Entrevistas

Vulcano: A Erupção de um Gigante Brasileiro

Vulcano: A Erupção de um Gigante Brasileiro

6 de abril de 2020


Leandro Cherutti

A banda Vulcano, formada por Zhema Rodero (guitarra), Luiz Carlos Louzada (vocais), Carlos Diaz (baixo), Gerson Fajardo (guitarras) e o novo integrante Bruno Conrado (bateria) lançou agora seu mais recente petardo, o grandioso Eye In Hell. Como o guitarrista Zhema explica em sua entrevista, o álbum foi engenhosamente composto com riffs que já estavam em sua gaveta e com muito cuidado reformulados para se encaixarem em seus respectivos lugares. Eye In Hell pode ser hoje chamado como um dos melhores lançamentos do ano, simplesmente por ser tão atual para os dias de hoje e bem encaixado.  Isto tudo também pode ser atribuído ao produtor Ivan Pellicciotti, que deixou o som limpo, pesado e absurdamente agressivo – como qualquer álbum do Vulcano tem que ser. Conversamos com o mentor do Vulcano, Zhema Rodero, que falou um pouco sobre o álbum novo, inspirações e como uma banda das antigas ainda tem muito á ensinar ás novas gerações! Confira!

“Eye In Hell” é o novo álbum do Vulcano e no exterior já está recebendo críticas muito positivas. Vocês, experientes como são, se preocupam com qualquer tipo de crítica? Independente ela vinda dos fãs ou da mídia especializada?

Eu gosto de ler críticas e resenhas para ter uma noção da percepção de cada pessoa acerca de determinado álbum, mas só. Eu não considero suas comparações e notas atribuídas, eu apenas recolho as percepções congruentes para entender aqueles que estão por traz das resenhas, como pensam, que grau de imparcialidade eles estão usando etc. A crítica ouve minhas músicas com o intelecto os fãs ouvem minhas músicas com a emoção, isso é muito diferente. Eu ficaria extremamente decepcionado se minha música fosse consagrada pela crítica e desprezada pelo fã! Sei da importância que um crítico de música tem sobre o trabalho de uma banda e respeito isso, mas a boa recepção dos fãs é meu objetivo maior.

Vocês se estabeleceram no final dos anos 80 com bandas como Sarcófago com um thrash meio voltado ao black metal. Após mudanças de formação e até um hiato entre 1991 – 1996 vocês lançaram até alguns álbuns que não tiveram o grande apelo que o debute Bloody Vengeance teve. Acho que com Eye In Hell vocês acertaram a fórmula novamente. Que tipo de trabalho vocês tiveram para ter este resultado?

Eis aqui um ponto que gostaria de esclarecer. Os críticos Europeus se referem ao “Eye in Hell” como 11º álbum do Vulcano e se esqueceram do LIVE! de 1985, que também é um “full length e com todas as músicas inéditas! Talvez por conta de que na “Wikipédia” a discografia esta estratificada em álbuns de estúdio, ao vivo, compactos etc. Eu não me importo com isso. A discografia do VULCANO é a que se encontra no “Bandcamp” e então esse é o 17º lançamento. Nosso primeiro foi em 1983. Em 1985 lançamos o primeiro álbum extremo aqui no Brasil VULCANO LIVE. O “Bloody Vengeance” veio em seguida em 1986. O “debut” álbum do Sarcófago foi em 1987 e o Vulcano já estava em seu terceiro álbum extremo, veloz e cheio de “blast beats” – “Anthropophagy”. “Eye in Hell” não tem fórmula, nós não sentamos e planejamos fazer um álbum dessa ou daquela maneira. Aconteceu!

O som em Eye in Hell parece mais limpo e mais evoluído desde o álbum Bloody Vengenace. Claro que evoluir faz parte de muito estudo. A que vocês atribuem esta evolução da banda após tanto tempo na cena, pois preciso elogiar esta nova abordagem ao Death/Thrash Metal neste álbum novo?

Sim, essa clareza do som e ao mesmo tempo pesado e agressivo se deve creditar ao Ivan Pellicciotti que é nosso produtor de estúdio desde 2006. Então é algo dele, da forma que com que ele trabalha, dos conhecimentos técnicos, de timbres etc. Porém se os leitores voltarem a discografia do Vulcano dos atuais lançamentos para os primórdios perceberão que existem ótimas produções e álbuns muito bons musicalmente. Façam isso, álbuns “XIV”, “Wholy Wicked”, “The Alwakening of an Ancient and Wicked Soul”, “The Man, The Key, The Beast’ e “Drowning in Blood”.

https://www.youtube.com/watch?v=m9Pvw_7BPVA&list=PLqytfNFx9Ghxzd2Z1I_CxLzcbsaKa5FHN&index=2

Bride of Satan por exemplo, tem muito do atual Possessed por exemplo. É uma banda que você se inspirou dos dias atuais? Também achei incrível o riff para “Cursed Babylon” – uma das pegadas mais legais do álbum Eye In Hell.

