Entrevistas

Angel Sberse (Malvada): “Quem sabe não é a nossa vez de reanimar o rock nacional?”

Angel Sberse (Malvada): “Quem sabe não é a nossa vez de reanimar o rock nacional?”

29 de setembro de 2022


Carlos Pupo/Headbangers News

Com dois anos e meio a Malvada já tem em seu currículo um álbum muito bem recebido, shows com grandes nomes do Rock e Metal nacional, como Viper e Golpe de Estado, além do grande momento deste quarteto, que foi a participação na última edição do Rock in Rio. Batemos um papo legal com a vocalista Angel Sberse, que nos contou sobre esse início fulminante, como sua aparição no The Voice Brasil, aceitação por se tratar de uma banda feminina em um país extremamente machista e de se firmar como o grande nome do Rock brasileiro. Confira!

Angel, a Malvada acaba de fazer história ao tocar no maior festival de música do planeta, o Rock in Rio. Como foi a experiência para a Malvada, logo no início da jornada da banda?

A gente tem dois anos e meio de banda, a Malvada surgiu no meio da pandemia. Nós temos só um disco e lançamos um novo single agora. Tocar no Rock in Rio é o sonho de qualquer músico. Foi o maior palco que tocamos, na questão da dimensão, o alcance. Foi muito bom e muito tenso também. Foi o show que nos deixou mais tensa, pela grandiosidade. Mas já estamos tendo um retorno interessante, encontramos pessoas que foram ao Rock in Rio e viram nosso show pela primeira vez. Já tem gente nova chegando no nosso canal, ganhamos muitos novos seguidores, o número de ouvintes nas plataformas de streaming aumentou demais.

O legal é que vocês fazem esse tipo de desenvolvimento. São vocês mesmas quem fazem ou vocês têm alguém que faz esse trabalho?

Nós temos uma equipe que acompanha nossas redes sociais. Chegou em um momento que a gente não consegue fazer isso tudo sozinhas. Temos uma equipe com a qual sentamos e fazemos toda a programação mensal. Temos uma pessoa que traz as demandas e diz que tipo de vídeo devemos gravar e ela coloca tudo no ar para nós. Temos duas pessoas que são responsáveis pelo tráfego e em paralelo nós também fazemos a nossa parte em nossas redes sociais.

O álbum “A Noite Vai Ferver” mostra uma banda coesa, com boas composições e extremamente bem executado. Como tem sido a recepção ao álbum?

Foi muito boa desde o início. Quando lançamos o primeiro single foi engraçado porque a banda ainda nem existia e já tinham pessoas já falando mal de nós sem nem ter ouvido a nossa música. O roqueiro é engraçado, o roqueiro/ metaleiro prefere falar mal antes de ouvir e quando ouve fica se questionando se é bom porque é novo e o novo assusta. Quando veio o álbum, o retorno foi bem bom, nós tocamos com o Golpe de Estado, com o Viper, com o Ira!, tocamos em lugares legais. O álbum em si foi uma realização, era o primeiro disco da Malvada e a gente estava se descobrindo. A Bruna (Tsuruda, guitarrista) nunca tinha gravado nada. Eu e a Juliana já tivemos outras bandas autorais, mas foi um lance legal pois cada uma traz consigo uma influência e juntamos um pouco de tudo para criar essas músicas.

Embora o inglês seja a língua que domina entre as bandas de Rock, a Malvada optou por cantar em português. A banda pensa só no mercado interno ou há planos mais ambiciosos?

Então, a gente chegou nesse papo no início da banda, qual seria o nosso foco. Porque se a gente focar no inglês que é como estamos acostumados, a gente teria que pensar no mercado externo e pensar em sair do Brasil. Mas pensamos que dá para fazer um bom Rock em português, queremos ocupar um espaço que está vago. A gente vê no Brasil que tem décadas que alguma banda alcança o topo. Por exemplo, antes tivemos o Raimundos e o Charlie Brown Jr., dez anos depois veio a Pitty, dez anos depois veio Fresno e NX Zero e passaram mais dez anos e não tem mais ninguém. Então quem sabe não é a nossa hora de reanimar o Rock nacional. Eu acho importante a gente valorizar a nossa língua e é mais fácil para (o público) entender. É mais difícil compôr em português, porque é uma língua mais complexa.

