Memory Remains

Memory Remains: Titãs – 36 anos de “Õ Blésq Blom” e a participação do folclórico casal Mauro e Quitéria

16 de outubro de 2025


Há 36 anos, o Titãs lançava “Õ Blésq Blom”, o quinto álbum desta banda que é uma das mais importantes do Rock nacional e tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira, nós vamos trazer um pouco da história deste play.

A banda vinha em seu momento mágico, que durou entre os álbuns “Cabeça Dinossauro” (1986) e “Titanomaquia” (1993). O álbum anterior, “Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas” foi bem recebido pela crítica e público e a banda havia lançado o primeiro álbum ao vivo, “Go Back“, onde os rapazes registraram a histórica apresentação no Festival de Montreux, na França, sendo a primeira aparição internacional do octeto.

É bem verdade que o aniversariante do dia não é um álbum que tem momentos de peso como “Cabeça Dinossauro” e “Jesus não tem Dentes“…, pelo contrário, há coisas experimentais, que inclusive, veio a influenciar uma galera de Recife que viria a ser conhecida como uma nova vertente, que misturava o Rock com ritmos regionais, como o baião, por exemplo: estamos falando do Manguebeat.
Neste álbum, a banda resolveu incluir a participação de um casal folclórico de Recife. Trata- se de Mauro e Quitéria, que eles descobriram em uma de suas passagens pela capital Capibaribe. Mauro, um ex-estivador, que trabalhava no Porto, deficiente visual, e cantava em um idioma próprio, daí nasceu o título do álbum, uma frase que Mauro repetia sempre. Paulo Miklos e Tony Bellotto encontraram os dois na porta do hotel e gravaram as frases que escutamos nas vinhetas que iniciam e encerram o álbum, além de alguns trechos da música “Miséria“.

O casal recebeu NCz$ 6.000 (na época, nossa moeda era o Cruzado Novo) pela participação no álbum. Hoje em dia, esse valor corresponde a pouco mais de R$76.500, corrigidos pelo IPCA. A banda cogitou em levar o casal para a turnê, o que acabou sendo inviabilizado em decorrência da logística. Mas a amizade foi criada e sempre que a banda estava em Pernambuco, o casal estava junto.

De posse com a gravação do idioma “estranho” do casal, a banda se reuniu no estúdio “Nas Nuvens”, no Rio de Janeiro, entre julho e setembro de 1989, na companhia do produtor Liminha, para gravar o play. Nando Reis enfrentou uma barra, pois sua mãe havia falecido pouco tempo antes do início das gravações, mas ele próprio considera que o fato de ter ocupado sua mente com a gravação ajudou a enfrentar o período de luto. A capa é de autoria de Arnaldo Antunes e foi escolhida entre outras cinco gravuras apresentadas por Arnaldo, através de votação, como tudo que decidia os rumos da banda.

Õ Blésq Blom“, segundo Mauro, significa terra que foi habitada pelos primeiros homens, de acordo com esse idioma que ele criou, do qual somente ele compreendia. A grafia foi sugerida por Nando Reis. Mauro, juntamente com Quitéria, chegou a participar de alguns shows com a banda. Ele faleceu em 1992, vítima de pneumonia. Não temos notícias de Quitéria, mas é bem provável que também já tenha falecido.

O álbum tem 13 faixas, dez músicas de fato, pois três são as vinhetas gravadas pelo casal Mauro e Quitéria. Se não é 100% Rock N’ Roll, o álbum tem grandes momentos como nas faixas “Miséria“, “Flores“, “Medo“, “32 Dentes“, além da clássica “O Pulso“, eternizada na voz de Arnaldo Antunes. O play tem a sua importância no cenário nacional. Paulo Miklos deu uma entrevista à revista Bizz onde afirmava que Chico Sceince havia lhe confidenciado que os futuros nomes do Manguebeat estavam na primeira fileira dos shows da banda, em Recife, o que deixa mais que explícito a influência que o disco teve sobre o movimento que emergiu anos depois, que inclusive foi valorizado pelo selo criado por integrantes do Titãs, a Banguela, que revelou nomes do Rock e também da cena que estava emergindo no Recife, como o o Mundo Livre S/A.

Õ Blésq Blom” vendeu cem mil cópias nas duas primeiras semanas de lançamento, o que fez com que a banda fosse certificada com Disco de Ouro. No ano de 2007, a revista “Rolling Stone Brasil” elegeu o álbum o 74° melhor álbum da música brasileira. Caetano Veloso foi o responsável por escrever o press release do álbum. O vocalista e tecladista Sérgio Britto considera esse como sendo um dos melhores trabalhos de toda a carreira dos Titãs e recentemente ele defendeu o uso excessivo dos teclados e samplers, em detrimento das guitarras, alegando que em tantos outros álbuns ele não gravou sequer uma nota de teclado e que havia chegado a sua vez de fazer acontecer.

Enfim, temos um álbum que fez muita história e merece a posição que ocupa, entre os melhores produzidos pelo Rock nacional. O Titãs segue em atividade, tendo apenas Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto, que recentemente voltou a se apresentar após ter se recuperado da cirurgia de retirada de um câncer. Existe uma chance de os demais integrantes se reunirem novamente em 2027, vamos aguardar.

Õ Blésq Blom – Titãs
Data de lançamento – 16/10/1989
Gravadora – Warner

Faixas:
01 – Introdução por Mauro e Quitéria
02 – Miséria
03 – Racio Símio
04 – O Camelo e o Dromedário
05 – Palavras
06 – Medo
07 –  Natureza Morta
08 – Flores
09 – O Pulso
10 – 32 Dentes
11 – Faculdade
12- Deus e o Diabo
13 – Vinheta Final por Mauro e Quitéria

Formação:
Arnaldo Antunes – vocal
Branco Mello – vocal Sergio Britto – vocal/teclado
Nando Reis – vocal/ baixo
Paulo Miklos – vocal/ saxofone
Marcello Fromer – guitarra
Tony Bellotto – guitarra Charles Gavin – baixo

Participações especiais:
Liminha – bateria eletrônica e programação de teclados
Mauro e Quitéria – vozes