“Possessed” eu não havia escutado ainda, fiz isso agora. Ótimo álbum! Mas não pode se dizer que existem inspirações deles aqui nesse “Eye in Hell” – os dois álbuns foram escritos na mesma época. As músicas deste “Possessed” são muito grandes todas acima de 4 min, já as do Vulcano são ao contrário, abaixo de 3 min.

Mas o mais surpreendente não é só a qualidade do álbum novo, mas como os riffs se destacam nas músicas. Músicas como “Sinister Road,” “Mysteries of the Black Book,” e “Cybernetic Beast” lembram uma mistura de Infernäl Mäjesty misturado com Razor com um som thrash encorpado com melodias do death metal. Você poderia explicar um pouco como surgiram os riffs para estas músicas?

Caramba! Duas bandas Canadenses talvez sejam porque sou fã de “Triumph” e “Rush”, mas a explicação para essa associação é porque essas bandas, juntamente com Vulcano, são todas da mesma época. Os “riffs” aparecem do nada, tipo assim, eu estou “brincando” com a guitarra e então surge um  “riff” que parece ser interessante, ai eu perco um tempo nele para colocá-lo no “time” e as vezes eu não consigo resolvê-lo no tradicional 4/4 então eu vou para um compasso composto e mesmo assim se eu não conseguir resolvê-lo e acrescento mais um trecho e altero as figuras até se encaixa-lo em um compasso complexo 5/4, 7/8. Talvez isso é que torna esses “riffs” um pouco mais interessantes. Eu não desisto deles eu os transformo.

Acho que a sua colaboração com Gerson Fajardo está simplesmente incrível. Quem escreveu a maioria do material do álbum? Você poderia falar um pouco a respeito de como as músicas surgiram?

Eu escrevo os álbuns do Vulcano. Eu não delego isso a ninguém. Pode ser que eu esteja errado, mas é assim que eu consigo manter certa uniformidade no estilo. Como eu disse anteriormente, depois de eu obter um “riff” eu o guardo na minha “gaveta de riffs” e vou colocando tudo lá. Em um dia de mais tranquilidade ou como dizem “inspiração”, eu vou lá nessa gaveta e pego para escutar, aqueles que ainda conseguem chamar minha atenção eu desenvolvo para uma música, início, meio e fim.

Como o novo integrante Bruno Conrado colaborou com a composição das músicas? Você poderia contar um pouco como o restante da banda participou do álbum?

Eu costumo compor uma música e depois escrevo no “Guitar Pro”. Faço uma linha de “drum kit” somente para dar um sentido rítmico na música. Então a primeira pessoa que chamo é o baterista, no caso foi o Bruno. Como era a primeira vez que eu estava gravando com o Bruno, eu dei umas orientações de como gostaria da linha de batera, mas eu não costumo fazer isso e não farei no próximo álbum, uma vez que já me acostumei a tocar com o Bruno. Ele fez os arranjos pessoais dele e fomos ao estúdio. Com a batera gravada é a vez de colocar o Gerson na parada, depois o Diaz e depois o Luiz Carlos. Cada um trabalha em casa em seus próprios arranjos. No final fazemos um cronograma para ir ao estúdio gravar de acordo com a disponibilidade de cada um.

 

Você poderia contar um pouco sobre a produção e mixagem do álbum? A mixagem ficou super clara e com batidas muito limpas.

Eu tenho uma parceria com o Ivan Pellicciotti de “O Beco Estúdio” há muito tempo, inclusive ele foi baixista do Vulcano por três anos. Ele é músico, engenheiro de som e domina com firmeza as técnicas de gravação, mixagem e masterização. Então já no momento de captar os instrumentos ele já deixa os timbres muito próximos daqueles que ele sabe que eu gosto. O Ivan grava dezenas de bandas desde as mais modernas que usam afinações barítono até violão e voz. No Vulcano ele sabe exatamente qual o resultado que queremos para cada álbum. Eu delego 100% a mixagem e a masterização para ele, não me intrometo em nada e ele me envia prévias para escutar e então nesse momento dou alguma sugestão ou alerto sobre algo.

Acho que com o álbum Eye in Hell, não é uma banda das antigas tentando se encaixar nos dias de hoje, mas sim um álbum que deveria ser usado como exemplo para as bandas novas. Você acha que uma banda da velha guarda ainda pode ensinar a fazer metal para bandas de hoje em dia?

Claro que sim! Sempre temos algo para aprender com o passado, nem que seja sobre os erros cometidos ou o conhecimento da precariedade da época ou mesmo sobre truques para driblar a falta de recursos e com o passar dos tempos transformou-se na “cereja do bolo” ou seja aquilo que muitos querem reproduzir atualmente e não obtém o mesmo resultado.

É muito legal ver o Vulcano lançando um álbum tão forte. Quais são os próximos passos?

Obrigado pela oportunidade de estar respondendo essa entrevista e para esse ano já tivemos alguns shows cancelados até mesmo em um grande festival por conta do COVID-19, então estamos aqui de molho preparando novas músicas e trabalhando em um “Long Clip” para o EP “The Awekening of na Ancient and Wicked Soul”. Um abraço a todos os Leitores

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