Quando o Paradise Lost anuncia um disco novo, imprensa e fãs logo ficam atentos, afinal, em seus quase 40 anos de carreira, a banda construiu uma extensa e respeitável discografia. “Ascension” (2025), seu décimo sétimo disco, trouxe, a expectativa de ser um novo lançamento e o fim do mais longo hiato do grupo sem novidades, foram cinco anos de silencio desde “Obsidian” (estou descondensado “Icon 30” por ser uma regravação comemorativa do perfeito “Icon”, de 1993).
Sua capa diz muito sobre o que encontraremos aqui. Ela reproduz “The Court Of Death”, obra de George Frederic Watts, que nos adverte: somos todos iguais diante da morte, representada ali pelo anjo em destaque sentado no alto de um trono, segurando um bebê recém-nascido. Aos seus pés, um duque, um soldado e uma debilitada mulher, todos prestes a vivenciá-la. Ao fundo, a luz fraca da estrela da esperança ainda brilha, mostrando que a morte pode ser um alívio diante dor e da luta (a obra original é mais rústica que a utilizada pela banda e a versão em CD deixou de fora a imagem do livro da vida, de um leão, de uma criança e de mais uma pessoa).
Assim como a obra de Watts, “Ascension” (2025) é um disco mais profundo do que à primeira vista: ele aborda as inconstâncias da vida, suas imprevisibilidades e como lidamos com elas. Suas letras, todas escritas por Nick Holmes, falam de esperança, redenção e aceitação contra o inevitável – a morte.
Musicalmente o disco repete, e aqui digo isso num sentido positivo, não como falta de criatividade, elementos do doom metal feito em “The Plague Within” (2015), “Medusa” (2017) e “Obsidian” (2020), alguns toques de heavy metal e até mesmo riffs e versos que lembram o Metallica (Kerrang! avisou em 1995 que isso aconteceria…) em “Silence Like The Grave” e “Sirens”. Quem não gostou do interessante projeto Host, onde a dupla Holmes/Mackintosh usou e abusou de sintetizadores e uma atmosfera mais gótica oitentista, pode ficar tranquilo, já que nada disso aparece aqui.
As músicas carregam peso, um tom de melancolia sem ser “miserable music”, como Holmes gosta de dizer e variações no vocais, ora rosnados, ora cantados – novamente, nada muito diferente do que a banda tem feito nos últimos anos. Surpresa mesmo foi a demissão do baterista italiano Guido Montanarini poucos meses antes do lançamento do disco que aparece creditado no encarte, mas sequer tem uma foto sua ali. Para seu lugar retorna Jeff Singer, que gravou “In Requiem” (2007).
“Ascension” (2025) mantém o Paradise Lost soberano como a maior e mais relevante banda de gothic/doom metal, refletindo as posições do disco no Top 10 do Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Suécia, Áustria e Escócia. Há excelentes momentos ali, como “Serpent On The Cross” e “Tyrants Serenade”, ótimas escolhas para abrir o disco, pesadas, melancólicas, exatamente o que os fãs esperam da banda; “Salvation”, alternando vocais rosnados e cantados de Holmes mais os backing de Alan Averill, do grupo de folk/black metal Pirmordial; “Lay A Wreath Upon The World”, que traz uma linda junção da voz de Heather Thompson, esposa Gregor Mackintosh, com sua guitarra e “The Precipice”, doom no melhor estilo Paradise Lost.
A Shinigami Records, em parceria com a Nuclear Blast Records, fez o lançamento do disco no Brasil em duas versões: em acrílico ou digipack, nesse formato com duas faixas bônus.
Formação:
Nick Holmes: vocais
Gregor Mackintosh: guitarra
Aaron Aedy: guitarra
Steve Edmondson: baixo
Guido Montanarini: bateria
Faixas:
01 Serpent On The Cross
02 Tyrants Serenade
03 Salvation feat. Alan Averill
04 Silence Like The Grave
05 Lay A Wreath Upon The World feat. Heather Thompson
06 Diluvium
07 Savage Days
08 Sirens
09 Deceivers
10 The Precipice
11 This Stark Town (bonus track)
12 A Life Unknown (bonus track)