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L7 em São Paulo: Uma explosão de atitude punk e feminista

L7 em São Paulo: Uma explosão de atitude punk e feminista

22 de outubro de 2023


Na noite de sexta-feira (20/10), São Paulo foi sacudida por uma explosão de atitude punk quando a lendária banda L7 deu início à sua nova turnê sul-americana no Carioca Club. O público ansioso lotou o local, ávido para presenciar um dos ícones musicais dos anos 90.

A abertura do show ficou a cargo de dois grupos clássicos do rock nacional: Cólera e As Mercenárias, que aqueceram o público.

Cólera é uma influente banda brasileira de punk rock, originária de São Paulo em 1979. Fundada por Redson Pozzi, responsável pelos vocais e guitarra, a banda é considerada uma das pioneiras do movimento punk no Brasil. Ao longo de sua carreira, Cólera lançou vários álbuns de estúdio e se destacou por suas letras politicamente engajadas, além de sua música agressiva e direta.

Apesar das mudanças na formação ao longo dos anos, Redson Pozzi permaneceu como líder e figura central do Cólera até seu falecimento em 2011. Mesmo após a partida de Redson, o grupo manteve viva sua herança, contando com Pierre na bateria, o único integrante que permanece desde 1979.

Canções notáveis como “Pela Paz em Todo o Mundo,” “Submissão,” e “Quanto Vale a Liberdade?” fizeram parte do repertório da apresentação.

As Mercenárias, por sua vez, foram pioneiras na cena underground e pós-punk brasileira. Formada em São Paulo em 1983, o grupo se destacou por sua sonoridade experimental e letras provocativas. Da formação original, apenas a baixista e vocalista Sandra Coutinho permanece.

Entre as músicas interpretadas por elas, destacaram-se a emblemática “Me Perco,” além de “Polícia,” “Santa Igreja,” e “Eu Não Consigo Mais Dormir.”

A performance do grupo foi incrivelmente envolvente, tanto em termos de interpretação vocal quanto de presença no palco. Até a tecladista e vocalista convidada Bibiana Graeff se aventurou em um “stage diving,” elevando ainda mais a energia da plateia.

Então chegou a hora do ato principal, colocando em minha cabeça uma reflexão. Muitos se questionam se a banda L7 pode ser realmente enquadrada no movimento grunge. Na minha perspectiva, essa associação não se sustenta, uma vez que o grupo demonstra uma afinidade maior com as raízes do punk, particularmente o movimento Riot grrrl. Este último é uma subcultura que entrelaça elementos do feminismo, música punk e ativismo político. Portanto, a identificação do L7 com o punk e o movimento Riot grrrl parece mais precisa do que simplesmente rotulá-las como parte do grunge.

Creio que naquele período, rotulá-las de alguma forma foi mais uma jogada mercadológica do que a realidade daquilo que elas apresentavam na música. Isso ficou evidente no show realizado no Carioca Club, no qual todos os elementos característicos do punk rock estavam claramente presentes. A atitude rebelde, a energia contagiante, a rapidez, as músicas diretas e cativantes com acordes básicos, bem como a entrega entusiasmada ao público, tudo isso destacou a essência do punk rock na apresentação da banda.

O ativismo que permeia a carreira da banda serve como inspiração para novas gerações de mulheres e homens que buscam igualdade de gênero e justiça social. O L7 sem dúvida é um farol de resistência e mudança, uma força que continua a desafiar as normas e a questionar o status quo. É um lembrete de que se você se dedica, algumas coisas não envelhecem, e a mensagem destas mulheres permanece tão relevante hoje quanto era nos anos 90.

Essa afirmação pode ser respaldada pela inclusão da faixa “Dispatch from Mar-a-Lago” no setlist da banda. Essa música é uma crítica direta ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e foi lançada como single em 2017, marcando o retorno do grupo após um hiato de 14 anos. O que mais se pode dizer? Mais punk do que isso, impossível!

Outra faixa do álbum “Scatter The Rats”, lançado em 2019, é “Stadium West”, marcando o mais recente trabalho do grupo desde o seu retorno com a formação que conquistou as paradas de todo o mundo nos anos 90. Essa música também foi lançada como um single e possui um videoclipe disponível no YouTube. Isso me faz recordar o quão desafiador era naquela época, quando a banda surgiu, acompanhar os videoclipes no momento em que eram exibidos na televisão, já que tínhamos que gravá-los em fitas VHS, a menos que estivéssemos em casa. Hoje em dia, ouvir uma música é tão fácil e banal, demonstrando como os tempos e os hábitos mudaram completamente.

Mas esta turnê do L7 é um “Best Of”, o que implica que o repertório foi recheado de clássicos da carreira da banda. São canções que moldaram várias gerações e que ainda ressoam com um público que cresceu ouvindo o distintivo som do grupo. Eu mesmo faço parte da geração que acompanhava a MTV Brasil, onde faixas como “Everglade” e “Pretend We’re Dead” eram a trilha sonora da época. Confesso que me emocionei ao ouvir a maioria das músicas do álbum “Bricks Are Heavy”, que é um dos meus discos favoritos, um verdadeiro clássico em minha coleção.

Esta atual turnê do L7 pela América do Sul, realizada pela Vênus Concerts, é um testemunho do impacto duradouro que a banda teve na cena musical. Sua energia e empoderamento continuam a ressoar com os fãs, tornando o show em São Paulo uma noite inesquecível e celebração da música que transcende gerações.

Formação L7:
Donita Sparks – guitarra/vocal
Suzi Gardner – guitarra/vocal
Dee Plakas – bateria
Jennifer Finch – baixo

Setlist L7:

1. Deathwish
2. Andres
3. Everglade
4. Scrap
5. Shove
6. Stadium West
7. One More Thing
8. Mr. Integrity
9. Slide
10. Can I Run
11. Human
12. Bad Things
13. Monster
14. Fuel My Fire
15. Fighting the Crave
16. Drama
17. Non-Existent Patricia
18. Wargasm
19. Pretend We’re Dead
20. Dispatch From Mar-a-Lago
21. Shitlist

Bis:
22. American Society
23. Fast and Frightening

Galeria do show