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Explodindo confissões e sentimentos, o Touché Amoré se conecta ao público em SP

Explodindo confissões e sentimentos, o Touché Amoré se conecta ao público em SP

13 de maio de 2025


Crédito das fotos: Day @a_meninadasfotos/Musicult

Dia 10/05, os americanos do Touché Amoré voltaram a se apresentar em São Paulo após mais de uma década. A banda da Califórnia, que eleva o post-hardcore a um nível caoticamente sentimental, contaria com duas bandas nacionais que, mesmo eu sendo um grande admirador da cena underground nacional, ainda não conhecia: o triste, porém dançante Janeiro Industrial e o caótico e enérgico De Carne e Flor.

Às vezes, eu sinto que há semanas em que a existência pesa mais que o habitual. Sinto como se estivesse arrastando os pés pela rotina que insiste em se repetir, cercado pelas minhas obrigações regulares. O despertar parece que não é um recomeço, mas uma continuação automática. Sinto que estou sempre com a minha agenda cheia, sempre atrasado, e sigo trabalhando para tentar encobrir a avalanche de pensamentos que insistem em me inundar nessas semanas. É nessas horas que reflito sobre o peso que a música subtrai de tudo isso.
E foi após viver uma dessas semanas que me vi dirigindo pelo centro de São Paulo em direção ao City Lights para ver o Touché Amoré.
A cidade parecia o que eu passei durante a semana: um caos devido a pontuais pancadas de chuvas torrenciais que caíam, além da região da Barra Funda estar entupida de fãs do System Of A Down, que se encaminhavam para o Allianz Parque para ver a primeira das três apresentações da banda na capital paulista em 2025.

A música sempre foi a melhor maneira de catalisar tudo que me perturba, e bandas como o Touché Amoré, que transbordam sinceridade, energia, raiva e fúria, têm a capacidade de transmitir isso ao vivo.

Na porta da casa, reafirmei o que a produtora NDP — que vem fazendo um trabalho excelente com artistas de diversos estilos em shows extremamente pontuais — postou falando sobre a expectativa para esse show: sold out, casa cheia, seria uma noite insana.

O Janeiro Industrial abriu os shows com a casa começando a receber o público da noite. A banda de Sorocaba apresenta um som emo, bem influenciado por bandas como Title Fight e Fleshwater. Apresentando um repertório de 7 músicas, a banda trouxe trabalhos do seu EP “Alteridade”, de 2024, músicas novas e um cover contagiante de “Whole”, do Basement.

Logo após a rápida e excelente discotecagem da Downstage, sobe no palco o De Carne e Flor. De início, o vocalista Bruno destacou um pouco seu nervosismo, o que é totalmente aceitável dado o relato da importância do Touché Amoré para a banda paulista. Toda a timidez que senti vindo da banda evaporou na primeira música, “A Última Canção do Mundo Não é Essa”. Bastaram poucos minutos da banda no palco para que eu torcesse meu rosto, soltasse um ar sincero pelo nariz e olhasse para meus amigos que acompanhavam o show comigo e falasse: “nossa, isso é muito bom”.
Para os fãs de post-hardcore e Alexisonfire, o De Carne e Flor é um prato cheio e mereceu ser adicionado às minhas playlists — realmente vou dar a devida atenção. Vocais rasgados, bateria devidamente espancada e riffs tocados e divididos precisamente em duas guitarras deixavam os graves do baixo bater na cabeça diversas vezes no show. Foram 8 músicas que tocaram e senti que poderia ouvir mais 8 nessa noite, dada a entrega da banda.

A casa já estava tomada por um público bem animado quando os organizadores do show vieram ao palco informar que, por ter tido sold out, algumas pessoas ainda estavam entrando, e por isso o Touché Amoré estava aguardando para subir ao palco. Poucos minutos depois, o público começou a cantar um caloroso “olê olê olê, Touché, Touché”, dando a calorosa recepção que os gringos recebem aqui.
O Touché Amoré entrou em palco com o vocalista Jeremy Bolm pronto para liderar o caos que eles implantariam em São Paulo.
Bastaram os primeiros acordes da música de abertura “~” para que diversas pessoas invadissem o palco para se afogarem na multidão com stage dives insanos. Centenas de pessoas sorrindo e se identificando com a imersão nas músicas e a sinceridade das letras da banda americana.
A interação entre o público e os músicos era recíproca. Jeremy interpretava letras intensamente pessoais e carregadas de emoção, sempre com um sorriso no rosto ao longo da apresentação. A sensação era de que a barreira física diante do palco funcionava como um espelho simbólico, refletindo a ligação profunda entre a banda e a plateia.
O que mais me faz gostar do Touché Amoré é essa entrega de sentimento verdadeiro, visivelmente expresso por Jeremy. É fácil se sentir identificado com alguma letra ou passagem da banda durante o setlist. Eu mesmo me vi gritando a plenos pulmões o trecho final de “Pathfinder”: “Late nights and all night drives, are the reason why I’m alive, and I’m not going anywhere”.
Cada música me soava como se estivesse tendo uma confissão sem escudos ou defesas, algo que não é fácil de encontrar em outras bandas. E tudo isso acontecia enquanto o mosh comia solto no City Lights. O show do Touché Amoré não é um show que você simplesmente assiste — você o vive intensamente.
Ao longo das 21 músicas tocadas, ficou difícil de acreditar que a banda estava no último dos 8 shows apresentados em sua turnê pela América Latina.
Após tocarem pelo México, Guatemala, Panamá, Colômbia, Peru, Chile e Argentina, o Touché Amoré cantou sua última canção, “Flowers and You”, em São Paulo e, mais uma vez, me vi cantando, totalmente hipnotizado e identificado com as dores que saem aos gritos da música.
Toda aquela sensação de cansaço, rotina pesada, noites mal dormidas, são totalmente dizimadas quando temos essa troca de energia na música. O Touché Amoré apresentou, tranquilamente, um dos melhores shows que vi este ano. E ainda ganhei duas bandas nacionais para acompanhar o trabalho.

Setlist – Janeiro Industrial:
1) Deitou sem sono
2) Medianeiras
3) Whole (Cover de Basement)
4) Olvidar
5) Sorocaba
6) Supernova
7) Meia-noite

Setlist – De Carne e Flor:
1) A última canção do mundo não é essa.
2) A âncora que jogamos.
3) Nas poças se transforma.
4) Furores perdidos.
5) Orquídea.
6) Um teto não familiar.
7) Sinos.
8) Teto, pt 2.

Setlist – Touché Amoré:
1) ~
2) New Halloween
3) Nobody’s
4) Green
5) Amends
6) Praise / Love
7) Reminders
8) Hal Ashby
9) Home Away From Here
10) Disasters
11) Harbor
12) And Now Its Happening in Me
13) Uppers/Downers
14) Come Heroine
15) Just Exist
16) Pathfinder
17) Palm Dreams
18) Rapture
19) Limelight
20) Honest Sleep
21) Flowers And You

Galeria do show