Entrevistas

Bandas femininas: combatendo o preconceito

Bandas femininas: combatendo o preconceito

19 de outubro de 2017


O rock e o heavy metal tem entre seus ícones mulheres que marcaram gerações e que ainda influenciam muita gente pelo mundo afora. Joan Jett, Lita Ford, Doro Pesch, Cristina Scabbia, Tarja Turunen, e uma lista sem fim de grandes artistas que foram pioneiras ou que seguiram o legado daquelas que abriram o caminho na indústria da música.

The Knickers, banda de rock formada em 2007, em Fortaleza, Ceará

Rebeca Cunha/Divulgação

The Knickers, banda de rock formada em 2007, em Fortaleza, Ceará

Mas bandas exclusivamente femininas ainda enfrentam narizes torcidos e os famosos “haters” nas redes. Obviamente o machismo perdura em todos os níveis de nossa sociedade, mesmo em 2017 ainda podemos ouvir depoimentos que corroboram que o metal ainda tem um longo caminho para derrubar todas as barreiras.

Conseguimos falar com duas representantes de bandas onde só as mulheres dominam todos os instrumentos e as composições. Alinne Madelon, vocalista da banda cearense The Knickers, e Mylena Monaco, que comanda os vocais das paulistanas do Sinaya, puderam expor suas experiências e compartilhar suas motivações e sentimentos.

Sinaya, banda de Death Metal fundada em 2010, em São Paulo

Thiago Mann/Divulgação

Sinaya, banda de Death Metal fundada em 2010, em São Paulo

Como é estar em uma banda só de mulheres no Brasil?

Alinne : Acho que, acima de tudo, é resistência, é poder falar o que queremos e acreditamos, é empoderar mulheres e meninas a estarem nos palcos ocupando espaços, falando suas mensagens de igualdade ou seja lá qual for.

Alinne Madelon, vocalista da banda cearense The Knickers

Kaori Lenne/Divulgação

Alinne Madelon, vocalista da banda cearense The Knickers

Qual é a receptividade do público de thrash para uma banda feminina? Vocês sentem alguma diferença, preconceito ou já foram rotuladas?

Mylena: No início tinham algumas pessoas na internet, os famosos ”haters”, mas hoje em dia é muito difícil. O público tem respeitado muito a nossa música, o nosso trabalho. Na verdade o maior preconceito tem vindo de produtoras ou seguranças das casas, veem que é uma mulher e acham que é groupie. Produtora que barra em show em que você está na lista de convidados simplesmente porque você é mulher (risos) é bem engraçado!

Mylena Monaco, da banda paulista Sinaya

Helena Accioly/Divulgação

Mylena Monaco, da banda paulista Sinaya

Quais são as maiores dificuldades enfrentadas por uma banda somente com integrantes femininas e como fazem para contorná-las?

Mylena: Uma delas o que citei anteriormente, o fato de você ter que ”provar” que não é groupie, que você está ali pra tocar ou assistir ao show de bandas de amigos seus, ou fazer contatos, ou entrar no backstage dessas bandas como convidada e muitas vezes isso não ser natural. Mas no final dá certo porque temos muitos amigos e pessoas que sabem quem somos e o que fazemos e acabam nos ajudando a contornar a situação.

Alinne: As dificuldades são inúmeras: verba para produzir um material de qualidade, conciliar vida pessoal e trabalho. Todas nós temos um trabalho formal, não vivemos só de música. Temos filhos e ainda lidar com a luta diária contra machismo que está em todos os ambientes, seja no metal ou no trabalho. A melhor forma de lidar com tudo é saber se programar e nunca se calar quando surgir situações desagradáveis.

Recentemente o Sinaya retornou de uma turnê fora do país, como foi?

Mylena:  Sim, em 2016 fizemos uma tour de um mês passando por Argentina, Bolívia e Peru. Foi incrível, aprendemos muita coisa! Tivemos momentos ruins e bons, mas em todos eles pudemos aprender muita coisa e conhecer muita gente. Eu tive problema de saúde durante alguns dias e mesmo assim tive que contornar e cuidar da minha voz pra poder continuar fazendo os shows. É sempre bom sair da sua zona de conforto, da sua casa, do seu sofá, é ali que você aprende a amadurecer e é aí que você sabe se aguenta o tranco ou não! (risos)

Em Novembro The Knickers abre para o Accept em Fortaleza. Quais são os planos para o futuro da banda quanto a álbuns e shows?

Alinne: Ultimamente estamos com alguns shows marcados. Em novembro tocaremos no Ponto CE junto com o Accept, banda que super amamos, e será um honra total compartilhar esse momento. Temos muitos projetos para ano que vem, lançamento de material novo, clipe e muito mais!

Para outras mulheres que queiram seguir o mesmo caminho, qual é a mensagem que gostaria de deixar?

Alinne: Todas nós somos capazes de estar onde queremos, seja no trabalho, na rua ou na arte! Precisamos nos unir e nos manter firmes, falando de preconceito, homofobia, machismo e desigualdade, não podemos nos calar em lugar algum e de forma nenhuma. Somos bangers, mães, mulheres e donas de nossas vidas e de nosso corpo! Avante Girls lutem!!! Fight For The Life!!!

Mylena: Se ter banda e estar na estrada é o que você quer pra sua vida, não desista! Eu já tive todos os motivos pra desistir e me levantei em todas as vezes. O segredo é trabalhar duro e manter-se firme independente do que aconteça e de quem queira te empurrar pra baixo. Se você faz com amor, dedicação e respeito, sem passar por cima de ninguém, não tem como dar errado.