Resenhas

Beautiful Lies

Eric Sleeper

Avaliação

9.0

Eric Sleeper chegou com os dois pés no peito e uma guitarra molhada de reverb pra nos lembrar que o grunge, o punk e o alternativo ainda têm muita lenha pra queimar — e ainda melhor quando vêm num pacote cru, honesto e cheio de personalidade como em Beautiful Lies.

Direto de Nova Jersey, mas com alma dividida entre o caos de Nova York e a introspecção de um quarto escuro com um violão desafinado, Sleeper constrói uma sonoridade que conversa com as gerações dos anos 90 e 2000, sem soar como cópia, e sim como alguém que bebeu direto da fonte.

Logo na primeira faixa, “Ghost”, ele puxa o ouvinte pela gola da camisa: indie, mas com sujeira nas entrelinhas, riffs que lembram o clima de um disco da Hole. Há uma aura etérea por trás da distorção, um clima de sonho mal dormido. Quando “White Fences” entra, a vibe muda: aqui é aquele rock dos anos 2000 de rádio, estilo 3 Doors Down com o pé sujo de garagem, crescendo com naturalidade e entregando peso na hora certa. O vocal se encaixa perfeitamente na melodia crescente, sem excessos — só aquela urgência sincera de quem canta o que vive.

“Killer Eyes” entra como se o The Used e o Bush tivessem tido um filho indie punk. Tem grunge, tem emo, tem uma bateria pulsante que puxa pra frente e dá aquele punch jovem que faz bater o pé. Em “Hypocrite”, o grunge domina, mas com um twist: a bateria tem cara de Arctic Monkeys, leve, precisa, quase dançante. É como ouvir o Nirvana depois de tomar um banho e sair pra um rolê hipster no Brooklyn.

Em “Lotto”, o pedal tremolo brilha. A guitarra molhada e os riffs que vão e voltam criam uma sensação “de Nirvaan” inegável. Kevin Persaud segura o baixo com elegância, e a faixa inteira soa como se tivesse sido gravada com raiva contida. “Midnight Robber” mantém o pique alto, com groove punch e urgência urbana. A bateria aqui é destaque, dinâmica, cheia de viradas sutis e muito groove.

“Burn” é aquele tipo de faixa que te joga de volta pros anos 2000. Guitarras com eco, bateria simples e direta, e o vocal jovem, rasgado, como um grito engasgado que finalmente saiu. “Waste”, por outro lado, desacelera. Traz uma levada mais próxima ao rap alternativo, mas perde um pouco da identidade única do disco — não chega a comprometer, mas também não entrega tanto quanto as outras.

“Run!” traz de volta a energia, o punch punk, o groove sujo. É quase um sprint final, onde Eric descarrega tudo de mais cru que acumulou ao longo das faixas. E aí vem “What You Do To Me”, o grand finale. Um apanhado de tudo que o disco tem de melhor. O grunge, o punk, o indie e o alternativo, todos juntos e harmônicos e corroborando com a identidade de Eric e do seu som. Fecha com gosto de quero mais, como todo bom debut deveria.

Beautiful Lies é um disco que acerta porque não tenta agradar a todo mundo — ele se banca. Eric Sleeper é tipo um Elliott Smith que passou pelo Nirvana, tropeçou no The Strokes e decidiu montar seu próprio som sem pedir licença. Se você curte Foo Fighters, Placebo e The Smashing Pumpkins, esse álbum vai te pegar em cheio. Ouça com fones, de preferência andando pela cidade. É um disco pra te guiar nessa, do jeito mais barulhento e autêntico possível.