Resenhas

Echoes Of The Soul

Crypta

Avaliação

9.0

Acredito que todos até a data de hoje sabem da separação da banda Nervosa, que Fernanda Lira e Luana Dametto foram para um lado e Prika Amaral seguiu por outro. Também não vejo necessidades de rivalizar o lançamento de cada banda, apesar que, entendo que isso será quase que inevitável num primeiro instante, mas, nessa resenha deixaremos de escanteio, ok?

Pegando a máquina do tempo, há um pouco mais de um ano, Fernanda e Luana anunciaram um novo projeto com a talentosíssima Sonia Anubis — projeto esse cuja proposta era um som mais calcado no Death Metal Old School. Apostas daqui, “chutômetros” dali, e de repente aparece a menina prodígio, Tainá Bergamaschi, pronto! O novo quarteto-fantástico estava formado e junto a ele, muitas expectativas foram criadas pelos fãs e também curiosos do Heavy metal.

O caótico momento pelo qual a humanidade está passando certamente é um chamariz para excelentes ideias de composições, e você percebe ao escutar “Echoes Of The Soul”, o quão nebuloso e destruidor tudo se faz presente aqui se tornando a trilha perfeita para o nosso estado de espírito, e porque não, para o nosso querido e judiado pescoço. O álbum se inicia com “Awakening”, uma sombria e arrepiante trilha instrumental que se encerra com ar de suspense, sendo cortado com aquele urro característico de Lira, na já conhecida “Starvation”, uma música brutal, daquelas que não deixa pedra sobre pedra, aliás, o trabalho por completo não deixa.

Propositalmente a produção mais seca e “na cara” carrega consigo o ar de naftalina, de algo cuidadosamente guardado, em muitas músicas o ouvinte tem a sensação de ter pegado capsulas do tempo diretamente do final da década de 80 e início da próxima, ou seja, as referências aos gigantes Death, Entombed e Obituary estão aos montes num redemoinho de homenagens e respeito aos mestres, mas sem soar “cópia”, pelo contrário, a originalidade aqui é a lei, ouça a trinca “Possessed”, “Death Arcana” e “Shadow Within”, e perceba o pezinho no Black Metal, o sangue brasileiro em algumas levadas e o mais importante, o tal “sangue nos zoios” tão necessário para se fazer música de verdade.

Em “Under the Black Wings”, por muitas e muitas vezes, eu fechei os olhos e imaginei uma orquestra por trás fazendo a cama para o instrumental mais arrastado que se desenvolve, por diversas vezes me veio “Death Cult Armageddon” do Dimmu Borgir como referência ao meu desejo. “Kali” é mais simples, mas de uma forma não tão literal; é agressiva, a sensação que temos é de uma manada de elefantes estarem correndo em nossa direção pela direita, e pela esquerda temos Tyson, Holyfield e Muhammad Ali prontos para nos fazer de “sparring”. As meninas tinham a intenção de fazer nossos tímpanos sangrarem não se importando como!

A dupla dinâmica, Sonia e Tainá, criaram riffs memoráveis, belos duetos de solos e com certeza abrilhantaram cada nota despejada. “Blood Stained Heritage”, é um excelente exemplo, a cada palhetada é quase claro que essas duas nasceram para estarem juntas, é tipo: “as metades da laranja” (risos). “Dark Night of the Soul” é a faixa que você deve apresentar ao seu amigo curioso, nela ouvimos todos os elementos do disco em uma única faixa, Fernanda urrando, cuspindo fogo e com “cramunhão” encarnado com seu baixo debulhando lindamente, as guitarristas “duelando” e fazendo chover e Luana usando e abusando dos seus pedais, vale um atento, gostaria que o som da bateria estivesse um pouco mais vivo, com mais pegada, como se a cada batida as paredes tremessem, não é nada que tire o brilho, mas acabou ficando um pouco ofuscado em meio a massa sonora.

O disco se encerra maravilhosamente com “From the Ashes”, meu pescoço não aguenta mais, meus ouvidos pedem arrego, mas é inevitável não estar com aquele sorrisão de orelha a orelha que os bons álbuns trazem. A Crypta, a partir da data de 11 de junho, deixa de ser uma aposta e uma curiosidade para simplesmente ser uma grande realidade, algo que devemos aplaudir e reverenciar.

Já diz o ditado das ruas: “Quem corre atrás sempre alcança”.

Formação:

Luana Dametto – Bateria

Tainá Bergamaschi – Guitarras

Sonia Anubis – Guitarras

Fernanda Lira – Baixo, vocais