Memory Remains

Memory Remains: Titãs – 32 anos de “Titanomaquia” e a vida pós-Arnaldo Antunes

10 de julho de 2025


Há 32 anos, em 10 de julho de 1993,  o Titãs lançava “Titanomaquia“, considerado por muitos o melhor e mais pesado álbum da carreira da banda, mas que foi completamente ignorado nos recentes shows que a banda fez para celebrar seus 40 anos de existência. O Memory Remains desta quinta-feira vai prestar o devido tributo e te contar um pouco daquele álbum.

Pela primeira vez na história o Titãs deixava de contar com Arnaldo Antunes em sua formação, o que não quer dizer que ele não tenha participado do processo de composição do álbum. Ele ajudou a escrever músicas como “Disneylândia“, “Hereditário” e “De Olhos Fechados“. Mas ele estava querendo se aventurar em outras experiências musicais e o Rock já não era sua prioridade. Hoje ele énum dos maiores compositores da música popular brasileira e tem sua carreira solo bastante consolidada.

A banda vinha de um disco onde as críticas foram negativas: “Tudo ao Mesmo Tempo Agora“, que já tinha um certo peso. Então a banda resolveu inovar: trouxe o produtor estadunidense Jack Endino, que havia produzido o álbum de estréia do Nirvana, “Bleach“. Com a palavra, o próprio Jack:

“Achei estranho (ser convidado para produzir) para mim a princípio, porque a “Warner” me enviou primeiro a cópia do ‘Õ Blesq Blom‘, e eu pensei: ‘Por que eles me querem?’ Mas em seguida, eles me enviaram uma cópia de “Tudo ao Mesmo Tempo agora” e eu disse a mim mesmo: ‘Oh, ok, agora eu entendi, eles são realmente uma banda de rock.’ Os Titãs disseram que queriam fazer um disco de rock de verdade e eu lhes disse: ‘É isso que eu faço.’”

A investida deu certo, muito embora alguns fãs tenham torcido o nariz, talvez influenciados pelo o que a crítica especializada dizia, especialmente por se referir ao disco, de forma pejorativa como “o disco grunge do Titãs”, até porque, ali não tem nada de grunge, o que percebemos é muito peso, algumas partes mais core e até mesmo flertes com o Metal. Então a banda dava de ombros e nos presenteava com um ótimo disco de Rock, o melhor lançado até então.

Recentemente, o ex-baixista Nando Reis publicou um vídeo em seu canal oficial no YouTube, onde ele conta que o produtor Butch Vig, que ganhou notoriedade ao produzir o super aclamado “Nevermind”, do Nirvana, porém, Jack Endino aceitou o desafio e Vig nem sequer recebeu o convite, que ficou somente no terreno das especulações.

Os sete integrantes então, partiram juntamente com Jack Endino para o Rio de Janeiro, no estúdio “Nas Nuvens“, o mesmo em que a própria banda já havia lançado o seu maior clássico, “Cabeça Dinossauro“, e onde o Sepultura também gravou o “Beneath the Remains“, deixando claro que à época, a banda de Max Cavalera escolheu exatamente esse mesmo estúdio pelo fato de o Titãs já ter gravado por lá, e até os dias de hoje, Andreas Kisser admite tal fato. E em pouco mais de 38 minutos de música, percebemos o quão excelente fora o resultado das gravações.

O álbum é composto por treze pedradas, uma mais pesada e mais violenta que a outra, em um total de 38 minutos, duração de um disco de Punk. Os destaques ficam por conta de músicas como “Será Que é Isso Que eu Necessito?“, “Nem Sempre se Pode Ser Deus“, “Disneylândia“, “Estados Alterados da Mente“, “Agonizando“, “Fazer O Quê?“, “A Verdadeira Mary Poppins“, “Felizes São os Peixes“, “Dissertação do Papa Sobre o Crime Seguida de Orgia” e “Taxidermia“, sem desmerecer as outras não citadas, que são igualmente ótimas.

Uma curiosidade sobre a música “Disneylândia” é que além da letra inteligentíssima, traz uma critica à globalização.  Parte da letra foi utilizada como questão no ENEM do ano de 2013. Hoje, provavelmente a banda iria tecer alguma crítica ao presidente Donald Trump, que insiste em praticar taxas abusivas para impor o imperialismo estadunidense. Ele é tão cara de pau, que teve a indecência de tentar se meter em questões do judiciário brasileiro, que são alheios ao seu (des)governo.