O próprio Rock pede o inglês…

É porque estamos acostumados com o inglês, as nossas influências são todas em inglês. Quando eu vou compor, eu não faço como os autores do Brasil, que escrevem a letra e depois fazem a música, pois desta forma fica parecendo um poema. O meu foco sempre foi em melodia. Eu penso em melodia, as minhas influências são internacionais e aí depois eu boto a letra. Talvez por isso não soe tão “abrasileirado”.

Angel, você participou de uma das edições do The Voice Brasil, fazendo muito bonito, diga se de passagem. Quanto aquela experiência lhe tem ajudado na sua carreira?

Eu participei do The Voice em 2020 e esse ano eu participei do Canta Comigo, da Record. Tem gente que fala “ah, eu não vejo TV, que TV não dá retorno”. Dá sim. Na minha opinião, qualquer vitrine que você puder botar a cara, você tem que ir. Quem não é visto, não é lembrado. A Globo é a maior vitrine da América Latina. A oportunidade que eu tiver de ir, eu vou, porque abriu muito as portas, tanto para mim quando para a Malvada. Essas aparições ajudam sim e acaba por ajudar por tabela na banda. Ainda mais se for lugar que não tem Rock, aí eu penso, vou lá e vou cantar Rock até o final.

Aqueles jurados entendem algo de música mesmo ou é algo superficial? 

É mais superficial. Quem entende um pouco mais ali é o Carlinhos (Brown), embora eu achasse que era o Lulu Santos, tanto que eu o escolhi. Mas na verdade quem fala mais comigo são os produtores. Os cantores nos escolhem e quem trabalha conosco as músicas são os produtores. Os cantores só aparecem mesmo no programa. A gente tem pouquíssimo contato com eles.

A Malvada foi formada logo no início da pandemia, em um cenário repleto de incertezas. Você esperava alcançar os resultados que a banda alcançou e o status de hoje em dia?

Eu acho que foi muito rápido, eu já tive outras bandas e foi bem mais difícil. Eu acho que foi um somatório de coisas. Quando montamos a Malvada, eu tinha acabado de entrar no The Voice, eu estava no meio do negócio, então uma coisa ajudou a outra. Não adianta eu dizer que não. Se eu não tivesse a banda naquele momento, talvez as coisas não tivessem acontecido tão rapidamente. Somos uma banda de mulher, que faz Rock em português, é uma coisa que não tem no mercado brasileiro. Isso ajuda a propagar e está abrindo portas. Está sendo uma influência para outras mulheres e é até legal para os contratantes de shows. Não foi fácil, a gente tem um produtor que trabalha por nós e também trabalhamos muito o nosso visual nas redes sociais. Estamos muito antenadas nos movimentos, nas “trends” e engajar cada vez mais. E estamos tocando todos os finais de semana, isso ajuda a propagar mais a banda.

O Rock é um estilo demasiado machista em um país igualmente machista. Como vocês tem encarado os ataques dos que não aceitam a mulherada fazendo bonito no Rock?

No começo foi pior, as pessoas julgavam muito antes de nos conhecer. Hoje ainda existe muito machismo, inclusive das mulheres, pois algumas delas acham que a gente não pode se vestir bem ou com uma roupa sensual e tocar. Porque os homens tocam com calça de couro, sem camisa, eles fazem o que eles quiserem e a mulherada acha maravilhoso e a mulherada “não pode fazer isso”. Então existe um preconceito e uma coisa enraizada, mas a galera está ouvindo e achando legal, porque as bandas femininas que estão emergendo são as de Metal extremo, como a Nervosa. E as pessoas sempre perguntam se há semelhanças por conta dos nomes das bandas, mas o som não tem nada a ver. A gente é uma banda de mulher e esperamos que venham muitas outras para quebrar os paradigmas.

