total de oito semanas. Em 1995, “Daughter” foi nomeada na categoria “Melhor performance de Rock por um duo ou vocalista“; “Go” recebeu a nomeação de “Melhor Performance de Hard Rock” e “VS.” recebeu nomeação na categoria “Melhor Álbum de Rock“. Nada mal.

O Pearl Jam hoje é uma das bandas mais bem sucedidas do Rock e com uma base de fãs bastante fiel. A sonoridade mudou, mas a atitude da banda segue intacta e eles fazem questão de se colocar a favor das causas sociais, a preocupação com o desequilíbrio climático, a fauna e flora, a questão do aborto. Tudo isso faz do Pearl Jam uma banda diferenciada, que não aceita os padrões conservadores que são impostos e todos os dias eles tentam nos ensinar a aceitarmos as diferenças e a diversidade humana. É o tipo da banda que o fã que pede anistia para políticos fascistas simplesmente rejeita. E a banda não está nem aí para essa parcela de pessoas.

Hoje é dia de celebrar esse álbum maravilhoso, que marcou toda uma geração. O Pearl Jam segue em atividade, agora sem Matt Cameron, que anunciou sua saída depois de 27 anos. A banda ainda não anunciou seu substituto e eles parecem não ter pressa nisso, uma vez que não possuem shows agendados para o restante do ano. Os fãs já foram às redes sociais de Dave Abbruzzese pedir que ele voltasse à banda, mas parece que ainda restaram alguns ressentimentos de ambas as partes. Aguardemos.

VS. – Pearl Jam 

Data de lançamento – 19/10/1993

Gravadora – Epic

Faixas:

01 – Go

02 – Animal

03 – Daughter

04 – Glorified G

05 – Dissident

06 – W.M.A.

07 – Blood

08 – Rearviewmirror

09 – Rats

10 – Ederly Woman Behind the Counter in a Small Town

11 – Leash

12 – Indiference

Formação:

Eddie Vedder – vocal

Stone Gossard – guitarra

Jeff Ament – baixo

Mike McCreaddy – guitarra

Dave Abbruzzese – bateria