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Brujeria arrasta multidão em show morno no Rio de Janeiro

Brujeria arrasta multidão em show morno no Rio de Janeiro

27 de agosto de 2023


Crédito das fotos: Daniela Barros/Headbangers News

Após um dia de calor infernal no Rio de Janeiro, onde os termômetros atingiram 50°C durante o inverno, o Brujeria, que está em turnê comemorativa pelos 30 anos de seu álbum de estreia “Matando Güeros”, chegou à cidade maravilhosa, conhecida como um misto de beleza e caos. O Kool Metal Fest, que celebra seu vigésimo aniversário, presenteou os cariocas com esse evento.

O local escolhido não poderia ser mais apropriado: o Circo Voador, uma casa icônica situada na Lapa, área boêmia e de fácil acesso no centro da cidade. Estes fatores, somados às atrações Velho, Gangrena Gasosa e Ratos de Porão, que deram início às apresentações, contribuíram para um público excelente, demonstrando o potencial da cena carioca. Mesmo ocorrendo na última semana do mês, com ingressos a $150 a meia-entrada (um preço justo considerando o número de bandas tocando, embora nem todos que recebem pagamento no quinto dia útil puderam comparecer), a casa estava lotada.

A primeira banda da noite foi o Velho. O quarteto de Duque de Caxias apresentou seu Death Metal Old-school de forma bruta, rápida e agressiva. Subiram ao palco pontualmente às 20:45, quando o público já enchia o local. Rodas de mosh foram formadas e mantiveram-se ativas durante os trinta minutos de show. O som estava bom, especialmente a bateria. Em determinado momento, uma das guitarras enfrentou problemas técnicos, o que levou a banda a tocar como um trio por duas músicas. A resposta do público foi bastante positiva, evidenciando o reconhecimento da banda por muitos ali presentes.

Após uma breve pausa, DJ Cammy Marino assumiu o controle das pickups e tocou alguns clássicos do Metal, como Carcass, Cannibal Corpse e Slayer, preparando o terreno para a Gangrena Gasosa. Às 21h50, a banda subiu ao palco, e mesmo com o local já cheio, o público parecia desafiar as leis da física, com vários corpos compartilhando o mesmo espaço. Com uma presença de palco única, os pioneiros do Saravá Metal carioca demonstraram melhoria constante em suas performances ao vivo, enlouquecendo o público com hits como “Encosto”, “Surf Iemanjá” (dedicada às garotas headbangers), “Headbanger Voice”, “Eu não Entendi Matrix”, “Centro do Pica-Pau Amarelo”, entre outras. Em um incidente, um fã perdeu um tênis, que acabou no palco e foi devolvido por Ângelo Arede. Elogios também não faltaram ao genocida cuja liberdade estava contada. Em cinquenta minutos, a banda deixou o público entusiasmado, preparando o terreno para o Ratos de Porão.

Às 23h05, as ratazanas subiram ao palco e, nas quatro primeiras músicas, transmitiram a realidade brasileira: “Alerta Antifascista”, “Aglomeração”, “Amazônia Nunca Mais” e “Farsa Nacionalista”. Se havia algum patriota na plateia, ele se ocultou ou saiu, pois estava claramente fora de lugar. Na verdade, provavelmente não deveria ter comparecido. Uma roda de proporções comparáveis a um conflito bélico se formou enquanto Jão, Gordo, Boka e Juninho tocavam. Uma hora é pouco para uma banda com quarenta anos de história demonstrar todo o seu poderio musical, mas eles tentaram: tocaram “Crucificados Pelo Sistema”, “Descanse em Paz”, “Morte ao Rei”, “V.C.D.M.S.A.”, “Morrer”, “Guerrear”, “Políticos em Nome do Povo”, “Caos”, “Difícil de Entender”, “Toma Trouxa”, “Expresso da Escravidão”, “Beber Até Morrer”, “Aids, Pop, Repressão” – músicas que solidificaram o RDP como o maior nome do Crossover brasileiro e, independente das preferências dos headbangers conservadores, também como a maior banda brasileira da atualidade. Após a energia intensa do Ratos de Porão, o Brujeria tinha uma difícil missão pela frente.

Pouco depois da meia-noite, uma chuva torrencial começou a cair do lado de fora do Circo Voador, aumentando a lotação na parte coberta da casa enquanto todos aguardavam os “narcotraficantes mexicanos procurados pelo FBI”. Com um atraso de dez minutos, o Brujeria subiu ao palco para executar praticamente na íntegra seu primeiro álbum, “Matando Güeros”, que completa 30 anos em 2023. A faixa-título foi a única exceção, não sendo tocada nesse primeiro bloco, que se encerrou com a vinheta “Están Chingados”. Após uma breve saída de palco, retornaram com “La Migra”, “Colas de Rata” e “Echando Chingazos”. Com todo respeito ao “trintão”, as músicas do “Raza Odiada” soaram consideravelmente melhores ao vivo do que as do álbum homenageado. Não apenas em termos de execução, que foi bastante fiel ao original, com exceção dos vocais que não estavam tão bons, mas também em relação à reação do público, que foi mais calorosa com o segundo álbum. A parte teatral do espetáculo superou a execução das músicas, com quase todos os membros da banda usando máscaras, realizando danças e exibindo facões durante a música “Matando Güeros” ou fazendo uma versão hilária de “Macarena”, transformada em “Marijuana”. O show ficou aquém das expectativas, e se não fosse pelo apego à nostalgia, poderia ter sido ainda mais decepcionante.

Apesar disso, nem tudo foi negativo no show do Brujeria. Os músicos eram habilidosos, especialmente a seção rítmica: o baixo e a bateria soaram muito bem. Os três vocalistas, Juan Brujo, Pinche Peach e El Sangrón, mostraram bom humor, interagindo com o público e demonstrando simpatia. Pinche Peach, que por acaso lembrava muito Ronnie James Dio, até brincou ao perguntar quem na plateia fumava maconha, ressaltando que não era necessário mentir, já que pais e mães provavelmente não estavam presentes, o que arrancou risadas de todos. O álbum “Matando Güeros” é desafiador tanto de se ouvir quanto de se executar ao vivo, e isso pode ter afetado o desempenho da banda. Ratos de Porão e Gangrena Gasosa conseguiram animar mais a multidão do que os headliners.

Mesmo assim, a noite foi histórica. Afinal, não é todo dia que se tem a oportunidade de assistir a duas das bandas mais importantes da cena pesada brasileira, juntamente com outra que também deixou sua marca na história. E o melhor de tudo, com a casa cheia. É lamentável que os membros originais do Brujeria não tenham continuado com o projeto. Quem teve a chance de ver Shane Embury, Billy Gould e Raymond Herrera juntos tem uma história para contar. Isso também vale para aqueles que testemunharam o Kool Metal Fest no Rio de Janeiro.

Galeria do show