Caike Scheffer/Divulgação

Ao escutar a Malvada, a gente percebe vários elementos do Grunge. Vocês tem uma mescla… 

Engraçado você falar de Grunge, eu sempre digo minha alma é Grunge. Minha banda favorita era o Alice in Chains e agora eu estou no Foo Fighters, então é uma derivação. Se você reparar as minhas harmonias vocais, perceberá a influência do Alice in Chains. Então parte de mim um pouco de Grunge com o Hard Rock, além de algo mais moderno, porque eu também gosto muito de Metal moderno, como Korn, New Metal, eu gosto muito de coisas mais atuais. Eu sou. Mais velha da banda, então peguei todas as fases. A Bruna já gosta mais de Blackmore’s Night, Jimi Hendrix, ficou essa mescla. Mas essa pitada Grunge não é por acaso, está no meu coração.

Vivemos tempos sombrios não só na nossa política, mas na sociedade de um modo geral. A Malvada não se posiciona em suas letras, mas o que a Angel pensa a respeito dessa polarização vivida no país?

Eu sempre parti do princípio que não poderia tomar partido disso nas letras porque a gente nicharia demais o nosso público e a música vai além disso. Eu não acho que toda banda tem que ser uma banda de protesto. Eu gosto de falar de coisas do cotidiano. A nossa música nova (a letra) é sobre um relacionamento. Mas também tem músicas que eu falo sobre perseverar, tem letras que falam sobre inveja. A questão da política, não é que a gente não se posiciona, a gente não fala isso nas letras… Mas a gente é #forabolsonaro (risos).

Eu sempre falo que o Rock and Roll tem um instinto rebelde, sempre vai ser contra aquele que tenta reprimir algo…

Sim, a gente também acha isso e quando me perguntam se a gente é feminista. Se a gente falar que não é, é mentira, mas também não sou aquelas rebeldes. A gente é uma banda de mulher, já está ali a resposta.

 

Vocês acabaram de lançar um single novo, “Perfeito Imperfeito”, onde a banda aborda uma sonoridade mais pesada, densa. Foi algo proposital? A banda pretende soar desta maneira no próximo lançamento ou foi algo pontual?

Sim, na verdade a gente pretende mudar o som da banda mesmo. A gente quer sair mais do antigo e fazer um som moderno. A gente fez esse single com a produção do Gui Daga, que já foi premiado no Grammy latino e ele sugeriu que a gente abaixasse a afinação, que era algo que eu já queria fazer há algum tempo. Eu gosto de afinação baixa, acho que dá mais peso e é a característica de som que eu gosto. Mas a gente tem pessoas na banda que gostam de Classic Rock, então no ‘A Noite vai Ferver’ a gente manteve a afinação em mi bemol e essa música nova é em dó. Ficou legal, deu outra cara, a gente colocou elementos eletrônicos. Eu amo um som mais moderno, estou super feliz com essa mudança. Nós mudamos inclusive o visual, estamos usando maquiagens diferentes. A gente quer trazer algo novo e a ideia é seguir nesse direcionamento para o disco novo.

A banda já está trabalhando no álbum novo. O que vocês podem nos adiantar?

Ainda não porque estávamos com foco no Rock in Rio. Estávamos com um trabalho absurdo, lançamento de música nova, trabalhamos pra caramba no clipe e apresentar algo novo no Rock in Rio. Foi lá que tocamos a música nova pela primeira vez. Temos ainda alguns compromissos para cumprir e depois vamos sentar para planejar e gravar o álbum. Mas não sai esse ano, vai ficar para o ano que vem.

 

Por fim, gostaríamos de agradecer pela entrevista e o espaço é seu. Fale com o fã da Malvada que está lendo essa entrevista.

A gente está tendo um apoio muito grande do público e cada a gente vê mais pessoas nos shows usando as camisetas da banda. Tivemos uma surpresa no nosso último show, chegamos para tocar a música nova e tinha gente na plateia cantando junto, então foi muito legal, em todos os lugares a gente sente esse carinho. Por mais que tenham pessoas que julgam e falam mal sem nos conhecer… Ninguém é obrigado a gostar de tudo, tem gente que não guarda para si a sua opinião, vai lá e fala mal, mas a gente sente muito mais o lado positivo do que o negativo