Outra curiosidade é que Nando Reis só cantou em uma única faixa: “Hereditário” foi sua participação como vocalista. Ele não gosta do álbum e já disse isso diversas vezes, sua insatisfação com o direcionamento musical que a banda estava abordando naquela época era imensa e isso acabou fazendo com que sua participação fosse maior como baixista, e ainda assim, ele não gostou de ter que mudar a sua maneira de tocar o baixo.

A banda também tinha planos de tentar uma carreira internacional, chegando até a escrever versões em inglês para as letras contidas aqui em “Titanomaquia“, mas o produtor Jack Endino jogou um balde de água fria na banda, sob o argumento de que nos Estados Unidos, o Titãs seria apenas mais uma banda por lá. Ele dizia que “em toda esquina tem uma banda fazendo o quê vocês fazem”. Então eles desistiram da ideia.

Titanomaquia” é um álbum muito bom, que com certeza influenciou algumas bandas que viriam depois. Foi durante a turnê deste álbum que a banda (ou parte dela) criou o selo “Banguela Records” em que lançou algumas bandas que estão até hoje tocando por ai, como o Raimundos, inclusive sendo esta, a banda de abertura nos shows da turnê deste álbum. Uma pena que a rapaziada do Titãs tenha ajudado a lançar uma banda, cujo vocalista/ guitarrista hoje ironiza a morte da publicitária Juliana Marins, que sucumbiu enquanto se aventurava no Monte Rinjani, só porque a moça utilizava o adesivo “ele não”, para explicitar que Jair Bolsonaro não era seu candidato, e o cara se doeu por isso.

O trabalho de Jack Endino foi sensacional. Ele gravaria outros discos com a banda, mas jamais superaria o que foi feito aqui, até porque o Titãs abriram mão de fazer Rock após “Titanomaquia“, o que é uma pena. Mas hoje é dia de celebrarmos esse disco, que de Grunge, só tem a rebeldia, porque ele é bom, pesado e com certeza por ser incluído na lista dos melhores álbuns do Rock brasileiro. E a banda poderia ter dado sequência com outro álbum poderoso, o que acabou não acontecendo.

O Titãs caiu na estrada, e uma das apresentações mais icônicas aconteceu durante a edição de 1994 do antigo Hollywood Rock, quando tocaram com o Sepultura. Também participaram daquela edição do festival, nomes como Aerosmith, Poison, Ugly Kid Joe, Poison e Robert Plant. Depois, o Titãs foi banda de abertura do Sepultura durante a turnê sul-americana da banda. A receptividade dos fãs não foi tão boa, o que fez com que Max Cavalera subisse ao palco, exigindo respeito dos fãs, que eram seus convidados. Assim, o show de cusparadas terminou.

Um disco para quem é saudosista e curte um som pesado, direto e sem frescura, certamente a obra-prima do outrora septeto. Hoje é dia de exaltarmos esse play fantástico. Se você não conhece, está perdendo tempo, porque essa é uma dádiva do Rock tupiniquim. 32 anos e envelhecendo muito bem, obrigado. O guitarrista Tony Bellotto está se recuperando de uma cirurgia bem sucedida para retirada de um tumor no pâncreas e nós estamos aguardando o retorno dele com a banda para quem sabe, voltar a tocar as músicas do nosso aniversariante de hoje.

Titanomaquia – Titãs
Data de lançamento – 10/07/1993
Gravadora – WEA

Faixas:
01 – Será que é Isso que eu Necessito?
02 – Nem Sempre se Pode ser Deus
03 – Disneylândia
04 – Hereditário
05 – Estados Alterados da Mente
06 – Agonizando
07 – De Olhos Fechados
08 – Fazer o quê?
09 – A Verdadeira Mary Poppins
10 – Felizes são os Peixes
11 – Tempo pra Gastar
12 – Dissertação do Papa Sobre Crime Seguida de Orgia
13 – Taxidermia

Formação:
Branco Mello – vocal
Charles Gavin – bateria
Marcello Fromer – guitarra
Nando Reis – baixo/ vocal em “Hereditário
Paulo Miklos – vocal
Sergio Brito – vocal
Tony Bellotto – guitarra